quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O GRITO DOS "MAU" ENTENDIDOS

Era uma assembléia
Só de homossexuais
Era geral a geléia
Havia gente demais
O discurso era polido
Todo mundo era entendido
Nas ciências sociais

Chegou a televisão
E o jornal foi chamado
Não podia ser em vão
(Que evento do babado!)
O roxo e o rosa-choque
Prometiam dar ibope
(gay adora ser filmado)

Algo cultural rolava
Antes da programação
Chico César animava
Com uma bela canção
Logo se comprometeu:
“Esse homem nu sou eu”
-olhos de contemplação!-

Disse ainda sem pudor:
“eu já fui mulher, eu sei”
Vitor Fasano gritou:
“Eu to gostando, meu rei”
Pepeu Gomes aplaudindo:
“Já fui homem feminino,
Fiz escola, inaugurei...”

Cássia Eller convidada
Cantou exibindo a teta
Uma garota excitada
Pedia outra faceta
De repente o som parou
Ângela Ro Rô chegou:
“porrada ou um som porreta?”

Quando recitou Bethânia
A turma ficou ligada:
“quando você me entendeu
Eu não entendia nada”
Calcanhoto, seu recado:
“transito entre dois lados”
É verdadeira cantada.

Um amor tão delicado
Nenhum homem (lhe) daria
“Caetano tá enganado"
Grita João, brada Maria
Neste evento inusitado
Não há como ser lembrado
Se não for por alegria

Os crachás distribuídos
As teses por todo lado
Líderes já escolhidos
Para um debate animado
O “dignidade já!”
Era a senha pra entrar
Bastava ser delegado

A imprensa esperava
Um “furo” para mostrar
Mas ao passo que falava
Gabeira entrava no ar
Politizou o debate
E lançou um xeque-mate:
“gay também sabe votar”

Disse ele: “hoje eu sei
E o Brasil precisa ver
Que o movimento gay
Existe e é pra valer
Pra bater no preconceito
Pra lutar pelo direito
De amar e de viver!

O entendido precisa
Também se organizar
Tem de vestir a camisa
(de Vênus, é bom lembrar)
Neste mundo desigual
Quem for homossexual
Também precisa lutar!

É grande o preconceito
Contra o homossexual
Exijamos mais respeito
Da lei e do tribunal
Imposto também pagamos
Basta! Já não toleramos
A pecha de marginal

A violência também
Precisa ser combatida
Não é dado a ninguém
Manipular nossa vida
Ele ou ela, não importa
Se fulaninha “é morta”
Que seja uma morta-viva!

AIDS e DST’s
Assolam nosso habitat
Vamos fundar comitês
E contra elas lutar
Vamos junto com o povo
Construir um mundo novo
Onde o lema seja amar”

Ouvindo tudo calado
Um homem ficou de pé
Na roupa tinha um bordado
Escrito: “Jesus me quer”
Gabeira disse: você
Tem algo a nos dizer?
E ele: meu nome é Dé!

O povo todo aplaudiu
E ele continuou
Confessou usar “renew”
E disse: “sou o que sou,
“E venho de uma terra
Onde um padre, numa serra
Um dia me abençoou”

Ele invocou São Francisco:
“é dando que se recebe”
E elogiou Corisco:
“Mas Dadá é o que se pede”
E disse, sem preconceito:
“O rio só corre no leito,
Enquanto a margem não cede”

“Falsa é a sociedade
Que nos cospe e abomina
Eu lhes digo, em verdade
Ser ‘alegre’ é minha sina
Se um dia nasci homem,
Mesmo que tudo me tomem
Eu sempre quis ser menina”

“Por que não amaldiçoam
Os governos de opressão?
Por que só de nós caçoam
Diante da multidão?
O povo tem que entender
Porque o gay pode ser
Seu primo, pai ou irmão”

Ademais eu vou falar
-escute amigo meu-
“se o povo de Quixa(dá)
E se também Ama(deu)
Se o povo do Su(dão)
Ta(deu) para seu irmão
Por que não posso dar eu?”

E o debate seguiu
Num nível sempre elevado
Uma garota pediu
Que o tempo fosse marcado
Após as resoluções
Serviram as refeições
E um filme foi mostrado

Foi Aimeé e Jaguar
O filme que se exibiu
Um romance pra lembrar
Até o mês de abril
Quando o povo então verá
Os “mauditos” do Juá
Gritarem para o Brasil

O grito de que se fala
É o do “mau” entendido
Aquele que o mundo cala
Tal qual o mal resolvido
Pois o grito que escutei
Não foi o “ai, eu gozei!”
Foi o grito do oprimido

E para finalizar
Confesso que acordei
Fiquei então a pensar
Naquilo com que sonhei
É bom que não fique torto
O grito do povo morto
Eu só psicografei.

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