sexta-feira, 8 de novembro de 2024

ASSÉDIO MORAL NO MUNDO ACÃODÊMICO: O CASO DA UFBA!


 ASSÉDIO MORAL NO MUNDO ACÃODÊMICO: O CASO DA UFBA!

 


Este cordel é um grito
Que precisa ecoar
Não pode ficar restrito
Preso em qualquer lugar
É pedido de socorro!
Mas também é um esporro
Em quem tenta nos calar


É um texto fruto da dor
E da indignação
Contra o psicoterror
- esta forma de opressão -
Que no mundo laboral
E na luta sindical
Merece muita atenção!


Leciono sobre o tema
Pesquiso e sofro também
Posso falar, sem problema
Em verso, prosa e além
Pois o assédio moral
Tem causado muito mal
Pra quem não lhe diz amém


Trata-se de uma conduta
De caráter abusivo
Que emerge na labuta
Em espaço educativo
Mas onde quer que se dê
Faz muita gente sofrer
De modo superlativo


Seja por hostilidades
Gestos ou comportamentos
Que atingem a dignidade
Do alvo em cada momento
Mexe com o emocional
No contexto funcional
Gera dor e sofrimento


Sobre causas/consequências
Existem alguns consensos
Nas variadas ciências
E seus estudos mais densos
Sobre múltiplos fatores
Todos favorecedores
De aguerridos dissensos


Porém nem todo conflito
Gera assédio moral
Mas o que deixa implícito
Que somente o maioral
Que concentra o poder
Pode, a seu bel-prazer,
Destruir o seu “rival”


É sobre dominação
Controle e violência
É sobre perseguição
Isolamento e ofensa
É sobre impunidade
Conivência e falsidade
Onde o assédio compensa


Desigualdade entre pares
Concorrem para a mazela
Privilégio seculares
Também promovem querelas
Além do autoritarismo
E do patrimonialismo
Que sempre deixam sequelas


Quando grupos hegemônicos
Se encastelam no poder
Com seus discursos icônicos
Que fazem o mundo tremer
Ninguém mais pode falar
E tampouco questionar
O que é preciso rever


Coitado de quem ousar
Tentar pedir transparência
Ou de quem sinalizar
Que há falta de coerência
Entre o dito e feito
Ou reivindicar direitos
Com firmeza e persistência


Muitas pesquisas existem
Sobre o modus operandi
E como os alvos resistem
Enquanto o terror se expande
E quais medidas tomar
Ou a quem denunciar
No seio da Casa Grande


No universo acadêmico
A prática é super comum
É fenômeno epidêmico
Não é mero zunzunzum
Na UFBA é alarmante
Pois os dados são gritantes
Mas não há socorro algum


Além dos casos que listo
No livro que eu lancei
Para falar sobre isto
Muitos anos estudei
Por isso posso dizer
Aqui é grande o sofrer
E sinceramente cansei!


Cansei de pedir que apurem
Os fatos que já narrei
E que a mim assegurem
Provar que há foras-da-lei
Que agem como bem querem
Em um núcleo de mulheres
Que são amigas do Rei


E como tal se autorizam
Perseguir e isolar
Quem elas não simpatizam
Ou não se deixa domar
Por membros da panelinha
Que formam a igrejinha
Onde ninguém pode entrar


Cansei de ser preterida
Excluída e massacrada
Mesmo frequente na lida
Raramente mencionada
Cansei de ser correria
Reclamando isonomia
E sendo a mais cancelada


Cansei de solicitar
Acesso a informações
Cansei de identificar
Manobras em decisões
Sobre banca de concurso
Sobre exclusão de discurso
Em várias reuniões


Cansei de questionar atas
Raramente fidedignas
Cansei de ouvir bravatas
Em nome de uma consigna
Cansei de ver feministas
Ferrando outras, às vistas
De quem ainda se indigna


Cansei do epistemicídio
- o eterno apagamento -
Usei do sincericídio
Quando chegou o momento
Cansei da inobservância
De regras d’outras instâncias
Em nome de um sacramento


