terça-feira, 25 de março de 2014

OUTRAS PESSOAS



Negros, pobres, nordestinos
Deficientes, romeiros
Crentes, ateus, peregrinos
Camelôs e macumbeiros
Putas, loucos e viados
Viúvas e amancebados
Militantes, sem-dinheiro

Mendigos e solitários
Idosas e analfabetos
Maconheiros, operários
Favelados e sem-tetos
Camponeses, albergados
Jovens e desempregados
Freiras e mães-objeto

Cegos e presidiários
Viciados, andarilhos
Gordos e celibatários
Lésbicas e maltrapilhos
Estrangeiros, adotados
Apátridas, renegados
Aposentados, sem filhos

Albinos e orientais
Intersexos e autistas
Anões e bissexuais
Carecas e comunistas
Paraplégicos, videntes
Índios, afro-descendentes
Depressivos, anarquistas

Grafiteiros, pescadores
Funkeiros, cordelistas
Porteiros e catadores
Agricultores, bolsistas
Jovens, mastectomizadas
Velhas e abandonadas
Mortos-vivos, humoristas

Mudos e assexuados
Caipiras, ecologistas
Enfermos, desinformados
Destros e malabaristas
Tatuados, hemofílicos
Devotados e etílicos
Excluídos e cotistas

Quilombolas, ribeirinhos
Parideiras, abortistas
Anoréxicos, baixinhos
Flanelinhas, diaristas
Cadeirantes, vendedores
Bipolares, cuidadores
Figurantes, neo-artistas

Outras pessoas existem
- fora da Caras (de pau) -
Que, a seu modo insistem
Em consumir o jornal:
Seja dormindo com ele
Ou cagando em cima dele
Vão gerando outro know how

Outras pessoas existem
- fora do reality show -
Que, a seu modo, persistem
Em fazer seu próprio gol
Ganhando algumas partidas
- Perdendo tantas na vida -
Assim como elas, soul.

NEGRESTILOS


Somos tantos e diversos
Com cabelos acionados
Uns com luzes e reflexos
Outros tantos alisados
Black powers transeuntes
Negritudes flowers punks
Muitos somos afirmados

Negros trança rastafari
Dreadlooks e nagô
Negros lindos everbady
Negrinhos da Beija-Flor
Negros filhos, pais de santos
Bentos, beats, boys e bantos
Samba, roda, reggae e soul

Negro estilo multicores
Multicaras, multivozes
Multibeijos, multidores
Multividas, multidoses
Multilutas, multishows
Multisexos, multigols
Multisantos, multialgozes

Negros somos variados
Vivendo em todo lugar
Nalguns somos segregados
Noutros podemos mandar
Desempregado ou doutor
Ministro ou camelô
Quem pode nos segurar?

Negros como a bela noite
E qual a cor do pecado
Negros contra todo açoite
Do preconceito velado
Negros em favor da vida
Livre, leve e colorida
Cheia de axé e gingado

Negras tipo viva a cor
Negros tipo viva a vida
Negras fêmeas de valor
Negro história revolvida
Negros, negras, negritude
Negrestilo é atitude:
Danças, rezas e comida

Negros, negras, negrestilo
De negríssima negritude
Nigérrimo trocadilho
Negros, oh quanta saúde!
Negros de todo Brasil:
Negra pátria que pariu
Negro luta, não se ilude!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Cordel-Alvará Judicial

Em 1999, Salete Maria, na condição de Defensora Pública Voluntária na cidade de Caririaçu - CE, redigiu um Alvará Judicial em forma de cordel. Consegui o documento e coloco aqui para que vocês vejam a criatividade da poetisa!





sexta-feira, 21 de março de 2014

DRAMATICORDEL

Para quem não pôde comparecer à festa dos 20 anos de publicação dos cordéis de Salete Maria, segue o vídeo exibido no Dramaticordel.
Trata-se de um Ensaio Para um Cordel de Salete Maria, realizado pelas atrizes Joaquina Carlos e Sammyra Santana, filmado pelo grande artista caririense Elizieldon Dantas e editado pela competente Fernanda Gislayne.
O Ensaio foi feito a partir do cordel EMBALANDO MENINAS EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA, realizado em estilo "Documentário", valendo-nos de nossas vozes, nossos vestidos, nossas vontades, nossos talentos e nossa admiração pela obra de Salete Maria.
Confiram:


Pode ser visto também diretamente no youTube, clicando AQUI!

sábado, 15 de março de 2014

O Cordel que Virou Filme...

