Extra! Extra! O cordel A História de Zé Leitor, bem como o Cordel Cidadania Nome de Mulher fizeram tanto sucesso que já estão na segunda edição! Viva!
De leitura fácil e didática, os cordéis de Salete Maria têm sido adotados em Escolas de ensino Fundamental e Médio para a discussão de temas pertinentes como aVelhice, Assédio Moral, Direitos dosHomossexuais, Direitos das Mulheres, Cidadania, Direitos Humanos em geral, etc. O diferencial da autora, além da primazia do verso são as figuras de linguagem, a intertextualidade e o modo como brinca com aspalavras.
Caso você também tenha interesse em adquirir os cordéis para uso pessoal ou trabalho em grupo, deixe um comentário neste post com o seu email que entraremos em contato. Vendemos os cordéis a preços módicos.
E sim, Zé Leitor veio de cara nova, olha aí:
Zé recebeu um convite
Que nunca foi feito antes
Pois era coisa de elite
Ou de jovens estudantes
Foi chamado a estudar
Escrever, ler e contar
Quanta coisa interessante!
Ficou meio pensativo
E disse para a mulher:
“Inté hoje eu sobrevivo
Sem sabê lê um papé
Agora nessa idade
Num tenho capacidade
Vou andar de marcha à ré?”
“Já não tenho condição
De aprendê o bê-a-bá
Tenho preocupação
Vivo só pra trabaiá
Agora esta invenção
Estudá, fazer lição
Para mim isto não dá”
A mulher disse: “José
Tu tá com medo de quê?
Sempre foi home de fé
Vai agora esmorecê?
Ta rejeitando a escola?
É direito e não esmola
Conforme ouvi dizê”
“Além do mais hoje em dia
Ninguém mais fica de lado
Aqui pela cercania
Tá todo mundo letrado
Home, muié e minino
Só tu não tá assitindo
O Brasil Alfabetizado”
“O povo qué estudá
Vai atrás e se concentra
Não dá pra desanimá
Na vida tudo se enfrenta
O passado já passou
O presente começou
O futuro a gente inventa”
“É mermo, tu tem razão
-disse José, de repente-
Num vou pagá um tostão
Isto me deixa contente
Vou apanhá um caderno
O mais bonito e moderno
E vou me dá de presente”
“Vou estudá, tá na hora
Vou tentá aprendê lê
Se eu nunca fui à escola
Não foi falta de querê
Desde cedo trabaiando
Meu velho pai ajudando
Levei a vida a sofrê”
“Assim como eu, milhares
Por este Brasil afora
Basta olhá nos olhares
Ninguém mais nos ignora
Eu vou sim, tô na peleja
Nada nos vem de bandeja
É chegada a minha hora”
“Vou tirá o atrasado
Nunca é tarde pra aprendê
Criança fui pro roçado
Hoje não sei escrevê
Mas sei que posso tentá
É tempo de avançá
Chega de teretetê”
A mulher disse: “Você
Já tá falando bonito
Mesmo não sabendo lê
Nada do que tá escrito
Já mostra que tem futuro
Vejo que está seguro
E em você acredito”
“Sei que é um dereito seu
Ter acesso aos estudo
Do tanto que tu viveu
O mundo mudou em tudo
Vá, José, vá estudá
Você só tem a ganhá
Já é um homem sortudo”
“Eu mermo sei lê um tico
Sei fazê um bilhetinho
As vezes até medito
E sonho mais um pouquinho
Se eu voltá a estudá
De tudo vou me alembrá
E progrido ligeirinho”
Zé ouvindo aquilo tudo
De pressa se decidiu
Deixou o olhar sisudo
O coração consentiu:
“Não custa nada tentá
E é tão bom estudá”
Pegou as coisas e saiu
Então foi ele à escola
Cheio de ansiedade
Levava numa sacola
Sonho e realidade
Chegou na sala e entrou
A professora falou:
“Nossa, que felicidade!”
