PORQUE
NÃO SOU OBRIGADA
Porque
não sou obrigada
Não
engulo lero-lero
Sou
mulher emancipada
Levo a
vida como quero
Essa é
minha pegada
Vou
rimando pela estrada
E assim
me empodero
Porque
não sou obrigada
Quem
manda em mim sou eu
Não
aceito ser tratada
Como um
objeto seu
Exijo
que me respeite
E como
sou me aceite
Se não
quiser, prescreveu
Porque
não sou obrigada
Não
aceito violência
Já
estou bem informada
E não
presto continência
A
machistas de plantão
Para
quem o meu jargão
É
boletim de ocorrência
Porque
não sou obrigada
Não
engulo baixaria
De
canção mal arranjada
Ou piada
porcaria
Melhore
seu conteúdo
Do
contrário fique mudo
Mas não
estrague meu dia
Porque
não sou obrigada
Quando
digo não é não
Não
aceito ser forçada
A
satisfazer tesão
Seja de
quem ele for
Meu
corpo não faz favor
Pra
criminoso em ação
Porque
não sou obrigada
Não
curto sua cantada
Que além
de enjoada
Me deixa
indignada
Pois
fere minha liberdade
De andar
pela cidade
Sem
temer ser molestada
Porque
não sou obrigada
Não vou
ficar caladinha
Se na
aula ministrada
Surge
aquela ladainha
Que diz
achar natural
O homem
ser maioral
E a
mulher coitadinha
Porque
não sou obrigada
Não vou
dar satisfação
De minha
vida passada
Ou desta
ocasião
Afinal
não tenho dono
Nem
perco noite de sono
Pra ser
refém de varão
Porque
não sou obrigada
Não
tolero humilhação
Nem
aceito ser xingada
Por
colega ou patrão
Pois
conheço meus direitos
E se
trato com respeito
Cobro
retribuição
Porque
não sou obrigada
Não
aceito ganhar menos
Se estou
capacitada
Meu
valor não é somenos
Quero
salário igual
Sem
assédio sexual
Ou
qualquer ato obsceno
Porque
não sou obrigada
Não vou
achar natural
Ver
mulheres exploradas
Em tudo
quanto é canal
Hi-pers-
se-xu-a-li-za-das
Pra
garantir a jogada
Do lucro
patriarcal
Porque
não sou obrigada
Não
acho linda a família
Cuja mãe
é explorada
Por
marido, genro e filha
Neto,
nora e agregado
Que
ficam todos sentados
Enquanto
ela se empilha
Porque
não sou obrigada
Vou
dizer que me incomoda
Essa
gente potentada
Que para
andar na moda
Não
liga se o produto
Da
escravidão é fruto
Ou se à
infância poda
Porque
não sou obrigada
Não vou
dizer que aceito
Gente
que é ‘abençoada’
Justificar
do seu jeito
A
opressão feminina
Dizendo
que é nossa sina
Viver
sob o preconceito
Porque
não sou obrigada
Não
quero e nem vou casar
Pois se
tenho namorada
Não
preciso imitar
Modelos
convencionais
Ou
vivências conjugais
He-te-ro-fa-mi-li-ar
Porque
não sou obrigada
Não vou
aceitar silente
A
matança perpetrada
Contra
jovens inocentes
Nas
cidades brasileiras
Pela
“polícia ordeira”
Que da
milícia é suplente
Porque
não sou obrigada
Não vou
deixar de opinar
Sobre
uma coisa errada
Que não
canso de falar
Que é
termos pouca mulher
Metendo
sua colher
No mundo
parlamentar
Porque
não sou obrigada
Não vou
deixar de falar
Que a
saúde tá pebada
E a
educação vai murchar
Com
estes cortes terríveis
Que são
inadmissíveis
E vão
nos prejudicar
Porque
não sou obrigada
Não vou
poupar poderosos
Nem vou
ficar entocada
Vendo
partidos sebosos
De
direita e de esquerda
Armando
suas mutretas
Com atos
insidiosos
Porque
não sou obrigada
Não
aceito retrocessos
Em
direitos ou jornadas
Construídas
com sucesso
Sou
contra as restrições
Que o
governo nos impõe
Com
barganhas no Congresso
Porque
não sou obrigada
Não
falo para agradar
Minha
rima é engajada
E é
feita para lutar
Tenho a
mente feminista
E a alma
socialista
Não sou
de me conformar
Porque
não sou obrigada
Aqui
termino meu verso
E sei
que fui inspirada
Por
deusas do Universo
A quem
muito agradeço
Ao tempo
em que me despeço.
Salete
Maria
Salvador,
março/2015