JUAZEIRO FAZ CEM ANOS,
E A LUTA CONTINUA!
Meu Juazeiro querido
- coração do Cariri! -
Nunca serás esquecido
Pois sinto falta de ti
E agora, nos teus cem anos,
Eu tava fazendo planos
De me encontrar por aí
Porém não estou podendo
- e ficarei na vontade! -
Com meu coração sofrendo
- bem roxinho de saudade! -
Mas te faço, com fervor,
U'a declaração de amor:
Ó benedita cidade!
Pois justo agora que estou
Em missão estudantil
Minha saúde falhou
E um probleminha surgiu
Mas isto é coisa da vida
Deus cura toda ferida
Que Ele não consentiu
E mesmo com tudo isso
Não poderia deixar
De honrar o compromisso
De te homenagear
Nesta data especial
- Teu centenário natal! -
Que todos vão celebrar
E o faço ao meu estilo
Nestas estrofes rimadas
Onde sem qualquer vacilo
Te chamo terra encantada
E registro com paixão
O que há sobre teu chão
Sem tentar esconder nada
Tuas dores e delícias
Aqui quero destacar
Teus pudores e malícias
Teu mal e teu bem-estar
Pois quem ama reconhece
- entre gemidos e preces -
O que é preciso mudar
Com a bênção do Patriarca
- e da Beata Maria! -
Pois sei que a rima é parca
Para celebrar teu dia:
Te desejo muita sorte
Meu Juazeiro do Norte
Terra de fé e euforia!
Eu que sou mais uma romeira
Que em teu solo aportou
Cheguei sem eira nem beira
E fui sentido o calor
De tua hospitalidade
- Ó majestosa cidade -
Viva o ser que te gerou!
Assim como outros tantos
Romeiros de Meu Padim
Entreguei-me a teus encantos
Num laço de amor sem fim
E edifiquei a morada
Nesta terra abençoada
Que tanto deu para mim
Deu-me fé e inspiração
Coragem e entusiasmo
Alegria e emoção
Disposição e orgasmo
E centenas de amizades
Além de oportunidades
Que faz meu ser ficar pasmo
Me deu colegas e amores
Adversários e amigos
Me deu espinhos e flores
Camaradas e inimigos
Conhecidos e chegados
Vizinhos e agregados
Nenhum dos quais esquecidos!
Gente que aprendi amar
Nas lides do dia a dia
- muitos contra quem lutar!-
Em prol da cidadania
Alguns seguem resolutos
Outros, vendidos, corruptos
Rumaram por outra via
Juazeiro, centenária!
- terra de labor e fé -
Tua festa é necessária
Porque teu povo te quer
Mas não há plena alegria
Sem que o pão de cada dia
Seja para quem quiser
Sem que haja transparência
Nos atos de governança
Sem que haja consciência
Em velho, moço e criança
Acerca de seus direitos
Quem vai sair satisfeito
No final dessa festança?
E sem trabalho e saúde
Educação e lazer
Sem que o costume mude
Das famílias no poder
Sem o fim do nepotismo
E do tal favoritismo
De quem a festa vai ser?
Sem respeito ao servidor
- que tem família também-
Mas doando, sim senhor,
O que o município tem
Para correligionários
Amigos e empresários
Esta festa é para quem?
A festa não é pra todos
Quando não se compartilha
E não passa de um engodo
Onde o poderoso brilha
É preciso a comunhão
Pois Padim Ciço Romão
Nos legou esta cartilha
Será possível um mendigo
Festejar necessidades?
E um sujeito oprimido
Festejar iniquidades?
Quem sente falta de pão
Vai fazer celebração
No festim de autoridades?
