quinta-feira, 6 de março de 2014

20 anos de Cordel, Tô Aqui pra Celebrar

20 ANOS DE CORDEL
TÔ AQUI PRA CELEBRAR

Vinte anos de cordel
- metade da minha vida! -
Cordelirando a granel
Em meio a gente querida
Minha arte é minha luz
A força que me conduz
Nesta estrada colorida

Aprendi com minha avó
Cega e analfabeta
Que um dia voltou ao pó
Mas segue inspirando a neta
Que não cansa de contar
Quão lindo era o versejar
Daquela velha poeta

Na linha familiar
Tem mais gente que ensina
Vale a pena registrar
Pois é rica a sua rima
Zé Alexandre é seu nome
Um poeta de renome
Que só faz coisa divina

Foi lendo para os parentes
Lá pela zona rural
E vendo eles contentes
Com aquele velho jornal
Que trazia as notícias
E expunha as malícias
De playboy a general

Recitando e divertindo
Família e agregado
Aos poucos eu fui sentindo
Que tinha algo de errado
Todo poeta era homem
Falando de lobisomem
E de príncipe encantado

As histórias tinham reis
Soldados e coronéis
Homens que faziam leis
Ou que eram bacharéis
O cabra macho era o tal
Androcentrismo total
E mulher não tinha vez

Foi no meio desse povo
Que fui talhando meu verso
Tecendo algo de novo
Esquisito e controverso
Botei a voz das meninas
Para quebrar a rotina
Dos machos desse universo

Aprimorei minha rima
Lendo outros cordelistas
Garimpei ouro na mina
Enquanto seguia pistas
Não gostei dos preconceitos
Rimei em prol do respeito
Às bandeiras feministas

Botei minha ideologia
Defendi o comunismo
Fiz cartas de alforria
Ironize o cinismo
Das regras capitalistas
E dos falsos moralistas
Com seus velhos catecismos

Juntei com outros Malditos
E o caldo engrossou
Meus poetas favoritos
Não deu outra, fiz amor
Criamos um movimento
Lançamos rimas ao vento
E muita coisa mudou

Fiz versos sobre viados
Travestis e prostitutas
Bêbados e tatuados
Velhos e filhos da puta
Valorizei lesbianas
Politizando as xanas
E mostrando suas lutas

Paguei um preço bem alto
Por rimar fora da ordem
Fui tomada de assalto
Por cães que ladram e mordem
Mas também tive prazeres
Satisfiz os meus quereres
Inaugurando desordens

Meus folhetos foram lidos
E foram disseminados
Alguns foram distorcidos
Outros são apropriados
Nas ruas e nas escolas
Em livretos e sacolas
Transmiti o meu recado

Tem cordel ovacionado
Premiado e em destaque
Teve cordel processado
Soltado mais do que traque
Tem cordel de toda sorte
Em Juazeiro do Norte
E a caminho do Iraque

Tem cordel investigado
Por gente que estuda mais
Alguns foram relançados
Outros já nem tenho mais
São feitos pra circular
E não para se guardar
Ou para quem pagar mais

Tem o blog pra quem quer
Ler sem precisar comprar
Pode acessar quem quiser
Pois eu busco praticar
Aquilo em que acredito
E também acho bonito
Saber socializar

São 20 anos de estrada
Mas só de publicação
É mais longa essa jornada
Conforme diz a canção
Tem gente que se inspira
E outro tanto que pira
Pra fazer imitação

Agradeço imensamente
A quem veio celebrar
Eu estou muito contente
Em poder lhes abraçar
Do fundo do coração
É imensa a emoção
Já não sei o que falar

Em resumo eis a história
Desse meu cordelirar
Se não me falha a memória
Vim aqui pra celebrar
E já que somos pinel
Vamos recitar cordel

E deixar de blá blá blá

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