domingo, 27 de julho de 2008

CIDADANIA Nome de Mulher


Quando minha bisavó
Vivia pelo sertão
Era um tempo de aperreio
Era grande a precisão
Mulher não tinha direito
Pro homem tudo era feito
Só ele era cidadão

Era comum se ouvir
Que mulher vive é calada
Faz a vontade do homem
Para não ficar “falada”
A mulher era um objeto
Casava pra ter um teto
E cuidar da filharada

A mulher também não tinha
Nenhum prazer sexual
Nem mesmo sonho ou desejo
Vivia como animal
Servia sempre seu dono
Ou caía no abandono
Era o destino fatal

Se quisesse trabalhar
Seria dentro de casa
Estudar era um perigo
Pois podia criar “asa”
A família exigia
Q’ela se casasse um dia
Pra ver se desencalhava

Era grande o sofrimento
Da mulher daqueles dias
Não se falava em direito
Tudo isso era utopia
Bastante coisa mudou
Mas ela continuou
Vítima da covardia

Lutar, eu sei que lutou
Se pôs contra a monarquia
Deu à luz o cidadão
Mesmo sem cidadania
Se organizou, foi à rua
Rasgou o véu, ficou nua
Pugnou por alforria

Enfrentou os militares
Disse: “queremos votar”
Ajudou fundar partidos
Deixou de silenciar
Lançou sua voz ao vento
No Poder tomou assento
Conseguiu se emancipar

Por conta de sua luta
Um preço sempre pagou
Pois mentes reacionárias
O mundo sempre gerou
Mas foi no capitalismo
Onde o crescente machismo
Outras proporções tomou

Variadas são as faces
Dos crimes contra a mulher
A violência velada
Ninguém vê, ninguém dá fé
Mas quando é ostensiva
O mundo todo se esquiva
“e ninguém mete a colher”

Há casos onde a vítima
É tida como culpada
O mundo todo pergunta
Pelo que fez a finada
Como querendo saber
Se ela fez por merecer
Ter a vida abreviada

A opressão feminina
É algo muito cruel
E apesar dos direitos
Insculpidos no papel
A violência avança
Matando até criança
De forma torpe e cruel

Aqui no meu Cariri
Dos limites já passou
Pois diversas companheiras
O machismo já matou
Foi crime de toda forma
E que ninguém se conforma
Passe quanto tempo for

Mulher de todas as classes
De idades variadas
Algumas desconhecidas
Outras identificadas
Morreram barbaramente
Mas seus algozes contentes
Estão soltos, a dar risadas

Mas vamos somando braços,
Mãos, cabeças, coração
Sigamos os nossos passos
Nenhuma luta é em vão
A conquista do presente
Foi no passado a semente
Que se plantou nesse chão

Para se fazer justiça
Não há só o tribunal
A gente também conquista
A luta em palco real
Pois se o governo demora
E o parlamento ignora
É porque votamos mal

Vamos mostrar que pensamos
E procriamos idéias
E que não só menstruamos
Gritemos em assembléia
Cidadania se quer
E tem nome de mulher
Eis a nossa epopéia

Uma questão de justiça
Estamos a colocar
Ninguém pode ser omissa
O tempo é de lutar
“Cidadania-Mulher”
É tudo que a gente quer
Não podemos mais calar

Não é justo que hoje em dia
Nada possamos fazer
Pois se vovó não queria
Desta maneira viver
Como poderemos nós
Quase cem anos após
À opressão nos render?

Eis o nosso desafio
É preciso matutar
Vovó não tinha direito
Mas hoje direito há:
Para que cidadania?
Só pra rimar com Maria?
Ou pra se exercitar?

Repito: cidadania
Já tem nome de mulher
Se não vem delegacia
Então mostremos quem é
A autoridade vil
Que com má-fé e ardil
Faz conosco o que bem quer

E pra finalizar
Um convite a OAB
(Para a luta não parar
Para não arrefecer)
Vamos nos somar agora
“pois quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”

3 comentários:

  1. Que lindo, adoro cordel,e esse além de lindo é forte e verdadeiro.Queria que todas as mulheres pudessem le-lo,e refletissem bem sobre o que elas são pra sociedade e sobre o que dizem que elas devem ser.Somos mais do que donas de casa,mães parideiras,empregadas ou qualquer outro rótulo.Nós podemos tudo,porque somos mulheres.E se tentarem atraves de qualquer tipo de violencia nos oprimir temos que revidar,protestar,e mostrar que de sexo frágil não temos nada!
    parabéns pelo blog!!!

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