Fanka é pesquisadora
Da cultura do cordel
É grande possuidora
Deste verso no papel
Mestre em sociologia
Surpreendeu-me outro dia
Com um intento cruel
Disse que tava estudando
A produção feminina
E andava investigando
Pra ver como a mulher rima
Falou de Sebastiana
Que eu reputo Soberana
E buliu com a minha sina
Disse então que pretendia
Pesquisar o meu poema
Eu senti naquele dia
Um misto de dor e pena
Meu verso é só distração
Pra expulsar solidão
Nada que mereça um tema
Mas, eis que ela insistiu
E eu quase fui compelida
Daí ela me inquiriu
Sobre o que passei na vida
Quis saber o que me fez
Delirar, pirar de vez
E me tornar atrevida
“Eu não sei falar de mim”
Respondi peremptória
Ela disse “mesmo assim
Conte-me a sua história”
E eu passei a discorrer
Cordelirando fui ver
O que tinha na memória:
Eu faço cordel porquê
Aprendi a escutar
E mesmo aprendi a ler
Vendo vovó recitar
História de Lampião
De Padim Ciço Romão
De João Grilo e Boi-bumbá
Eu devorava o “rumance”
Ligeiro, bem “de pressinha”
Quase que não dava a chance
Pra respiração que vinha
Eu tinha prazer demais
Lia até não querer mais
Mas só o que me convinha
Zé Alexandre, meu tio
Escreve como ninguém
Minha irmã chegou do Rio
E disse que lá também
Tem muita gente que gosta
E fez logo uma aposta
Fazendo de mim desdém
Disse que eu entendia
A gramática do Direito
Mas que eu não me atrevia
A “poetizar” perfeito
E eu parti pro desafio
Rabisquei noites a fio
Este foi o meu defeito
Fiz um verso todo torto
Fazendo uma mea-culpa
Era um texto absorto
Que até hoje me insulta
Eu detonava o Direito
Mas verseja sem jeito
Era minha “catapulta”
Daí pra frente tomei
Gosto por fazer cordel
Depois me bacharelei
E não soltei o papel
Me meti na poesia
“pão nosso de cada dia
Minha torre de babel”
Escrevi sobre a mulher
O meu tema preferido
Compreenda quem quiser
Pois meu verso é atrevido
Denuncio a violência
Dou nome a incompetência
Quero o machismo banido
Fiz cinco cordéis assim
Sobre a tal da opressão
Eu mesma me sinto em mim
Dada a minha condição
De mulher, de explorada
Comunista e engajada
“Advogada do cão”
Falei de gay, de amor
Entre homossexuais
Não faço nenhum favor
Contemplando os marginais
Sou porta-voz de outros lemas
Inovar, ver outros temas
É tudo que me apraz
Aids, que me preocupa
Já escrevi, já falei
Tudo isto me ocupa
Minhas mãos não lavarei
O cordel é instrumento
De luta e entretenimento
Com ele me emancipei
Se em São Paulo nasci
Foi por um mero acaso
Pras bandas do sul desci
Por conta desse atraso
A seca tangeu meus pais
Duas pessoas leais
Que pra viver não têm prazo
Do Brasil 500 anos
Eu já falei certo dia
Arrolei todos os danos
Fui lá na periferia
Foi quando virei “maudita”
Foi o dia da desdita
“Credo em cruz, ave maria”
Direito fundamental
Também foi tema abordado
É o mote principal
Do meu curso de Mestrado
Busquei socializar
E ao povo pobre ensinar
Pra não vê-lo humilhado
Leio minha militância
Nas linhas de meu cordel
Às vezes há petulância
Palavras cheias de fel
Mas se falo de amor
Faço-o com tal fervor
Me sinto dona do céu
Sendo filha de pedreiro
E de uma camponesa
A palavra companheiro
Me foi servida à mesa
Advogo a esperança
Aprendi desde criança
Ser eu minha fortaleza
Amar e mudar a vida
É o que me interessa
Nunca fui a preferida
Também nunca tive pressa
Creio no socialismo
Abaixo o obscurantismo
Ser livre é bom à bessa
Quando vou à julgamento
Em período de eleição
É grande o meu tormento
Pois não faço concessão
Sou fiel ao que defendo
Somente ao verso me rendo
De nada mais abro mão
Sou poetisa “maudita”
Vomito o meu folheto
A palavra me excita
É nela que eu me meto
I n t e r t e x t u a l i d a d e
Sair da realidade
É tudo que eu prometo
Nem pop nem erudito
Língua gens, o que queremos
Não existe um veredicto
Com verso nos (co)movemos
Osvald e Patativa
Ninguém fica à deriva
No cordel que escrevemos
Eis, então, uma palhinha
Dum jeito de versejar
“Eu estou sempre na minha,
Todos querem imitar”
A verdade é que o bendito
Tem também sangue “maudito”
Só não sabe é delirar
Da cultura do cordel
É grande possuidora
Deste verso no papel