“Seja bem vindo, amigo
Aproveite este momento
Esta escola é um abrigo
Tome logo seu assento
Aqui todo mundo ensina
Cada um é uma mina
Carregada de talento”
Cada um sabe um pouco
Da vida que tá lá fora
Antônio hoje está rouco
De gritar que vende amora
Maria, que é cozinheira
Hoje viu João na feira
Pertinho de onde ela mora”
“Maria Lúcia é avó
Joaquina se aposentou
Eduarda é o xodó
Porque nunca se casou
Socorro é rezadeira
Luís vai à gafieira
E Joana luta judô”
“São todos gente madura
Autoridades no lar
Ninguém aqui tem frescura
Todos querem estudar
Falamos do dia-a-dia
Um pouco da carestia
E de tudo quanto há”
José logo foi gostando
Daquele novo ambiente
Foi logo se enturmando
Achando o povo decente
Olhou em volta e sorriu
À vontade se sentiu
Pois “gente gosta é de gente”
Pegou papel e caneta
Ouviu a explicação
Lembrou da velha marreta
E do surrado macacão
As letras se embaralhavam
Parece até que mangavam
De sua concentração
Espremendo bem a vista
Ouviu tudo direitinho
No quadro tinha uma lista
De nomes bem bonitinho
A professora feliz
Usava um taco de giz
E falava bem mansinho
Tinha um “a” de avião
Um “e” de escadaria
Um “i” de informação
Um “o” de ovo, havia
Um “u” de uva, também
E ele, como ninguém
Naquilo se envolvia
Todo dia ele estudava
Depois de ter trabalhado
A professora falava
E ele compenetrado
Tinha muita explicação
Depois vinha uma lição
Do que fora ensinado
Via os colegas dizerem
Que queriam se formar
Pra uma festa fazerem
E muita gente chamar
Ele até pensava nisso:
“Imagine o rebuliço
Que neste vai dá”
Chegava em casa cansado
Ligava a televisão
Porém ficava espantado
Com tanta complicação
Via que pouco entendia
Pois como ainda não lia
Tudo era confusão
Viu a novela, o jornal
Ouviu notícias do mundo
Mas ao trocar de canal
Adormeceu num segundo
Sonhou com uma caneta
Comandando este planeta
E um papel branco de fundo
“Vixe que coisa medonha
Uma caneta falante
Com uma cara risonha
E em tamanho gigante”
E a caneta dizia:
“Olá, José!” e sorria
E lhe dava um diamante
Sobressaltado acordou
Achando aquilo estranho
De um desenho lembrou
Da forma, cor e tamanho
Olhou para seu netinho
Beijou-o devagarinho
Saiu e foi tomar banho
Achou que aquele sonho
Tinha algo a lhe dizer
Mas era muito medonho
No jeito de aparecer
Pra que caneta e papel
Comandando uma babel
Como podia entender?
Foi trabalhar matutando
E à noite foi estudar
A professora falando
E ele só a pensar
Na caneta e no papel
Sobrevoando o céu
Querendo lhe seqüestrar
Nesta noite nada viu
Que pudesse entreter
Quando da sala saiu
Sem nada ali entender
A professora sentiu
Que ele nada ouviu
E foi sondar pra saber:
“O que há com o senhor
Que nada quis comentar
Parece que não gostou
Da aula, do ensinar”
Ele disse: “não senhora
Eu tava meio por fora
Nada tenho a me queixar”
Ela insistiu: “o senhor
Tava absorto, perdido
Eu lhe peço, por favor
Não se sinta preterido
Se estiver desgostoso
Ou quem sabe ansioso
Pode se abrir comigo”
“Não, senhora, Ave Maria
A aula é muito boa
Me desculpe eu não queria
Ofender sua pessoa
É que eu às vezes penso
Este mundão é imenso
E a vida da gente voa”
“Eu tô aqui nesta idade
Tentando aprendê lê
Pois na minha mocidade
Isto não podia sê
Vivia para o roçado
Ganhando pouco, empregado
Vivendo ao léu, a mercê”
“Por isso mesmo o senhor
Deve dar valor a vida
Se viveu, se batalhou
Se sofreu sua ferida
Deve lembrar o poeta
Que constrói a sua meta
Na palavra proferida”
Diga que “valeu a pena”
Pois tudo vale na vida
“Se a alma não é pequena”
Nela tudo tem guarida
Viva o daqui pra frente
Vale viver o presente
Desta vida comovida
Ele disse: “a senhora
Tá coberta de razão
O que disse só melhora
O meu velho coração
Vou, sim, aprendê a lê
E um dia hei de escrever
Um verso cheio de emoção”
“Com muito afinco e prazer
Meteu a fazer lição
Queria logo aprender
E abrir sua visão
Dizia a sua mulher
Agora eu boto fé
Que serei um cidadão”
No trabalho ele falava
Do mundo que descobria
O servente o olhava
E muito pouco entendia
Mexendo massa e cimento
Só via o mundo cinzento
Por que tanta euforia?
No caderno escrevia
O próprio nome: J-O-S-É
Em voz alta ele lia:
“Jota, ó, ésse e é”
Falava de sua história
Do que tinha na memória
Da vida como ela é
Assim fazia progresso
Mas as vezes se zangava
Quando pegava um impresso
E pouca coisa encontrava
Do mundo em que ele vivia
Pois toda coisa que lia
De outro mundo falava
Ficava desiludido
Com tanta dificuldade
Sentava meio abatido
Contava sua idade
“Já tenho sessenta anos
Eu nem posso fazê planos
De ir para faculdade”
Mas a mulher companheira
Que um pouco sabia ler
Dizia à sua maneira:
“Zé, não se deixe abatê
Tu lendo a tua vida
Melhorando tua lida
Já é bastante o crescê”
Zé ouvia aquilo tudo
E matutava, baixinho:
“Nunca vou tê um canudo
Sempre serei Zé Povinho
Esse negócio de lê
Contá, falá, escrevê
Não é bem o meu caminho”
Mas ao mesmo tempo via
Que muita coisa mudava
Quando ia a padaria
O troco ele contava
Fazia atenta sondagem
Lia toda embalagem
Daquilo que ali comprava
Ao tomar a condução
Ia no transporte certo
Ao receber um cartão
Já entendia correto
Uma ficha preenchia
Um jornal ele já lia
O mundo tava mais perto
Mas algo ele queria
E desejava fazer
Seria naquele dia
Não podia mais conter
Iria ele, afinal
Ao cartório eleitoral
Seu nome subscrever
Queria votar, então
E decidir seu destino
Ao apertar o botão
Não se sentir tão cretino
Queria ver o seu nome
Assinar seu sobrenome
Na folha de papel fino
E assim tudo se deu
Ele se sentiu completo
Vendo ali o nome seu
E não mais “analfabeto”
Que prazer ele sentia
Ate chorou nesse dia
Olhando do piso ao teto
Mas outro desejo tinha
E queria realizar
Faria uma cartinha
Pra seu amor declarar
Diria para Helena
Sua esposa: “Pequena,
não me canso de te amá”
Queria deixar escrito
O que nunca registrou
Num texto muito bonito
Falando só de amor
Queria dizer a ela
Igual se diz na novela:
Você é a minha flor!
