Meu pai por ser um pedreiro,
Dele muito me orgulho
Sempre foi muito guerreiro
Homem de muito barulho
Seja mexendo o cimento
Seja curando o tormento
Ele desata o embrulho
Sempre foi desenrolado
Atento, astuto, sabido
É homem pouco letrado
Porém muito esclarecido
Por isso nesse cordel
Reconheço seu papel
De pai teimoso e querido
Nascido em 44
No nordeste brasileiro
Um cearense de fato
Um matuto, um roceiro
Arribou de Várzea Alegre
Jovem, à sorte entregue
Foi se arranchar no Granjeiro
Chegou pela Cana-Brava
Trabalhou, foi serviçal
Arroz, feijão apanhava
Cuidou também de animal
Era um rapaz arrojado
Nunca foi acomodado
Era este um bom sinal
Viveu nas casas alheias
Longe do seu “habitat”
Ia acanhado pra ceia
Era comum se deitar
Em qualquer canto do chão
Porque não tinha um tostão
Pra uma rede comprar
Porém como desejasse
Melhorar a sua vida
E muito se interessasse
Em sair daquela lida
Resolveu então partir
Pra muito longe dali
Onde lhe dessem guarida
Sonhava em ir para o sul
E arranjar um emprego
Mirava o céu azul
Como quem quer um brinquedo
Mas um dia decidiu
Da Cana-Brava partiu
Foi enfrentar o seu medo
Nesse tempo já gostava
De quem hoje é minha mãe
Que ficou na Cana-Brava
Numa angústia sem “tamãe”
Foi lá pros anos 60
Que segundo ele comenta
“Havia progresso e gãe”
Fugindo do desemprego
No tal êxodo rural
Meu pai foi pedir arrêgo
Na maior das capital
E se vendo sem dinheiro
De lavrador a pedreiro
Subiu na vida, afinal
O ofício era pesado
Mas tinha de trabalhar
Ficava admirado
Com tantos prédios no ar:
“São Paulo é feito das mão
Dos nordestinos irmão
Que não param de chegar"
Depois dum tempo in Sampa
- tijolo, massa, cimento-
Viu um bem-te-vi que canta:
“na cacunda d'um jumento”
Era um quadro na parede
"No lugar de botar rede
Eles botam é monumento"
Quando juntou uns tostão
Veio para o Ceará
Somente pedir a mão
Desta que ficou por cá
Em poucos dias casou
E a esposa levou
Pra no sul dele cuidar
Cada ano que passava
Um filho via nascer
Em São Paulo um brotava
No Ceará, outro ser
Ao todo tiveram seis
Sou a segunda da vez
Cá estou para escrever
Por três décadas seguidas
Meu pai ia e voltava
Pontilhava nossas vidas
Ou cá, ou lá ele estava
Edificando a cidade
E perdendo a mocidade
Enquanto a gente estudava
Tijolo sobre tijolo
Ferro, massa, telha e cal
Aniversário sem bolo
São João, finados, Natal
Onde era mato, um produto
Igreja, escola, viaduto
Shopping, motel e canal
Seguia a vida querendo
Não fracassar, nem sofrer
Algumas noites bebendo
Outras no frio, a tremer
Muitas agruras passou
Até que o álcool deixou
E nunca mais quis beber
Fez muita casa aonde
A vida parece bela
E o arranha-céu esconde
Os barracos da favela
Deixou em cada azulejo
Tatuado um desejo
Que fosse aquilo novela
Viu o progresso de perto
E a miséria do lado
Falava de peito aberto
Com seu sotaque arrastado
“Eta sul fí d’uma égua
Um dia dou uma trégua
Vendo meus filho formado”
Enfim comprou uma terra
Nem míni nem latifúndio
Teve que entrar noutra guerra
Fazendo um corte profundo
Depois duma cirurgia,
Mudou o seu dia-a-dia
E retornou pro seu mundo
Voltou a viver no mato
Conforme sempre gostou
Mas não perdeu o contato
Com o mundo exterior
Agora rega o estrume
Contempla o vaga-lume
Colhe laranja e fulô
Deixou o prumo e a linha
Pegou enxada e pá
Tem lá a sua casinha
E terra pra cultivar
Merece a minha homenagem
Porém não tenho coragem
Desse verso recitar
Hoje é homem da lida
Do trabalho no roçado
Retornou à velha vida
Mesmo estando cansado
Pois para se aposentar
Teve ele que provar
Que nunca ficou parado
Mesmo assim ele é feliz
Porque no mato nasceu
Voltou a sua raiz
(o pedreiro não morreu)
Ressurge o agricultor
Com quem mamãe se casou
E deu origem a eu
Terminando esse poema
É preciso relembrar
Que o pedreiro foi tema
Pra um poeta exemplar
O grande Chico Buarque
Traduziu na sua arte
O seu valor singular
Com os olhos embebidos
Entre lágrima e cimento
Mas quase nunca esquecidos
Dessa vida de tormento
Subindo o patamar
Ou na roça a plantar
Reconheço seu talento
Operário em construção
Autoridade paterna
Homem de convicção
De atitude fraterna
Meu pai, um grande herói
A sua história constrói
A idéia que nos governa!