Mestre em sociologia
Surpreendeu-me outro dia
Com um intento cruel
Disse que tava estudando
A produção feminina
E andava investigando
Pra ver como a mulher rima
Falou de Sebastiana
Que eu reputo Soberana
E buliu com a minha sina
Disse então que pretendia
Pesquisar o meu poema
Eu senti naquele dia
Um misto de dor e pena
Meu verso é só distração
Pra expulsar solidão
Nada que mereça um tema
Mas, eis que ela insistiu
E eu quase fui compelida
Daí ela me inquiriu
Sobre o que passei na vida
Quis saber o que me fez
Delirar, pirar de vez
E me tornar atrevida
“Eu não sei falar de mim”
Respondi peremptória
Ela disse “mesmo assim
Conte-me a sua história”
E eu passei a discorrer
Cordelirando fui ver
O que tinha na memória:
Eu faço cordel porquê
Aprendi a escutar
E mesmo aprendi a ler
Vendo vovó recitar
História de Lampião
De Padim Ciço Romão
De João Grilo e Boi-bumbá
Eu devorava o “rumance”
Ligeiro, bem “de pressinha”
Quase que não dava a chance
Pra respiração que vinha
Eu tinha prazer demais
Lia até não querer mais
Mas só o que me convinha
Zé Alexandre, meu tio
Escreve como ninguém
Minha irmã chegou do Rio
E disse que lá também
Tem muita gente que gosta
E fez logo uma aposta
Fazendo de mim desdém
Disse que eu entendia
A gramática do Direito
Mas que eu não me atrevia
A “poetizar” perfeito
E eu parti pro desafio
Rabisquei noites a fio
Este foi o meu defeito
Fiz um verso todo torto
Fazendo uma mea-culpa
Era um texto absorto
Que até hoje me insulta
Eu detonava o Direito
Mas verseja sem jeito
Era minha “catapulta”
Daí pra frente tomei
Gosto por fazer cordel
Depois me bacharelei
E não soltei o papel
Me meti na poesia
“pão nosso de cada dia
Minha torre de babel”
Escrevi sobre a mulher
O meu tema preferido
Compreenda quem quiser
Pois meu verso é atrevido
Denuncio a violência
Dou nome a incompetência
Quero o machismo banido
Fiz cinco cordéis assim
Sobre a tal da opressão
Eu mesma me sinto em mim
Dada a minha condição
De mulher, de explorada
Comunista e engajada
“Advogada do cão”
Falei de gay, de amor
Entre homossexuais
Não faço nenhum favor
Contemplando os marginais
Sou porta-voz de outros lemas
Inovar, ver outros temas
É tudo que me apraz
Aids, que me preocupa
Já escrevi, já falei
Tudo isto me ocupa
Minhas mãos não lavarei
O cordel é instrumento
De luta e entretenimento
Com ele me emancipei
Se em São Paulo nasci
Foi por um mero acaso
Pras bandas do sul desci
Por conta desse atraso
A seca tangeu meus pais
Duas pessoas leais
Que pra viver não têm prazo
Do Brasil 500 anos
Eu já falei certo dia
Arrolei todos os danos
Fui lá na periferia
Foi quando virei “maudita”
Foi o dia da desdita
“Credo em cruz, ave maria”
Direito fundamental
Também foi tema abordado
É o mote principal
Do meu curso de Mestrado
Busquei socializar
E ao povo pobre ensinar
Pra não vê-lo humilhado
Leio minha militância
Nas linhas de meu cordel
Às vezes há petulância
Palavras cheias de fel
Mas se falo de amor
Faço-o com tal fervor
Me sinto dona do céu
Sendo filha de pedreiro
E de uma camponesa
A palavra companheiro
Me foi servida à mesa
Advogo a esperança
Aprendi desde criança
Ser eu minha fortaleza
Amar e mudar a vida
É o que me interessa
Nunca fui a preferida
Também nunca tive pressa
Creio no socialismo
Abaixo o obscurantismo
Ser livre é bom à bessa
Quando vou à julgamento
Em período de eleição
É grande o meu tormento
Pois não faço concessão
Sou fiel ao que defendo
Somente ao verso me rendo
De nada mais abro mão
Sou poetisa “maudita”
Vomito o meu folheto
A palavra me excita
É nela que eu me meto
I n t e r t e x t u a l i d a d e
Sair da realidade
É tudo que eu prometo
Nem pop nem erudito
Língua gens, o que queremos
Não existe um veredicto
Com verso nos (co)movemos
Osvald e Patativa
Ninguém fica à deriva
No cordel que escrevemos
Eis, então, uma palhinha
Dum jeito de versejar
“Eu estou sempre na minha,
Todos querem imitar”
A verdade é que o bendito
Tem também sangue “maudito”
Só não sabe é delirar
Bênçãos Salete Maria!Obrigado por mas esse exercício! http://www.youtube.com/watch?v=RVlsYOCYIPg
ResponderExcluirBeijos Deth Haak " A Poetisa dos Ventos"