Mas tinha aquela vergonha
Podia parecer tolo
Tem coisa que a gente sonha
E a vida passa o rolo
Um homem da sua idade
Falar de amor e saudade
Só tendo cara de bolo
Procurou a professora
E falou do Ceará
Da seca devastadora
Que ele já viu por lá
Disse que tinha um parente
Que gostava de repente
E lhe ensinou a gostar
Disse que nas cantorias
Dos cantadô de viola
Sempre tinha uma magia
Igualzinha a da escola
As palavra vinham vindo
E os verso iam saindo
La do fundo da cachola
Falou que ouviu cordel
Ser declamado na feira
Um poeta, um menestrel
Desses sem eira nem beira
Ensinava o povo lê
Sem grande esforço fazê
Somente na gemedeira
Disse que na sua terra
Tem verso para quem qué
E que lá tem uma serra
Por nome de Assaré
Onde um poeta roceiro
O maió dos brasileiro
Mal rabiscava um papé
O poeta Patativa
Que Deus o tenha no céu
Foi uma ave nativa
Para o país um troféu
Home de pouca leitura
Mas de palavra segura
Partiu envolto num véu
A professora propôs:
Que tal você recitar
Hoje, amanhã ou depois
Do poeta popular
Um verso bem empolgado
Pra lembrar do seu passado
E também do seu lugar?
Que tal você nos trazer
Um cordel para leitura
Para a gente conhecer
Esta augusta criatura:
Patativa do Assaré
Que o mundo sabe quem é
Cheio de força e candura
Zé ficou maravilhado
E disse: Eu trago, sim
Já estou emocionado
É importante pra mim
Lê algo que me encanta
Que minha alma levanta
Obrigado, meu Padim!
E assim foi que se deu
No final daquele ano
Zé, logo que amanheceu,
Já tava fazendo plano
Mas suas pernas tremiam
Os lábios estremeciam
Era grande o desengano
No trabalho mal falou
E o companheiro sentiu
Um aperto o sufocou
Sua voz ninguém ouviu
Tava nervoso, coitado
Não se achava preparado
Pra tarefa que assumiu
Chegando em casa de volta
Da construção que fazia
A mulher viu a revolta
Pois seu olhar não mentia
E disse: Ô meu José
Onde anda a tua fé
Que é tua garantia?
Tá nervoso, acabrunhado
Porque vai se apresentá
Teu terno tá engomado
Eu já vou me arrumá
Quero vê tu recitando
Lendo um verso e comentando
Etecetera e coisa e tá
O medo se agigantava
E José não quis comer
Toda noite ele jantava
Conversava como o quê
Mas nesta noite, tadinho
Mal bebeu um bucadinho
Do chá que mandou fazê
E então todos partiram
Para a comemoração
Os colegas consentiram
Na tal apresentação
José faria a leitura
Dum cordel da criatura
Mais famosa do sertão
Na platéia a lhe sorrir
A mulher e um vizinho
Também estava ali
O servente “Seu Toninho”
Os colegas orgulhosos
Todos muito atenciosos
Para ouvir o tal versinho
Zé foi chamado e aplaudido
Mas só Deus via a aflição
Ela tava tão perdido
Quase golfa o coração
Mas mesmo assim começou
Primeiro ele explicou
Quem foi Patativa, então
Disse que foi O Poeta
Mais sagrado do nordeste
Que sempre foi sua meta
Falar do cabra da peste
E que ficou conhecido
Por ser cantado e lido
Do litoral ao agreste
Sendo assim vou recitá
Um poema conhecido
Vaca Estrela e Boi Fubá
Foi gravado e foi ouvido
Um cantô do Ceará
Em sua voz fez soá
Em tom de pranto e gemido:
I
“ Seu dotô, me dê licença
Pra minha história eu contá
Se hoje eu tou na terra estranha
E é bem triste o meu pená,
Mas já fui muito feliz
Vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bom,
Gostava de campeá
E todo dia aboiava
Na portêra do currá
È ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá
II
Eu sou fio do Nordeste,
Não nego meu naturá
Mas uma seca medonha
Me tanjeu de lá pra cá
La eu tinha meu gadinho
Não é bom nem maginá
Minha bela Vaca Estrela
E o meu lindo Boi Fubá,
Quando era de tardezinha
Eu começava a aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela,
Ô ô ô ô Boi Fubá
III
Aquela seca medonha
Fez tudo se trapaiá;
Não nasceu capim no campo
Para o gado sustentá,
O sertão esturricou
Fez os açude secá
Morreu minha Vaca Estrela
Se acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha
Nunca mais pude aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá
IV
E hoje, nas terras do Su
Longe no torrão natá
Quando vejo em minha frente
Uma boiada passá
As água corre dos óio
Começo logo a chorá
Me lembro da Vaca Estrela
Me lembro do Boi Fubá;
Com sodade do Nordeste
Da vontade de aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá”
Todos então aplaudiram
A leitura emocionada