O CORDELIRANDO PARABENIZA A TODOS OS PAIS PELO SEU DIA!
Dele muito me orgulho
Sempre foi muito guerreiro
Homem de muito barulho
Seja mexendo o cimento
Seja curando o tormento
Ele desata o embrulho
Sempre foi desenrolado
Atento, astuto, sabido
É homem pouco letrado
Porém muito esclarecido
Por isso nesse cordel
Reconheço seu papel
De pai teimoso e querido
Nascido em 44
No nordeste brasileiro
Um cearense de fato
Um matuto, um roceiro
Arribou de Várzea Alegre
Jovem, à sorte entregue
Foi se arranchar no Granjeiro
Chegou pela Cana-Brava
Trabalhou, foi serviçal
Arroz, feijão apanhava
Cuidou também de animal
Era um rapaz arrojado
Nunca foi acomodado
Era este um bom sinal
Viveu nas casas alheias
Longe do seu “habitat”
Ia acanhado pra ceia
Era comum se deitar
Em qualquer canto do chão
Porque não tinha um tostão
Pra uma rede comprar
Porém como desejasse
Melhorar a sua vida
E muito se interessasse
Em sair daquela lida
Resolveu então partir
Pra muito longe dali
Onde lhe dessem guarida
Sonhava em ir para o sul
E arranjar um emprego
Mirava o céu azul
Como quem quer um brinquedo
Mas um dia decidiu
Da Cana-Brava partiu
Foi enfrentar o seu medo
Nesse tempo já gostava
De quem hoje é minha mãe
Que ficou na Cana-Brava
Numa angústia sem “tamãe”
Foi lá pros anos 60
Que segundo ele comenta
“Havia progresso e gãe”
Fugindo do desemprego
No tal êxodo rural
Meu pai foi pedir arrêgo
Na maior das capital
E se vendo sem dinheiro
De lavrador a pedreiro
Subiu na vida, afinal
O ofício era pesado
Mas tinha de trabalhar
Ficava admirado
Com tantos prédios no ar:
“São Paulo é feito das mão
Dos nordestinos irmão
Que não param de chegar"
Depois dum tempo in Sampa
- tijolo, massa, cimento-
Viu um bem-te-vi que canta:
“na cacunda d'um jumento”
Era um quadro na parede
"No lugar de botar rede
Eles botam é monumento"
Quando juntou uns tostão
Veio para o Ceará
Somente pedir a mão
Desta que ficou por cá
Em poucos dias casou
E a esposa levou
Pra no sul dele cuidar
Cada ano que passava
Um filho via nascer
Em São Paulo um brotava
No Ceará, outro ser
Ao todo tiveram seis
Sou a segunda da vez
Cá estou para escrever
Por três décadas seguidas
Meu pai ia e voltava
Pontilhava nossas vidas
Ou cá, ou lá ele estava
Edificando a cidade
E perdendo a mocidade
Enquanto a gente estudava
Tijolo sobre tijolo
Ferro, massa, telha e cal
Aniversário sem bolo
São João, finados, Natal
Onde era mato, um produto
Igreja, escola, viaduto
Shopping, motel e canal
Seguia a vida querendo
Não fracassar, nem sofrer
Algumas noites bebendo
Outras no frio, a tremer
Muitas agruras passou
Até que o álcool deixou
E nunca mais quis beber
Fez muita casa aonde
A vida parece bela
E o arranha-céu esconde
Os barracos da favela
Deixou em cada azulejo
Tatuado um desejo
Que fosse aquilo novela
Viu o progresso de perto
E a miséria do lado
Falava de peito aberto
Com seu sotaque arrastado