Juazeiro a tua festa
É no coração da gente
Do ser humano que presta
E leva a vida decente
Acreditando em melhora
Marchando avenida afora
Mudando nosso presente
Teu banquete é nossa luta
Em prol de nossos direitos
É no palco da disputa
Onde se faz o sujeito
Que constrói a sua história
Que entra para a memória
Com qualidade e defeito
Juazeiro, território
De gente boa e sincera
Povo de viver simplório
Cultivador da quimera
Tua história vai mudar
Neste sul do Ceará
Onde o PT faz miséria
Neste natalício teu
Onde muitos te festejam
Receba um carinho meu
Dentre tantos que te beijam
Sinta minha homenagem
Pois penso em tua paisagem
E meus olhos lacrimejam:
Juazeiro das lapinhas
Cultos e renovações
De bendito e ladainha
Cordéis e celebrações
De reisado e cantoria
Feiras e mercearias
Palco para multidões
Juazeiro das ações
De 'cumades' e 'madinhas'
Redes em conexões
Baião de dois e meisinha
Piqui e carne de charco
Fumo de rolo e tabaco
Mii e saca de farinha
Juazeiro dos forró
Artesanato e bordado
Pamonha e pão-de-ló
Bolo de puba e torrado
Panelas e candeeiro
Cabaças e zabumbeiro
Q'suco e din-din gelado
Juazeiro dos milagres
E ex-votos pendurados
Das comidas com vinagre
De carneiro e bode assado
Dos terreiros de umbanda
Das barracas e quitandas
Dos namoros arrochados
Juazeiro dos empresários
De ambições nacionais
Do atendimento precário
Nos postos e hospitais
Das eleições baixarias
Dos josés e das marias
Que as vezes formam casais
Juazeiro da juventude
Dos véi e da criançada
Juazeiro de quem se ilude
E das pessoas letradas
Juazeiro das fuxiqueiras
De gente honesta e ordeira
E também das trapalhadas
Juazeiro dos carros novos
E dos ônibus ruins
De tribos, tabas e povos
Capetas e querubins
Juazeiro de toda sorte
De muita vida e de morte
Juazeiro de Meu Padim
Juazeiro véi das bodegas
Indústria e hotelaria
Dos cabarés e dos bregas
Restaurante e padaria
Juazeiro grande e guerreiro
Apruma teu paradeiro
Pra viver em harmonia
Juazeiro palco de igrejas
Do Horto e das estações
E das mentes malfazejas
Escondidas nos porões
Juazeiro cheio de sol
Terra de bom futebol
Celeiro de tradições
Juazeiro de empreendedores
Patrões e desempregados
Juazeiro dos 'sem valores'
E de 'homens respeitados'
De mulheres invisíveis
Juazeiro das meretrizes
Das bichas e deputados
Juazeiro dos muquifos
E das boates da moda
Dos tocadores de pifos
E das cirandas de roda
Juazeiro da violência
Da droga e da penitência
Juazeiro casta e foda
Juazeiro das faculdades
E de muito analfabeto
De tantas iniquidades
E vários gestos concretos
De artistas populares
De civis e militares
De barões e de sem tetos
Juazeiro dos edifícios
De barracos e favelas
De procissão e comícios
De caridade e mazelas
Juazeiro de coronéis
De santos e bacharéis
De rapariga e donzela
Juazeiro de moralismos
E de pessoas abertas
De pseudos-esquerdismos
E muitos falsos profetas
Juazeiro de tantos pais
De neo-homossexuais
De trajetórias incertas
Juazeiro de ruas sujas
E carros top de linha
De assombrosas corujas
E galos que vencem rinha
Juazeiro do povo gótico
Tens um trânsito caótico
E crimes de saidinha
Juazeiro de gestos nobres
E de aviltantes condutas
De bastante gente pobre
E uns ricos filhos da puta
De políticos corruptos
E cidadãos impolutos
Que a mídia as vezes oculta
Juazeiro de confusão
E de solidariedade
Lugar de perseguição
Mas também de honestidade
Juazeiro de muitas caras
De paranóias e taras
De equilíbrio e verdade
Juazeiro de muita escola
E pouca oportunidade
De tantos pedindo esmola
Pelas ruas da cidade
Juazeiro da covardia
Mas também da utopia
De gente de toda idade
Juazeiro das vaquejadas
De gente alegre e feliz
De lojas mal enfeitadas
De lousas velhas de giz
Juazeiros de mil toadas
Cidade mal conservada
Mas que tem linda matriz!
Juazeiro das carroças
E motos excepcionais
Dos bares e das palhoças
Dos acidentes fatais
Juazeiro da estudantada
Das fardas malacabadas
Que tanta vergonha faz
Juazeiro das atitudes
De gente bem antenada
Também das ilicitudes
Da classe considerada
Juazeiro da imprensa
Que precisa pedir bença
Ao dono da empreitada
Juazeiro dos flanelinhas
Que trabalham nos sinais
Juazeiro das sapatinhas
Que querem viver em paz
Juazeiro da mulherada
Estuprada e assassinada
Por homens, filhos e pais
Juazeiro de sindicatos
E de entidades secretas
Juazeiro de artefatos
De carroça e bicicletas
Juazeiro de fé medonha
De crack, cola e maconha
E de versões incompletas
Juazeiro de atores
E atletas singulares
Juazeiro de cantores
E pedreiros exemplares
Juazeiro de operários
De muitos comerciários
E muitos donos de bares
Juazeiro de chapeados
De dondoca e enfermeira
Juazeiro de advogados
De beato e rezadeira
Juazeiro de servidores
De garis e de doutores
De ferreiro e cozinheiras
Juazeiro de bairros novos
E de velhos lugarejos
Juazeiro de pão com ovos
E de pizza quatro queijos
Juazeiro de miseráveis
E riquezas deploráveis
Frutos de tapas e beijos
Juazeiro de toda gente
De identidades várias
Juazeiro de resistentes
De penitentes e párias
Juazeiro véi da geral
No conflito social
Ralé não é mais otária
Juazeiro que envelhece
E que também se renova
Cidade que incha e cresce
E que se encontra à prova
De bala e de inteligência
Clamando por competência
Para não descer à cova
Juazeiro eu desejo
Que uma luz lá do céu
Desça feito relampejo
E te cubra como um véu
Carregado de progresso
Empilhado de sucesso
Repleto de leite e mel
Eu te proclamo em cordel
Neste humilde versejar
Rogando a Deus do céu
Q' Ele te faça brilhar
Dentre as urbes do Brasil
Concedendo mais de mil
Anos pra comemorar
Pois me lembro que és solo
Onde nasceu minha avó
Cujo Padim pôs no colo
- vestidinha de filó -
E a ela deu um nome
Naquele tempo de fome
Q' ind' hoje me causa dó
És também terra sagrada
De tanta gente que adoro
Torrão de pessoa amada
Berço de por quem eu choro
Juazeiro sedutora
Fascinante, acolhedora
Pra que se cuide, te imploro
Eu aprendi a te amar
E admirar tua história
Desde quando fui morar
-pra minha honra e glória-
No teu solo abençoado
Onde tudo é encantado
E guardado na memória
Tua cultura diversa
Tua gente nas calçadas
Tua história controversa
Tuas missas tão lotadas
Teu povo trabalhador
Que vai seguindo um andor
Com reza quase chorada
Te chamo Cidade Altiva
Pois és Meca do Sertão
És a terra prometida
Pro romeiro, nosso irmão
Juazeiro santuária!