O Cordel Milagre Travesthriller escrito por Salete Maria para seu amigo Orlando Pereira (in memoriam), virou filme! Orlando, junto com o coletivo Bando Cariri e a produtora Nivia Uchoa fizeram com que Shirley Dayana saltasse das páginas de cordel e ganhasse voz, rosto, corpo e muita graça!
Orlando já não tem mais sua presença física neste plano, mas, onde estiver, deve estar às gargalhadas vendo tudo tomar forma!

Disponibilizamos aqui o trailler para que vocês possam se deleitar e, assim como nós, esperarem ansiosos pelo lançamento deste filme-cordel!

http://www.youtube.com/watch?v=YQ1W78TG_24






Salete Maria dá entrevista para a Cariri Revista

No dia 11 de março, pela manhã, Salete Maria deu entrevista ao jornalista Felipe da Cariri Revista, sobre sua trajetória acadêmica-política-artística-literária. Mesmo acometida por uma forte virose, a cordelista não poupou esforços para divulgar sua história permeada de lutas em defesa daquelas e daqueles esquecidos pela sociedade e/ou de quem ninguém ousa falar! Quando a revista sair, prometo que posto em primeira mão!

Cariri Revista, edição atual.

Salete Maria que foi entrevistada por Felipe Azevedo e fotografada por Rafael Vilarouca

Falando sobre sua trajetória 

Entrevista para a Cariri Revista


Salete Maria participa do programa OUVIR DIREITO na Vale FM em Juazeiro do Norte, sobre Violência contra a Mulher

No dia 08 de Março, 13h, Salete Maria participou, junto com o Defensor Público de Juazeiro do Norte, Heitor Gadelha, do programa Ouvir Direito, na Radio Vale FM de Juazeiro do Norte, apresentado pela jornalista Célia Rodrigues. O programa contou com a participação popular, via telefônica, que perguntou e esclareceu dúvidas acerca do tema em questão: Violência Contra a Mulher. Confiram as fotos:









20 anos de Cordel Feminista e Libertário!

Vejam as fotos da FESTA DOS 20 ANOS DE CORDELÍRIO FEMINISTA E LIBERTÁRIO DE SALETE MARIA, realizada dia 08 de Março, às 18h no Teatro Patativa do Assaré, no SESC de Juazeiro do Norte - CE. A Programação contou com DRAMATICORDEL, onde foi exibido um ensaio sobre o cordel Embalando Meninas em Tempos de Violência; MUSICORDEL, com a exibição do video da cantora paraibana Socorro Lira que musicou o cordel Maria de Araújo e Seu Lugar na História, SOLTANDO O VERS(B)O, onde convidados falaram sobre suas experiências na trajetória  cordelírica de Salete Maria, dentre os quais esta que vos escreve, falou sobre a criação deste blog e da importância do mesmo para difundir a literatura de cordel, dialogar com outras pessoas e como fonte de pesquisas acadêmicas. Neste momento houve espaço para o CINECORDEL com a exibição inédita do trailler de Travesthriller, filme baseado no cordel Milagre Travesthriller; CORDEL-JOGRAL onde a platéia recitou o neo cordel Guerreiras do Cariri; CORDELIRANDO onde Salete Maria fala um pouco sobre estes 20 anos de publicação e recita alguns cordéis, contando com a participação de Zé Alexandre, seu tio e também cordelista; HORA DO BOLO E HORA DO ROLO, onde cantamos parabéns e socializamos. 

Este painel foi disputado! todas e todos queriam fotografar com ele de fundo! Obra de Alana Maria

Salete Maria celebrando seus 20 anos de publicação cordelírica!

A platéia atenta às atrações!

Jornalista Célia Rodrigues, apresentadora da festa!

Casa cheia!

Soltando o Vers(b)o!

Soltando o Vers(b)o!

Marcondes falando sobre sua longa amizade com Salete e sobre o cordel que ela lhe homenageou e presenteou!

Sammyra Santana (eu, rs), emocionada falando da admiração por Salete e da criação e história deste blog!



quinta-feira, 6 de março de 2014

20 anos de Cordel, Tô Aqui pra Celebrar

20 ANOS DE CORDEL
TÔ AQUI PRA CELEBRAR

Vinte anos de cordel
- metade da minha vida! -
Cordelirando a granel
Em meio a gente querida
Minha arte é minha luz
A força que me conduz
Nesta estrada colorida

Aprendi com minha avó
Cega e analfabeta
Que um dia voltou ao pó
Mas segue inspirando a neta
Que não cansa de contar
Quão lindo era o versejar
Daquela velha poeta

Na linha familiar
Tem mais gente que ensina
Vale a pena registrar
Pois é rica a sua rima
Zé Alexandre é seu nome
Um poeta de renome
Que só faz coisa divina