Muitos ali nunca ouviram
O som de uma toada
Ficaram muito tocados
Alguns choraram calados
Naquela noite encantada
A professora Luzia
Disse: Que bela leitura
Pois antes eu não sabia
Da sua desenvoltura
É bom a gente entender
E ver um leitor nascer
Ensinando outra cultura
Vejo que muito de vós
Se desencantam ao ler
Mas cabe sempre a nós
Procurar lhes conhecer
Pois é preciso criar
Formas de estimular
E o neoleitor envolver
Com um poema matuto
Zé mostrou que sabe ler
Ler a vida, ler o mundo
Ler um texto e escrever
Se reconhecer sujeito
Ler e ficar satisfeito
Por tudo ali entender
Escolhendo a leitura
Pelo autor e pelo tema
Mostrou de forma segura
Que aprecia um poema
Que fala do que lhe toca
E emoção lhe provoca
E faz a vida amena
Eis uma boa lição
Que Zé nos deu neste dia
Sua apresentação
Causa gosto e alegria
Estimula a prosseguir
A sonhar e evoluir
Com muita fé e magia
Zé, então, agradeceu
A condição de aprendiz
E tirou do bolso seu
Um pedacinho de giz
E disse: Quero escrevê
Para meus colega lê
O que meu coração diz
Do quadro se aproximou
E rabiscou devagar
A professora notou
Que ele estava a chorar
Uma frase desenhou
Dizendo: “Eu nada sou
Sem Helena a me amar”
Uma colega foi lendo
O que José escrevia
Helena se comovendo
Falar já não conseguia
Toninho, o companheiro
Decidiu-se bem ligeiro
Que também aprenderia
Falou para os presentes:
Eu farei como José
Estamos todos contentes
Vejo agora que da pé
Vou também aprender ler
Contar, falar, escrever
E amar minha mulher
Foi muito contagiante
O momento da leitura
A partir daquele instante
Surgia nova postura
Ficando ali declarado
Brasil Alfabetizado?
Pra todos literatura!
E assim se deu então
A história de Zé Leitor
Não foi contada em vão
Aqui fala o narrador
O nosso objetivo
É dizer que sem ter livro
Não vale o que se plantou
E livro de toda cor
Livro que fale de tudo
Não só livro de doutor
Nem só livro de estudo
Livro para relaxar
Para rir, para chorar
Para cego e para mudo
Que venha livro a mão-cheia
Que venha livro de esquema
Livros fartos para a ceia
Livro de reza e poema
Livro de gente modesta
De guerra, luto e festa
De romance e de cinema
Livro para estimular
A quem aprendeu a ler
Livro para conquistar
Quem não sabia escrever
Livro para abrir a mente
Que deixe a gente contente
E que se faça entender
Que ninguém deixe de ler
Porque não pode comprar
Que o povo possa viver
Literalmente a amar
A nossa literatura
Que representa a cultura
De todo canto que há
Assim então nós teremos
Um Brasil maravilhado
Pois todos nos já sabemos
Como se deu no passado
Poucos nesta terra liam
E quanto menos sabiam
Mas fácil eram enganados
Hoje com a educação
Para jovem e adulto
Não basta terem na mão
Um livro de grande vulto
É preciso estimular
O prazer de estudar
A partir do seu reduto
Aos poucos se vai sabendo
Que somos um universo
Quando se vai conhecendo
O valor que tem um verso
Pois na terra de José
Só se bota no papé
Aquilo em que tá imerso
Literatura em geral
Deve se patrocinar
Desde a cultura oral
Á mais moderna que há
Um blog de poesia
Pra se ler com alegria
Quando já se chegou lá
Por fim, que o Zé Leitor
Possa servir de esperança
E que cada professor
Equilibre na balança
Um pouco de seu saber
E do que pode aprender
Com velho, moço e criança
Que a escola do mundo
Mostre o seu conteúdo
Pois o saber mais profundo
Não se extrai só dum canudo
Que a leitura da vida
Possa ser a preferida
Tal qual num cinema mudo
Zé Leitor é ficção
Mas há na realidade
Abrindo o coração
Se vê José de verdade
Querendo ler um cordel
Ou rabiscando um papel
No campo ou na cidade
É só abrir a janela
E ver a realidade
Nem toda historia é novela
Nem todo choro é saudade
Nem todo texto se vende
Nem toda obra se entende
Nem todo velho é de idade
Nem todo Leitor é Zé
Nem toda obra é de arte
Nem todo pé tem chulé
Nem toda pausa é enfarte
Nem sempre o tempo é perdido
Nem todo escritor é lido
Nem tudo que trinca, parte
Nem sempre a educação
Corrigiu desigualdade
Nem toda proposição
Contempla a diversidade
Nem todo alfabetizado
Lê um texto emocionado
Com amor e sinceridade
Aqui fica o meu recado
Eu que adoro cordel
Se ficou interessado
Por este simples papel
Me manda uma carta, entao
Pois ninguém escreve em vão
Quando o limite é o céu!