Reluzente, candelária
Terra de muita oração!
Te agradeço imensamente
Pelo tempo em que vivi
No seio da tua gente
E por tudo que senti
Desde as lutas sociais
Aos encontros culturais
Dos quais jamais esqueci
Te sou grata pelos dias
De bonança e tempestade
Quando nas periferias
Me cercava de amizades
Dentre tantas passeatas
Lutando contra as mamatas
Dos políticos da cidade
Sei que nos dias presentes
Os carcarás do poder
Além de incompetentes
E de tanto mal fazer
Estão acabando tudo
Terreno, praça e estudo
Saúde, paz e lazer
Mas mesmo estando distante
Fora do teu habitat
Me pergunto neste instante:
Quem agora vai ousar
Depois deste centenário
Fazer o povo de otário
Para a eleição ganhar?
Meu Juazeiro querido
Tu comemoras cem anos
Mas teu povo, abatido,
Sofre muitos desenganos
Sem rumo e educação
Nesta administração
Deste governo tirano
Do lugar onde me encontro,
Fico triste ao saber
Que chegaste a este ponto
Num governo do PT
Onde tudo é um horror
E o povo trabalhador
Apanha sem merecer
Mas algo me faz feliz
Apesar do que acontece
Pois como o ditado diz:
''Tudo que é pequeno cresce''
E a consciência do povo
-que é um bem valioso -
Cada vez mais aparece
Nas greves dos professores
E de outras categorias
Médicos e operadores
De trânsito e rodovias
E na classe estudantil
Que sempre bem te serviu
Desde os mais remotos dias
Receba esta missiva
Que te escrevi com amor
Espero que ela sirva
Pra se somar ao clamor
Do povo cheio de fé
Que fez de ti quem tu é
Conforme o Padre ensinou
Juazeiro, Centenária,
Terra de fé e oração,
Minha veia literária
Te deseja EDUCAÇÃO!
Trabalho, paz e SAÚDE!
Para que um dia mude
Teus governos de opressão!
Assim termino meu verso
Afirmando que te amo
Uma mensagem endereço
Para fulano e sicrano:
Respeite o povo primeiro
- pois nativo ou forasteiro-
Todos somos conterrâneos!
Pois essa terra, amigo,
É tão nossa quanto sua
E por isto eu lhe digo
Para que ela evolua
O povo fará seus planos:
Juazeiro faz cem anos!
E a luta continua!
Parabéns pelo blog e, em especial, pelo cordel sobre o centenário de Juazeiro. Se me permitir, postarei algumas estrofes no ACORDA CORDEL
ResponderExcluirwww.acordacordel.blogspot.com
Abs
ARIEVALDO VIANA
Como sempre uma obra de arte criada foi criada por essa Cordelista maravilhosa.
ResponderExcluirLindo o Cordel!
Lindos seus Cordeis!
Que a sua arte permaneça viva e que o Brasil possa ler tudo que você escreve, pois como seu admirador distribuo tudo que me envia.
Um saudoso e caloroso aplauso por mais essa perola que nos presenteia
Vagner de Almeida
www.vagnerdealmeida.com
Oi, amei o blog.
ResponderExcluirgostaria de saber se tem alguma forma de comprar algum livrinho de cordel por aqui. e se não, onde posso fazer isso? Moro em Belo horizonte, e por aqui não se acha cordel de jeito nenhum!rsrs
Donde é que sai tanta rima hein??? kkk
ResponderExcluirSalete Maria, parabéns!!!
Isso é um dom divíno!
Divulgo bastante seu blog, mas, infelizmente, nossa cultura está se deixando levar, exclusivamente, por essas bandas (atuais), ditas, de forró.
Mas... sigamos em frente!!! Você CORDELIRANDO e nos delirando; e nós tentando "CORDELIRAR" outras pessoas.
Este comentário foi removido pelo autor.
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