Foi lendo para os parentes
Lá pela zona rural
E vendo eles contentes
Com aquele velho jornal
Que trazia as notícias
E expunha as malícias
De playboy a general

Recitando e divertindo
Família e agregado
Aos poucos eu fui sentindo
Que tinha algo de errado
Todo poeta era homem
Falando de lobisomem
E de príncipe encantado

As histórias tinham reis
Soldados e coronéis
Homens que faziam leis
Ou que eram bacharéis
O cabra macho era o tal
Androcentrismo total
E mulher não tinha vez

Foi no meio desse povo
Que fui talhando meu verso
Tecendo algo de novo
Esquisito e controverso
Botei a voz das meninas
Para quebrar a rotina
Dos machos desse universo

Aprimorei minha rima
Lendo outros cordelistas
Garimpei ouro na mina
Enquanto seguia pistas
Não gostei dos preconceitos
Rimei em prol do respeito
Às bandeiras feministas

Botei minha ideologia
Defendi o comunismo
Fiz cartas de alforria
Ironize o cinismo
Das regras capitalistas
E dos falsos moralistas
Com seus velhos catecismos

Juntei com outros Malditos
E o caldo engrossou
Meus poetas favoritos
Não deu outra, fiz amor
Criamos um movimento
Lançamos rimas ao vento
E muita coisa mudou

Fiz versos sobre viados
Travestis e prostitutas
Bêbados e tatuados
Velhos e filhos da puta
Valorizei lesbianas
Politizando as xanas
E mostrando suas lutas

Paguei um preço bem alto
Por rimar fora da ordem
Fui tomada de assalto
Por cães que ladram e mordem
Mas também tive prazeres
Satisfiz os meus quereres
Inaugurando desordens

Meus folhetos foram lidos
E foram disseminados
Alguns foram distorcidos
Outros são apropriados
Nas ruas e nas escolas
Em livretos e sacolas
Transmiti o meu recado

Tem cordel ovacionado
Premiado e em destaque
Teve cordel processado
Soltado mais do que traque
Tem cordel de toda sorte
Em Juazeiro do Norte
E a caminho do Iraque

Tem cordel investigado
Por gente que estuda mais
Alguns foram relançados
Outros já nem tenho mais
São feitos pra circular
E não para se guardar
Ou para quem pagar mais

Tem o blog pra quem quer
Ler sem precisar comprar
Pode acessar quem quiser
Pois eu busco praticar
Aquilo em que acredito
E também acho bonito
Saber socializar

São 20 anos de estrada
Mas só de publicação
É mais longa essa jornada
Conforme diz a canção
Tem gente que se inspira
E outro tanto que pira
Pra fazer imitação

Agradeço imensamente
A quem veio celebrar
Eu estou muito contente
Em poder lhes abraçar
Do fundo do coração
É imensa a emoção
Já não sei o que falar

Em resumo eis a história
Desse meu cordelirar
Se não me falha a memória
Vim aqui pra celebrar
E já que somos pinel
Vamos recitar cordel

E deixar de blá blá blá

Guerreiras do Cariri



GUERREIRAS DO CARIRI
Quem dera ser uma Zuleide
Francisca ou Luciana
Quem dera ser Derineide
Marcela ou Damiana
Quem dera ser uma Nancy
Pra sorver do Cariri
Tudo de bom que ele emana

Quem dera ser Madalena
Ciça, Naldinha ou Diana
Pra ir a uma novena
Em pleno meio de semana
Lá no sul do Ceará
Onde se aprende a amar
Com muita ou pouca grana

Quem dera ser Ana Paula
Sammyra, Cris ou Silvana
Cuja luta é uma aula
Por uma vida mais humana
Pra quem chegou na velhice
E assim como Dona Alice
Ainda tem muita gana

Quem dera ser uma Rosa
Fátima ou Eliana
Pra trocar dedos de prosa
Na casa de Dona Joana
Tomando uma cervejinha
E se sentindo a rainha
Numa singela choupana

Quem dera ser Sayonara
Dane, Mazé ou Joaquina
Para mostrar minha cara
Em tudo quanto é esquina
Em greve, missa ou festa
Com um letreiro na testa
Lá na marcha das meninas

Quem dera ser uma Lia
Ceiça, Ivone ou Roberta
Pra descer na romaria
Como mãe, filha ou neta
Das mulheres desta terra
Que entre o vale e a serra
Sabem traçar sua meta

Quem dera ser uma Célia
Ou uma Cláudia Rejanne
Uma Fanka, uma Valéria
Íria, Neide ou Roseane
Para lutar de montão
Contra toda opressão
Deste machismo infame

Quem dera ser Margareth
Suamy, Nina ou Luzia
Pra poder pintar o sete
Por toda essa cercania
Falando em diversidade
E proclamando igualdade
Seja lá qual for o dia

Quem dera ser uma Vânia
Soledade ou Da Guia
Pra chegar no Estefânia
No pingo do meio dia
E brigar por mais saúde
Lutando pra que se mude
Os governos de tirania

Quem dera ser uma Sônia
Elaine, Nena ou Gisélia
Quem dera ser uma Antônia
Cirila ou Daniela
Para, com educação,
Transformar a região
Para que seja mais bela

Quem dera ser uma Raimunda
Matilde, Rita ou Ana
Para falar da profunda
Energia que emana
Do prazer que é cuidar
Daquilo que a terra dá
A quem com ela se irmana

Quem dera ser uma Nívia
Alana, Vera ou Toinha
Andrea, Bete ou Lívia
Marluce ou Terezinha
Para lutar por justiça
E humanizar a polícia
Que atua nesta terrinha

Quem dera ser uma Sâmia
Dina, Lúcia ou Corrinha
Pra não ligar pra infâmia
Das fofocas das vizinhas
E viver em plenitude
Torcendo para que mude
Gente de alma mesquinha

Quem dera ser uma Graça
Carla, Deise ou Helena
Pra poder ver minha raça
Enegrecendo essa cena
Com seus cabelos libertos
E seus olhos bem abertos
Mirando quem as condena

Quem dera ser uma Ravena
Manu, Elandia ou Carol
Para recitar um poema
Todo pintado de sol
Com um bando de amigos
Pretos, brancos, coloridos
Lindos feito um girassol

Quem dera ser Ildevânia
Bastinha ou Josenir
Rosário, Cátia ou Sandra
Para viver a parir
Um monte de poesia
Gerando nova energia
Pra ver o povo sorrir

Quem dera ser mãe Maria
Alice ou Salomé
Pra sentir a energia
Dessas mulheres de axé
Que lutam pelo direito
De não sofrer preconceito
Ao exercer sua fé

Quem dera ser Elisângela
Marleide ou Dagmar
Cilene ou Mariângela
Para poder divulgar
Pela mídia regional
Que as guerreiras do local
Sabem viver e amar

Quem dera ser uma Geralda
Antélvia, Nilda ou Dolores
Francy, Suerda ou Mafalda
Lavina, Creusa ou Das Dores
Pra ser feliz de verdade
Mudando a realidade
Em nome dos seus amores

Quem dera ser Regilene
Pautília ou Auxiliadora
Loreto ou Lucilene
Aparecida ou Denôra
Para ajudar as pessoas
A não viverem à toa
Nessa terrinha tão boa

Quem dera ser Adriana
Mara, Telma ou Ivonete
Débora ou Alexsandra
Raquel, Sheila ou Luzinete
Para não ser esquecida
E sentir-se tão querida
Como se sente Salete

Quem dera ser como elas
E outras não mencionadas
Pra lutar contra as mazelas
E propor outras paradas
Contra toda violência
E em prol da consciência
Do valor da mulherada

Quem dera ser como essas
Mulheres do Cariri
Cuja mais nobre promessa
É lutar pelo porvir
No Crato e no Juazeiro
Em Barbalha e em Granjeiro
Brejo, Aurora e Mauriti

Em Missão Velha e no Barro
Em Santana do Cariri
Lutando ou tirando sarro
Em Nova Olinda e Jati
Em Araripe e Porteiras
Todas são muito guerreiras
E sabem se divertir!

Várzea Alegre e Jardim
Milagres e Altaneira
Assaré, claro que sim
Tem guerreira de primeira
Caririaçu também
Onde eu tenho mais de cem
Amigas e companheiras

Em Araripe e Abaiara
Em Lavras e Potengi
Onde tem beleza rara
E canto de colibri
As mulheres tão lutando
Batalhando, avançando
Mudando aqui e ali

Em Salitre e Antonina
Também tem mulheres fortes
Farias Brito e Tarrafas
Assim como em Penaforte
No Baixio e em Umari
Todas estão a pedir
Que parem com tanta morte

É para essas guerreiras
Que faço mais um cordel
Feito assim meio às carreiras
Mas com gostinho de mel
É a minha oração
Repleta de gratidão
Registrada num papel

E para finalizar
Desejo em alto tom
Muita força pra lutar
Muito axé e muito som
Muita luz para seguir
Guerreiras do Cariri
À vocês tudo de bom!


Salete Maria

8 de março de 2014