segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tem Cordel novo aqui no Blog!!!!

UM SONHO EM QUE O DIREITO COMBATE PRECONCEITOS

Eu sonhei que o Direito
Deixava de oprimir
E que assumia outro jeito
De organizar e gerir
A vida em sociedade
Causando felicidade
Fazendo o povo sorrir

Sonhei que chegava ao fim
Seu discurso elitista
Pois através duma ADIN[1]
- contra falsos moralistas-
Passava a ser permitido
O amor, o gozo e o gemido
Pra velho, gay e artista

No meu sonho a linguagem
Não era o ''juridiquês''
E o rito de passagem
Nada tinha de burguês
Pra ser doutor em Direito
Bastava que o sujeito
Do justo fosse freguês

A vestimenta também
Podia ser qualquer uma
Não se obrigava ninguém
Ao 'dever de fazer unha'
Não havia hierarquia
E nenhum grito se ouvia
Contra réu ou testemunha


Aliás nem réu havia
- pois o crime era abolido-
O que no sonho se via
Era outro modo e sentido
De se falar em Justiça
Quando revolta e cobiça
Gerava mal-entendido

A sociedade tinha
Um papel fundamental
Pois a esta não convinha
Alcunhar de marginal
Pobre e desempregado
Jovem, negro e tatuado
Índio e homossexual

Mulher nenhuma era presa
Em caso de abortamento
Nem Promotor, de surpresa
Perseguia ''movimentos''
Direito não era a lei
Nem magistrado era rei
Ou prova só documentos

Havia medi(t)ação
Na solução do conflito
Nada de latim à mão
Cartão vermelho e apito
Só conversa respeitosa
Pois com dois dedos de prosa
Se chegava ao veredito

Mesmo assim o veredito
Não proclamava ''a verdade''
Pois não havia o mito
Da superioridade
Do ínclito julgador
-excelso, sumo, pretor-
Sobre a Humanidade
 
Ninguém tinha ''a excelência''
Para ''dizer o direito''
Tampouco só a ciência
Podia gerar conceitos
O advogado era o povo
Criando o ''direito novo''
Em suas lutas e pleitos

Nas Escolas de Direito
- abertas a toda gente -
Não somente eram aceitos
Textos de prosa corrente
Mas poesia a granel
Pois o dito bacharel
Também era um ser que sente

Nas aulas o conteúdo
Vinha da vida real
Alunos não eram mudos
Nem professor maioral
A proposta era o diálogo
Pois em sentido análogo
Agia o profissional

No sonho ''o outro'' existia
E não era sufocado
Não havia regalia
Para o ''especializado''
Pois para ''fazer Justiça''
- diverso da corja omissa-
Basta ser humanizado

Por fim, sonhei que meu sonho
Não só a mim perseguia
Pois apesar de medonho
Em outras mentes surgia
Logo, já não vi defeito
Se em tanto sonho o Direito
Preconceitos combatia!

Salete Maria (julho/2011)


[1]ADIN, neste cordel, significa Ação Declaratória de Insatisfação Popular