Cansei de ter prejuízos
Em minha vida laboral
Enquanto vivem aos risos
Quem me persegue, afinal
Sendo que a Ouvidoria
Correição e Reitoria
Acham que tudo é normal


Cansei de ver conivência
Omissão e faz-de-conta
Para além de leniência
Que também é uma afronta
Ao sofrimento de quem
No jogo do vai e vem
Vive qual barata tonta


Diante de uma gestão
Que premia agressoras
E não faz apuração
Adequada e sem tesouras
Pois recorta o que convém
E arquiva com desdém
Denúncias já duradouras


Há falta de compromisso
Em enfrentar o problema
E um reitorado omisso
Só fortalece o esquema
De quem não quer resolver
Mas sim nos enlouquecer
Eis o seu estratagema


Sem ter a quem recorrer
Vítimas seguem descrentes
Umas pensando em morrer
Outras bastante doentes
Algumas se exonerando
Se aposentando ou migrando
Ou se tornando silentes


São estratégias diversas
Onde falta providência
É uma postura perversa
Onde se produz ciência
Às vítimas só sofrimento
À quem viola, incremento
Para nutrir prepotência


Falta o acolhimento
A empatia e o cuidado
E também o investimento
Em um projeto integrado
Dos setores entre si
Que às vítimas possam ouvir
Sem ficar do lado errado


Falta ver quem tem pautado
O problema há muito tempo
Ou quem tem vivenciado
Um inferno sem alento
Falta querer acabar
Um modus de triturar
Mentes em grande tormento


E por fim falta o apoio
Do sindicato omisso
Que agora em tempo de aboio
Finge que tem compromisso
Mas justo nesta eleição
As chapas mostram que estão
Com a “turma do deixa disso”.


De um lado, a chapa um
Pra quem deseja um abraço
E ganha um assédio comum
Cheio de fitas e laços
Do outro, a chapa dois
Do assédio feijão com arroz
Que eu já conheço um pedaço


Em ambas há “neinetes”
Pra quem quiser escolher
Dois lados de um cotonete
Pra quem aceita viver
Seguindo o mesmo jogo
Seja com água ou com fogo
O assédio não vai perder


Perdemos nós, suas vítimas,
Mas elas não perdem não
Pois sempre são as legítimas
Representantes dos sãos
Enquanto as encrenqueiras
Loucas, débeis, maloqueiras
Seguem gritando em vão


E lá se vão alguns anos
De uma luta inglória
Reitorado passa-pano
Premia e concede glória
Mantendo a velha estrutura
Nutrida pela cultura
Governança-predatória


Seja na Câmara Técnica
Ou instâncias decisórias
Discursam em nome ética
Com eloquente oratória
Todo mundo acomodado
Banhado e perfumado
Como é linda essa vitória!


Com assédio institucional
O desfecho é mais bonito
Pode até ser um sinal
De um futuro veredito
Onde toda a estrutura
Ganha mais envergadura
Contra a Maria Palito.


Eis o tal mundo Acãodêmico
Onde não há bem-estar
Onde quem fala é polêmico
Doente ou impopular
E as relações de poder
São uma máquina de moer
Quem ousar questionar


Porém em dia de festa
Falam em saúde mental
E fazem até seresta
Quando é chegado o Natal
No mais, é só violência
Que permeia a ciência
Que vai pra vida real


Antes fosse um pesadelo
Um sonho um tanto ruim
Mas esse é o modelo
E querem pra sempre assim
Discordo e não aceito
Por isso tô desse jeito
Nessa Torre de Marfim


Mas como uma outsider
- uma estrangeira lá dentro-
Que não sabe jogar spider
E nem ocupa o centro
Só quero que outras vítimas
Saibam que a luta é legítima
E há mais descontentamento


E que há outros feminismos
Que pensam um outro poder
Aquele poder de dentro
Que não deixa esmorecer
As vozes tão calejadas
Que jamais ficam caladas
Pois nascem com o alvorecer!


Salvador, 08/11, 2024.

Profa. Salete Maria/UFBA