“Eta sul fí d’uma égua
Um dia dou uma trégua
Vendo meus filho formado”
Enfim comprou uma terra
Nem míni nem latifúndio
Teve que entrar noutra guerra
Fazendo um corte profundo
Depois duma cirurgia,
Mudou o seu dia-a-dia
E retornou pro seu mundo
Voltou a viver no mato
Conforme sempre gostou
Mas não perdeu o contato
Com o mundo exterior
Agora rega o estrume
Contempla o vaga-lume
Colhe laranja e fulô
Deixou o prumo e a linha
Pegou enxada e pá
Tem lá a sua casinha
E terra pra cultivar
Merece a minha homenagem
Porém não tenho coragem
Desse verso recitar
Hoje é homem da lida
Do trabalho no roçado
Retornou à velha vida
Mesmo estando cansado
Pois para se aposentar
Teve ele que provar
Que nunca ficou parado
Mesmo assim ele é feliz
Porque no mato nasceu
Voltou a sua raiz
(o pedreiro não morreu)
Ressurge o agricultor
Com quem mamãe se casou
E deu origem a eu
Terminando esse poema
É preciso relembrar
Que o pedreiro foi tema
Pra um poeta exemplar
O grande Chico Buarque
Traduziu na sua arte
O seu valor singular
Com os olhos embebidos
Entre lágrima e cimento
Mas quase nunca esquecidos
Dessa vida de tormento
Subindo o patamar
Ou na roça a plantar
Reconheço seu talento
Operário em construção
Autoridade paterna
Homem de convicção
De atitude fraterna
Meu pai, um grande herói
A sua história constrói
A idéia que nos governa!
O CORDELIRANDO PARABENIZA A TODOS OS PAIS PELO SEU DIA!
Gosto muito dos cordeis. Obrigado por dividí-los conosco! Obrigado, de novo, por este ser dirigido a uma pessoa tão especial e, no caso, humilde senhor.
ResponderExcluirSalete,
ResponderExcluirMuito oportuno este seu belo cordel "Meu Pai", uma homenagem a todos os pais. Parabéns pelo seu riquíssimo blog.
Que lindeza Salete Maria, o seu papai e um homem maravilhoso. Parabens por ser filha dele. Parabens pela sua arte de escrever. Abracos, Tereza
ResponderExcluirQue todo pai possa receber um abraco de seu filho mesmo que seja só em sonho, paz.
ResponderExcluirBeijo Lisette
Lindo Salete! Tenha uma linda semana, bjs
ResponderExcluirA Conquista
Chegaste assim de surpresa
apoderaste da minha mente
eliminaste qualquer defesa
que pudesse em vão esboçar.(....)
leia mais no meu blog se quiser
Lindo Salete
ResponderExcluirCheguei um pouco atrasada, mas parabenizo o seu pai, a linda homenagem mostando um homem de garra, um guerreiro.
Beijos
Uma bela forma de poesia, autêntica, sobre um tema tão nobre, que são nossos queridos pais.
ResponderExcluirMaravilhosos cordéis!
Quando puder, visite-me. Sou poeta, e se apreciar bons versos, entre em: http://diarioanderson.blogspot.com
Abraço!
Anderson de Oliveira
Parabéns, valeu conferir o Blog!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirmagnifico.
ResponderExcluirantônio
(do nordeste para o 'sul')
Oi,Salete
ResponderExcluirObrigado pela visita.
Já havia visitado seu blog algumas vezes.
Um forte abraço.
Nando Poeta.