Que nunca foi feito antes
Pois era coisa de elite
Ou de jovens estudantes
Foi chamado a estudar
Escrever, ler e contar
Quanta coisa interessante!
Ficou meio pensativo
E disse para a mulher:
“Inté hoje eu sobrevivo
Sem sabê lê um papé
Agora nessa idade
Num tenho capacidade
Vou andar de marcha à ré?”
“Já não tenho condição
De aprendê o bê-a-bá
Tenho preocupação
Vivo só pra trabaiá
Agora esta invenção
Estudá, fazer lição
Para mim isto não dá”
A mulher disse: “José
Tu tá com medo de quê?
Sempre foi home de fé
Vai agora esmorecê?
Ta rejeitando a escola?
É direito e não esmola
Conforme ouvi dizê”
“Além do mais hoje em dia
Ninguém mais fica de lado
Aqui pela cercania
Tá todo mundo letrado
Home, muié e minino
Só tu não tá assitindo
O Brasil Alfabetizado”
“O povo qué estudá
Vai atrás e se concentra
Não dá pra desanimá
Na vida tudo se enfrenta
O passado já passou
O presente começou
O futuro a gente inventa”
“É mermo, tu tem razão
-disse José, de repente-
Num vou pagá um tostão
Isto me deixa contente
Vou apanhá um caderno
O mais bonito e moderno
E vou me dá de presente”
“Vou estudá, tá na hora
Vou tentá aprendê lê
Se eu nunca fui à escola
Não foi falta de querê
Desde cedo trabaiando
Meu velho pai ajudando
Levei a vida a sofrê”
“Assim como eu, milhares
Por este Brasil afora
Basta olhá nos olhares
Ninguém mais nos ignora
Eu vou sim, tô na peleja
Nada nos vem de bandeja
É chegada a minha hora”
“Vou tirá o atrasado
Nunca é tarde pra aprendê
Criança fui pro roçado
Hoje não sei escrevê
Mas sei que posso tentá
É tempo de avançá
Chega de teretetê”
A mulher disse: “Você
Já tá falando bonito
Mesmo não sabendo lê
Nada do que tá escrito
Já mostra que tem futuro
Vejo que está seguro
E em você acredito”
“Sei que é um dereito seu
Ter acesso aos estudo
Do tanto que tu viveu
O mundo mudou em tudo
Vá, José, vá estudá
Você só tem a ganhá
Já é um homem sortudo”
“Eu mermo sei lê um tico
Sei fazê um bilhetinho
As vezes até medito
E sonho mais um pouquinho
Se eu voltá a estudá
De tudo vou me alembrá
E progrido ligeirinho”
Zé ouvindo aquilo tudo
De pressa se decidiu
Deixou o olhar sisudo
O coração consentiu:
“Não custa nada tentá
E é tão bom estudá”
Pegou as coisas e saiu
Então foi ele à escola
Cheio de ansiedade
Levava numa sacola
Sonho e realidade
Chegou na sala e entrou
A professora falou:
“Nossa, que felicidade!”
“Seja bem vindo, amigo
Aproveite este momento
Esta escola é um abrigo
Tome logo seu assento
Aqui todo mundo ensina
Cada um é uma mina
Carregada de talento”
Cada um sabe um pouco
Da vida que tá lá fora
Antônio hoje está rouco
De gritar que vende amora
Maria, que é cozinheira
Hoje viu João na feira
Pertinho de onde ela mora”
“Maria Lúcia é avó
Joaquina se aposentou
Eduarda é o xodó
Porque nunca se casou
Socorro é rezadeira
Luís vai à gafieira
E Joana luta judô”
“São todos gente madura
Autoridades no lar
Ninguém aqui tem frescura
Todos querem estudar
Falamos do dia-a-dia
Um pouco da carestia
E de tudo quanto há”
José logo foi gostando
Daquele novo ambiente
Foi logo se enturmando
Achando o povo decente
Olhou em volta e sorriu
À vontade se sentiu
Pois “gente gosta é de gente”
Pegou papel e caneta
Ouviu a explicação
Lembrou da velha marreta
E do surrado macacão
As letras se embaralhavam
Parece até que mangavam
De sua concentração
Espremendo bem a vista
Ouviu tudo direitinho
No quadro tinha uma lista
De nomes bem bonitinho
A professora feliz
Usava um taco de giz
E falava bem mansinho
Tinha um “a” de avião
Um “e” de escadaria
Um “i” de informação
Um “o” de ovo, havia
Um “u” de uva, também
E ele, como ninguém
Naquilo se envolvia
Todo dia ele estudava
Depois de ter trabalhado
A professora falava
E ele compenetrado
Tinha muita explicação
Depois vinha uma lição
Do que fora ensinado
Via os colegas dizerem
Que queriam se formar
Pra uma festa fazerem
E muita gente chamar
Ele até pensava nisso:
“Imagine o rebuliço
Que neste vai dá”
Chegava em casa cansado
Ligava a televisão
Porém ficava espantado
Com tanta complicação
Via que pouco entendia
Pois como ainda não lia
Tudo era confusão
Viu a novela, o jornal
Ouviu notícias do mundo
Mas ao trocar de canal
Adormeceu num segundo
Sonhou com uma caneta
Comandando este planeta
E um papel branco de fundo
“Vixe que coisa medonha
Uma caneta falante
Com uma cara risonha
E em tamanho gigante”
E a caneta dizia:
“Olá, José!” e sorria
E lhe dava um diamante
Sobressaltado acordou
Achando aquilo estranho
De um desenho lembrou
Da forma, cor e tamanho
Olhou para seu netinho
Beijou-o devagarinho
Saiu e foi tomar banho
Achou que aquele sonho
Tinha algo a lhe dizer
Mas era muito medonho
No jeito de aparecer
Pra que caneta e papel
Comandando uma babel
Como podia entender?
