Há vinte anos exatos
Num primeiro de abril
Numa terra de beatos
Um movimento surgiu
Envolvendo arte-cultura
Performer de rapadura:
"Os MaUditos do Brasil!"
Cordéis parindo linguagens
Sujeitos e narrativas
Falando de fuleragens
Com outras perspectivas
Rimando em prol de direitos
Recolocando conceitos
Com suas vozes altivas
No berço de Patativa
Propondo outras leituras
A fim de que o mesmo viva
Entre razões e loucuras
Beijando Osvald de Andrade
Na roça ou na cidade
Entre milagres e curas
Falando da invasão
Do império português
Defendendo a união
Entre romeiros e gays
Invocando a natureza
E também toda a beleza
Da tal folia de reis
Rimando sobre meninas
E mulheres do Cariri
Misturando cajuínas
Com baião, queijo e pequi
Propondo novas ações
Contras as expoliações
Dos governantes dali
Falando de violências
Mas também de alegrias
Rimando com insurgência
Contra toda hipocrisia
Racismo e patriarcado
Ou discurso enlameado
De ódio e homofobia
Articulando expressões
De variadas facetas
Falando em renovações
Cabarés e micaretas
Rock, forró e seresta
E a cachorra da mulesta
Com suas divinas tetas
In-ter-tex-tu-a-li-zan-do
Entre gíria e palavrões
Regionalismo gritando
Entre bendito e jargões
Enlarguecendo a cultura
Abalando a estrutura
Entre bares e grotões
Assim se deu o início
Deste grupo-movimento
Que cheio dos rebuliço
Ecoou neste momento
Onde os tais 500 anos
Não tiveram passa-panos
E sim denúncia e lamento
Os jovens caririenses
Há vinte anos gritaram
Contra colonialismos
Muitos poemas legaram
Pro Ceará e o Brasil
E deles muito se ouviu
Nos anos que se passaram
Se mudaram paradigma
Ou se servem de modelo
Não é coisa que eu diga
Pois faço parte do selo
Que se assumiu MaUdito
E jamais quis veredito
Quando lançou o apelo
Deixemos que outr@s digam
O que de fato marcamos
E que nossos versos sigam
Ins-pirando e trans-bordando
Que sejamos alimento
Ou quem sabe o fermento
Pro que segue se espalhando
A luta contra o machismo
E por direitos humanos
Contra o colonialismo
E seu racismo tirano
E a l-g-b-t-fobia
Que desde aqueles dias
Já vínhamos condenando
Dos MaUditos emergiu
Muitas questões importantes
Muita rima se pariu
Indo pra outros quadrantes
O teatro aplaudiu
O cinema consumiu
E houve teses gigantes
Viva, poetas MaUditos
Das terras do meu Padim
Viva o que ficou escrito
E o que tá guardado em mim
Viva a Beata Maria
Viva a fé e a heresia
Que nos fez rimar assim
Saúdo a companheirada
De grande valor humano
Que cruzou a minha estrada
E me fez sair rimando
Exalando poesia
Dia e noite, noite e dia
Ao longo de 20 anos!
Gratidão ao universo
Por este grande presente
Envio-lhes este verso
Com minha alma contente
Sob um sol mexicano
E a quarentena truando
Nos ensinando a ser gente
Saudades do Ceará
Do Brasil e suas cores
Em breve quero voltar
Para rever meus amores
Por ora vou meditando
Escrevendo, estudando
Superando antigas dores
Um abraço pros MaUditos
Poetas de rima rica
Saibam que eu acredito
Na vida que edifica
E vocês me ensinaram
Em versos que pipocaram:
"Que tudo flui, nada fica".
Salete Maria
01/04/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário