Quero convocar aqui
A preta que eu mais
amo
Pois quero vê-la
seguir
Forte e fazendo
planos
Depois de muito
sofrer
De lutar e de vencer
Exclusões e
desenganos
Minha mãe, minha
rainha
Musa, estrela e
matriarca
Você não está
sozinha
Pois essa luta te
abarca
Vem para a rua
marchar
Vem comigo, vem
lutar
Vem cá deixar tua
marca
Tu que nasceu no
sertão
Lá no sul do Ceará
Que sofreu
humilhação
E nunca pôde
estudar
Vem somar com as
mulheres
Que estão metendo
colheres
No que é preciso
mudar
Tu que já sentiu na
pele
E também no coração
O mal que ainda nos
fere
E que provoca
exclusão
Vem e traz toda a
família
Para engrossar essa
trilha
De combate a
opressão
Vem exigir do Estado
E de todo cidadão
O que tem sido
negado
Geração pós
geração
O direito de viver
Plenamente sem
sofrer
Tanta discriminação
Vem mamãe, vem para
a rua
Vem com outras
brasileiras
Vamos lá sentar a
pua
E somar com as
guerreiras
Que não aceitam
racismo
Capitalismo e
machismo
Como a única
soleira
Vem fazer tremer o
chão
Dessa “pátria
educadora”
Onde há muita
negação
Da cultura
encantadora
Da nossa
ancestralidade
Estética e
diversidade
Afro-índio-genitora
Vem pisar firme na
terra
Que sangue negro
sorveu
Vem lutar contra
essa guerra
Que tráfico não
combateu
Mas que tem uma
conversa
Cheinha de
controvérsia
Onde só negro
morreu
Vem por mais
cidadania
Por inclusão
verdadeira
Por ampla democracia
Por justiça sem
fronteira
E pelo fim da
matança
De jovem negr@ e
criança
Nesta terra
brasileira
Vem protestar por
saúde
Pras negras deste
país
Para que o sistema
mude
Da superfície à
raiz
Vem pugnar por
direito
Dignidade e respeito
E uma vida mais
feliz
Vem questionar essa
mídia
Que expõe como
objeto
Bem diante da
desídia
Deste Estado
incorreto
Nossos corpos
seminus
Visando obter um
plus
No seu lucro abjeto
Vem afirmar nossa
estética
Contra essa ditadura
Da beleza
esquelética
Encarnada na
brancura
Dessa visão
eurocêntrica
Que considera
excêntrica
Tudo que é d’outra
cultura
Vem dizer que não é
justo
Tanta negra na
cozinha
Para manter um
vetusto
Discurso ou ladainha
De que somos
incapazes
E só brancas são
sagazes
Pra ser doutora ou
rainha
Vem falar que não é
certo
Tu ganhar parca
quantia
Pra criar filhos e
netos
Com toda essa
carestia
E ainda ter que
inventar
Bicos para completar
Tua renda a cada dia
Vem contar como é
difícil
Enfrentar os
tubarões
E entrar nos
edifícios
Dessas instituições
Que deviam garantir
O direito de ir e
vir
Sem gerar violações
Vem afirmar como é
duro
Ter um filho na
escola
Que não se sente
seguro
E por isso vai
embora
Ou mesmo ser um
cotista
Ou estudante
bolsista
Que muita gente o
isola
Vem exigir mais
respeito
Por nossa fé e
cultura
E também nosso
direito
De celebrar à
altura
Símbolos e
ancestrais
Terreiros e tudo o
mais
Que nos serve de
armadura
Vem cá exigir o fim
De todo ato racista
Vem pra rua dizer
sim
A nossa imensa lista
Que propõe o bem
viver
Pois já chega de
sofrer
Neste mundo
belicista
Vem nesse 13 de maio
Pra grande
concentração
Traz também o teu
balaio
Lotado de petição
De propostas e
pronúncias
De demandas e
denúncias
Contra toda
exploração
Vem falar das
violências
E da triste omissão
Vem questionar as
ciências
Que não nos dão
atenção
Vem com samba e
carimbó
Vem com regue ou com
forró
Mas vem com muita
emoção
Vem com a literatura
E tua comida caseira
Com tua fé forte e
segura
E a erva benzedeira
Vem com sorriso e
paixão
Com gosto e muito
tesão
Vem gingar na
capoeira
Vem que tu é da
batalha
Contra a maldade
escrota
Vem que teu santo
não falha
Pois vejo desde
garota
O que pode uma
mulher
Preta, pobre e de fé
Quando se junta
cas’ôtras
Vem mamãe marchar
também
Entre jovens e
crianças
Pois tu sabes muito
bem
Como tecer
esperanças
Como trançar
rebeldias
Como atrair energias
Como fazer alianças
Vem mamãe, com teu
amor
Teu carisma e teu
cuidado
Vem com todo o teu
calor
Tua força e o
legado
Que vovó deixou pra
ti
Nas serras do Cariri
Onde lutar é
sagrado
Vem mamãe nos
encontrar
E seguir nos
ensinando
Com as pretas vem
marchar
Até vê-las no
comando
Já que o teu sonho
é ver
Uma negra governando
Vem que vem que vem
com tudo
Vem mostrar que não és neutra
Vem que o racismo é
graúdo
Mas nós tiramos de
letra
Vem minha mamãe
querida
Vem matriz da minha
vida
Vem minha pérola
preta!
Salete Maria
Abril/2015
Belíssimo poema! parabéns, minha cara!
ResponderExcluirLindo!!!
ResponderExcluirAmei!!!
#PARABÉNS