Foi trabalhar matutando
E à noite foi estudar
A professora falando
E ele só a pensar
Na caneta e no papel
Sobrevoando o céu
Querendo lhe seqüestrar
Nesta noite nada viu
Que pudesse entreter
Quando da sala saiu
Sem nada ali entender
A professora sentiu
Que ele nada ouviu
E foi sondar pra saber:
“O que há com o senhor
Que nada quis comentar
Parece que não gostou
Da aula, do ensinar”
Ele disse: “não senhora
Eu tava meio por fora
Nada tenho a me queixar”
Ela insistiu: “o senhor
Tava absorto, perdido
Eu lhe peço, por favor
Não se sinta preterido
Se estiver desgostoso
Ou quem sabe ansioso
Pode se abrir comigo”
“Não, senhora, Ave Maria
A aula é muito boa
Me desculpe eu não queria
Ofender sua pessoa
É que eu às vezes penso
Este mundão é imenso
E a vida da gente voa”
“Eu tô aqui nesta idade
Tentando aprendê lê
Pois na minha mocidade
Isto não podia sê
Vivia para o roçado
Ganhando pouco, empregado
Vivendo ao léu, a mercê”
“Por isso mesmo o senhor
Deve dar valor a vida
Se viveu, se batalhou
Se sofreu sua ferida
Deve lembrar o poeta
Que constrói a sua meta
Na palavra proferida”
Diga que “valeu a pena”
Pois tudo vale na vida
“Se a alma não é pequena”
Nela tudo tem guarida
Viva o daqui pra frente
Vale viver o presente
Desta vida comovida
Ele disse: “a senhora
Tá coberta de razão
O que disse só melhora
O meu velho coração
Vou, sim, aprendê a lê
E um dia hei de escrever
Um verso cheio de emoção”
“Com muito afinco e prazer
Meteu a fazer lição
Queria logo aprender
E abrir sua visão
Dizia a sua mulher
Agora eu boto fé
Que serei um cidadão”
No trabalho ele falava
Do mundo que descobria
O servente o olhava
E muito pouco entendia
Mexendo massa e cimento
Só via o mundo cinzento
Por que tanta euforia?
No caderno escrevia
O próprio nome: J-O-S-É
Em voz alta ele lia:
“Jota, ó, ésse e é”
Falava de sua história
Do que tinha na memória
Da vida como ela é
Assim fazia progresso
Mas as vezes se zangava
Quando pegava um impresso
E pouca coisa encontrava
Do mundo em que ele vivia
Pois toda coisa que lia
De outro mundo falava
Ficava desiludido
Com tanta dificuldade
Sentava meio abatido
Contava sua idade
“Já tenho sessenta anos
Eu nem posso fazê planos
De ir para faculdade”
Mas a mulher companheira
Que um pouco sabia ler
Dizia à sua maneira:
“Zé, não se deixe abatê
Tu lendo a tua vida
Melhorando tua lida
Já é bastante o crescê”
Zé ouvia aquilo tudo
E matutava, baixinho:
“Nunca vou tê um canudo
Sempre serei Zé Povinho
Esse negócio de lê
Contá, falá, escrevê
Não é bem o meu caminho”
Mas ao mesmo tempo via
Que muita coisa mudava
Quando ia a padaria
O troco ele contava
Fazia atenta sondagem
Lia toda embalagem
Daquilo que ali comprava
Ao tomar a condução
Ia no transporte certo
Ao receber um cartão
Já entendia correto
Uma ficha preenchia
Um jornal ele já lia
O mundo tava mais perto
Mas algo ele queria
E desejava fazer
Seria naquele dia
Não podia mais conter
Iria ele, afinal
Ao cartório eleitoral
Seu nome subscrever
Queria votar, então
E decidir seu destino
Ao apertar o botão
Não se sentir tão cretino
Queria ver o seu nome
Assinar seu sobrenome
Na folha de papel fino
E assim tudo se deu
Ele se sentiu completo
Vendo ali o nome seu
E não mais “analfabeto”
Que prazer ele sentia
Ate chorou nesse dia
Olhando do piso ao teto
Mas outro desejo tinha
E queria realizar
Faria uma cartinha
Pra seu amor declarar
Diria para Helena
Sua esposa: “Pequena,
não me canso de te amá”
Queria deixar escrito
O que nunca registrou
Num texto muito bonito
Falando só de amor
Queria dizer a ela
Igual se diz na novela:
Você é a minha flor!
