sexta-feira, 16 de outubro de 2009

URCA: 18 de Julho


URCA: 18 de Julho

Foi no 18 de julho
Início da madrugada
Em que se deu o esbulho
Da brava rapaziada
O feitor mandou chamar
A polícia para espancar
Quem não aceita a jogada

Chegou a tropa de choque
E o camburão do GATE
Policial em magote
Deram o seu xeque-mate
A violência espalhou
E o ditador entrou
Conforme narra este vate

Entrou com o aparato
De repressão do estado
Era seu desiderato
Deixar este povo acanhado
Armas, bombas e escudos
Cacetetes e coturnos
Iniciam seu reinado

Era alta madrugada
Estudantes a dormir
Mestres davam cochiladas
Ninguém ousou reagir
Covardemente os soldados
Qual miquinhos amestrados
Mandavam todos sair

Era um ato de cinema
Encapuzados gritando
Um soldado teve pena
Pois também era formando
Disse: “tô cumprindo ordem
alguns latem outros mordem”
Foi logo nos avisando

Os estudantes saíam
Com os braços levantados
Os soldados os seguiam
Todos fortemente armados
Registravam o que convinha
Tomavam tudo que tinha
Tudo foi dilapidado

Quem por ventura passasse
Ali na ocasião
Não duvido que pensasse
Que só havia ladrão
Marginal, estuprador
Latrocida, malfeitor
Traficante e charlatão

Isto pela quantidade
De policiais presentes
Dada a atipicidade
Do grupo de insurgentes
Todos são gente do bem
Valores que a URCA tem
Democratas conscientes

Estavam a defender
O dito na eleição
Ousaram fazer valer
A recente decisão
De que fosse empossado
O que fosse mais votado
Esta é a grande questão

A história vai lembrar
Do dia que a URCA viu
Um ditador desmanchar
Tudo o que se construiu
Um sonho acalentado
De há muito cultivado
Que a força demoliu

Depredou-se a esperança
Danificou-se a utopia
Trincou-se a confiança
Apagou-se a luz do dia
Pichou-se o resultado
Do certame perpetrado
Na manhã daquele dia

Memorável esta data
Por tudo que ela encerra
Deverá constar em ata
Dado o teor da guerra
Golpe na democracia
Viola a autonomia
Aqui no sopé da serra!

Vê-se, pois, um jogo sujo
Onde tudo é normal
Onde uns gritam: eu fujo
Outros gritam: menos mau
Muitos se rendem ao rei
Justificam: é a lei
Quem resiste leva pau

O jogo de que vos falo
É o jogo do poder
Os meus olhos arregalo
Para melhor poder ver
Vislumbro muito desmando
Um ditador no comando
Escreve porém não lê

Após seus 16 anos
A URCA elege um reitor
Toma posse (por engano?)
Um anão interventor
Fantoche da burguesia
Lesou a democracia
Demagogo, usurpador

Por ato de um governo
Que não respeita eleição
Que pratica o desgoverno
Que usa a educação
Que fala em cidadania
Mas só põe na reitoria
Quem reza a sua lição

Acompanhado de seres
Expurgados daqui, dantes
Uns descumpriam deveres
‘Paranóias delirantes’
Cada um tem um passado
Onde fora investigado
Hoje são investigantes

Os chefes que te ajudam
Se gritar não fica um
Pois todos que te saúdam
Não o fazem em jejum
És qual Ali-babá
Há quarenta a te esperar
Nesta lata de atum

Chegastes qual general
Devastando todo mundo
Julgando-se maioral
Com teu projeto imundo
Mas só conseguiu entrar
Pela força militar
Que de ti zomba, no fundo

Rejeitado imensamente
Derrotado no certame
Se julgando inteligente
Ainda há quem te chame
Nesta terra de doutor
Magnífico reitor
Quem morreu talvez te ame

Pensando que esmagava
O sonho estudantil
Ou então silenciava
A quem você perseguiu
‘Ói nois aqui ôtra veiz’
Dando cotoco a vocês
Como o pró-reitor agiu

Trazemos pros estudantes
Notícias de sua história
E de seus acompanhantes
O que guarda na memória
Desmantelo e confusão
Muita esculhambação
Nessa sua trajetória

Só de irregularidades
Se enche um caminhão
Sem contar as inverdades
Desta tua mal gestão
As demissões imorais
E decisões ilegais
Mostram tua intenção

Falavas em novos tempos
E trás à baila impostores
Gente que dá nó no vento
E posam de educadores
A forma que tu entraste
Revela quem te mandaste
E quem são teus assessores

Alguns que a ti veneram
São urubus na carniça
Nem sequer te consideram
Estão aí por cobiça
Se vendem por um real
Iguais a ti, desleal
Choram quando vão à missa

Vede as verbas desviadas
Falta de licitações
Teu governo é uma piada
Faltam muitas demissões?
Quantos hás de perseguir?
Ninguém irá reagir?
Pergunto a meus botões...

Te prepara forasteiro
Que a alma dos Kariris
Há de te tanger primeiro
Que brotem os novos pequis
Se um comparsa te acunha
É só de leve a unha
Do que se guardam pra ti

Hás de provar com certeza
Do teu veneno mortífero
Esta tua esperteza
É qual um germe prolífero
Nada no mundo é eterno
Guarda o teu belo terno
Nem sempre serás mamífero

Com a polícia entraste
Com ela podes sair
A vida é de contraste
Quem chora também sorri
Tudo o que sobe desce
Tudo que é novo envelhece
Etecetera e zefini

Faço este verso irado
Qual o Boca do Inferno
Digo o que ta entalado
Talvez não seja moderno
Mando ao Bêrrêtiçôrrô
A Jurandy professor
Pras Letras mais um caderno

Assino a minha obra
Pois sei dar valor a ela
É o mínimo que se cobra
De quem escreve a novela
Nunca usei pseudônimo
Aqui relato o antônimo
Do que contém na panela

Dedico este cordel
A quem constrói esta Casa
Coloco neste papel
O meu poema em brasa
Gente forte, corajosa
Dedicada, vontadosa
Quem luta nunca se atrasa

Por derradeiro concito
Todos a brindar o dia
Em que ficou mais que dito
Que a polícia invadia
Por ordem do interventor
Com aval do governador
O sonho de quem dormia

Um brinde à resistência
Ao que se chama utopia
À palavra consciência
Também à democracia
Viva o 18 de julho
Dia de muito barulho
Pela nossa autonomia!

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento,
mas não dizem que são violentas as margens que o oprimem”
Bertold Brecht

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