Mas tinha aquela vergonha
Podia parecer tolo
Tem coisa que a gente sonha
E a vida passa o rolo
Um homem da sua idade
Falar de amor e saudade
Só tendo cara de bolo
Procurou a professora
E falou do Ceará
Da seca devastadora
Que ele já viu por lá
Disse que tinha um parente
Que gostava de repente
E lhe ensinou a gostar
Disse que nas cantorias
Dos cantadô de viola
Sempre tinha uma magia
Igualzinha a da escola
As palavra vinham vindo
E os verso iam saindo
La do fundo da cachola
Falou que ouviu cordel
Ser declamado na feira
Um poeta, um menestrel
Desses sem eira nem beira
Ensinava o povo lê
Sem grande esforço fazê
Somente na gemedeira
Disse que na sua terra
Tem verso para quem qué
E que lá tem uma serra
Por nome de Assaré
Onde um poeta roceiro
O maió dos brasileiro
Mal rabiscava um papé
O poeta Patativa
Que Deus o tenha no céu
Foi uma ave nativa
Para o país um troféu
Home de pouca leitura
Mas de palavra segura
Partiu envolto num véu
A professora propôs:
Que tal você recitar
Hoje, amanhã ou depois
Do poeta popular
Um verso bem empolgado
Pra lembrar do seu passado
E também do seu lugar?
Que tal você nos trazer
Um cordel para leitura
Para a gente conhecer
Esta augusta criatura:
Patativa do Assaré
Que o mundo sabe quem é
Cheio de força e candura
Zé ficou maravilhado
E disse: Eu trago, sim
Já estou emocionado
É importante pra mim
Lê algo que me encanta
Que minha alma levanta
Obrigado, meu Padim!
E assim foi que se deu
No final daquele ano
Zé, logo que amanheceu,
Já tava fazendo plano
Mas suas pernas tremiam
Os lábios estremeciam
Era grande o desengano
No trabalho mal falou
E o companheiro sentiu
Um aperto o sufocou
Sua voz ninguém ouviu
Tava nervoso, coitado
Não se achava preparado
Pra tarefa que assumiu
Chegando em casa de volta
Da construção que fazia
A mulher viu a revolta
Pois seu olhar não mentia
E disse: Ô meu José
Onde anda a tua fé
Que é tua garantia?
Tá nervoso, acabrunhado
Porque vai se apresentá
Teu terno tá engomado
Eu já vou me arrumá
Quero vê tu recitando
Lendo um verso e comentando
Etecetera e coisa e tá
O medo se agigantava
E José não quis comer
Toda noite ele jantava
Conversava como o quê
Mas nesta noite, tadinho
Mal bebeu um bucadinho
Do chá que mandou fazê
E então todos partiram
Para a comemoração
Os colegas consentiram
Na tal apresentação
José faria a leitura
Dum cordel da criatura
Mais famosa do sertão
Na platéia a lhe sorrir
A mulher e um vizinho
Também estava ali
O servente “Seu Toninho”
Os colegas orgulhosos
Todos muito atenciosos
Para ouvir o tal versinho
Zé foi chamado e aplaudido
Mas só Deus via a aflição
Ela tava tão perdido
Quase golfa o coração
Mas mesmo assim começou
Primeiro ele explicou
Quem foi Patativa, então
Disse que foi O Poeta
Mais sagrado do nordeste
Que sempre foi sua meta
Falar do cabra da peste
E que ficou conhecido
Por ser cantado e lido
Do litoral ao agreste
Sendo assim vou recitá
Um poema conhecido
Vaca Estrela e Boi Fubá
Foi gravado e foi ouvido
Um cantô do Ceará
Em sua voz fez soá
Em tom de pranto e gemido:
I
“ Seu dotô, me dê licença
Pra minha história eu contá
Se hoje eu tou na terra estranha
E é bem triste o meu pená,
Mas já fui muito feliz
Vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bom,
Gostava de campeá
E todo dia aboiava
Na portêra do currá
È ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá
II
Eu sou fio do Nordeste,
Não nego meu naturá
Mas uma seca medonha
Me tanjeu de lá pra cá
La eu tinha meu gadinho
Não é bom nem maginá
Minha bela Vaca Estrela
E o meu lindo Boi Fubá,
Quando era de tardezinha
Eu começava a aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela,
Ô ô ô ô Boi Fubá
III
Aquela seca medonha
Fez tudo se trapaiá;
Não nasceu capim no campo
Para o gado sustentá,
O sertão esturricou
Fez os açude secá
Morreu minha Vaca Estrela
Se acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha
Nunca mais pude aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá
IV
E hoje, nas terras do Su
Longe no torrão natá
Quando vejo em minha frente
Uma boiada passá
As água corre dos óio
Começo logo a chorá
Me lembro da Vaca Estrela
Me lembro do Boi Fubá;
Com sodade do Nordeste
Da vontade de aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá”
Todos então aplaudiram
A leitura emocionada
Muitos ali nunca ouviram
O som de uma toada
Ficaram muito tocados
Alguns choraram calados
Naquela noite encantada
A professora Luzia
Disse: Que bela leitura
Pois antes eu não sabia
Da sua desenvoltura
É bom a gente entender
E ver um leitor nascer
Ensinando outra cultura
Vejo que muito de vós
Se desencantam ao ler
Mas cabe sempre a nós
Procurar lhes conhecer
Pois é preciso criar
Formas de estimular
E o neoleitor envolver
Com um poema matuto
Zé mostrou que sabe ler
Ler a vida, ler o mundo
Ler um texto e escrever
Se reconhecer sujeito
Ler e ficar satisfeito
Por tudo ali entender
Escolhendo a leitura
Pelo autor e pelo tema
Mostrou de forma segura
Que aprecia um poema
Que fala do que lhe toca
E emoção lhe provoca
E faz a vida amena
Eis uma boa lição
Que Zé nos deu neste dia
Sua apresentação
Causa gosto e alegria
Estimula a prosseguir
A sonhar e evoluir
Com muita fé e magia
Zé, então, agradeceu
A condição de aprendiz
E tirou do bolso seu
Um pedacinho de giz
E disse: Quero escrevê
Para meus colega lê
O que meu coração diz
Do quadro se aproximou
E rabiscou devagar
A professora notou
Que ele estava a chorar
Uma frase desenhou
Dizendo: “Eu nada sou
Sem Helena a me amar”
Uma colega foi lendo
O que José escrevia
Helena se comovendo
Falar já não conseguia
Toninho, o companheiro
Decidiu-se bem ligeiro
Que também aprenderia
Falou para os presentes:
Eu farei como José
Estamos todos contentes
Vejo agora que da pé
Vou também aprender ler
Contar, falar, escrever
E amar minha mulher
Foi muito contagiante
O momento da leitura
A partir daquele instante
Surgia nova postura
Ficando ali declarado
Brasil Alfabetizado?
Pra todos literatura!
E assim se deu então
A história de Zé Leitor
Não foi contada em vão
Aqui fala o narrador
O nosso objetivo
É dizer que sem ter livro
Não vale o que se plantou
E livro de toda cor
Livro que fale de tudo
Não só livro de doutor
Nem só livro de estudo
Livro para relaxar
Para rir, para chorar
Para cego e para mudo
Que venha livro a mão-cheia
Que venha livro de esquema
Livros fartos para a ceia
Livro de reza e poema
Livro de gente modesta
De guerra, luto e festa
De romance e de cinema
Livro para estimular
A quem aprendeu a ler
Livro para conquistar
Quem não sabia escrever
Livro para abrir a mente
Que deixe a gente contente
E que se faça entender
Que ninguém deixe de ler
Porque não pode comprar
Que o povo possa viver
Literalmente a amar
A nossa literatura
Que representa a cultura
De todo canto que há
Assim então nós teremos
Um Brasil maravilhado
Pois todos nos já sabemos
Como se deu no passado
Poucos nesta terra liam
E quanto menos sabiam
Mas fácil eram enganados
Hoje com a educação
Para jovem e adulto
Não basta terem na mão
Um livro de grande vulto
É preciso estimular
O prazer de estudar
A partir do seu reduto
Aos poucos se vai sabendo
Que somos um universo
Quando se vai conhecendo
O valor que tem um verso
Pois na terra de José
Só se bota no papé
Aquilo em que tá imerso
Literatura em geral
Deve se patrocinar
Desde a cultura oral
Á mais moderna que há
Um blog de poesia
Pra se ler com alegria
Quando já se chegou lá
Por fim, que o Zé Leitor
Possa servir de esperança
E que cada professor
Equilibre na balança
Um pouco de seu saber
E do que pode aprender
Com velho, moço e criança
Que a escola do mundo
Mostre o seu conteúdo
Pois o saber mais profundo
Não se extrai só dum canudo
Que a leitura da vida
Possa ser a preferida
Tal qual num cinema mudo
Zé Leitor é ficção
Mas há na realidade
Abrindo o coração
Se vê José de verdade
Querendo ler um cordel
Ou rabiscando um papel
No campo ou na cidade
É só abrir a janela
E ver a realidade
Nem toda historia é novela
Nem todo choro é saudade
Nem todo texto se vende
Nem toda obra se entende
Nem todo velho é de idade
Nem todo Leitor é Zé
Nem toda obra é de arte
Nem todo pé tem chulé
Nem toda pausa é enfarte
Nem sempre o tempo é perdido
Nem todo escritor é lido
Nem tudo que trinca, parte
Nem sempre a educação
Corrigiu desigualdade
Nem toda proposição
Contempla a diversidade
Nem todo alfabetizado
Lê um texto emocionado
Com amor e sinceridade
Aqui fica o meu recado
Eu que adoro cordel
Se ficou interessado
Por este simples papel
Me manda uma carta, entao
Pois ninguém escreve em vão
Quando o limite é o céu!
parabéns salete!!
ResponderExcluircordéis às crancinhas, muito bom!
Salete, sou uma apixonada pela literartura de cordel,acho o seu trabalho simplesmente fantástico.
ResponderExcluirTambém escrevo as minhas histórias em forma de verso, porém sempre encontro dificuldades na hora de publicá-los, um deles é que nunca encontro um desenhista que possa fazer a arte da capa.
Você poderia me dar alguma dica nesse sentido?
Como é feita a arte do seu cordel?
Abraços
Valéria Morais
Pense num cordel massa pra fazer uma peça! AMEI! Parabéns, nega!
ResponderExcluir