Cordelirando...

domingo, 8 de novembro de 2009

Do Direito de Ser Gay ou condenando a Homofobia


Diante do Tribunal
Zeca expôs a questão:
“Sou um homossexual
E peço vossa atenção
O que deve ser julgado
E d’uma vez extirpado
É o ódio; o amor, não!

Não está em discussão
A minha intimidade
Aqui a acusação
Pesa contra a insanidade
De quem ousa decretar
Que é proibido amar
Invocando a divindade

Meu direito de ser gay
Não me pode ser negado
Pois não ajo contra a lei
Quando ouso ser amado
Por alguém do mesmo sexo
Por mais que seja complexo
Esquisito ou estranhado

Sou eu, pois, um cidadão
Que trabalha e contribui
Com esta grande nação
E que dela não se exclui
Mereço todo o respeito
Sou sujeito de direito
Que avança e evolui

O que temos que julgar
É a tal da homofobia
Que está a provocar
Mortes pela cercania
Privando gente decente
De viver alegremente
Entre nós, em harmonia

Não podemos conceber
Que a injustiça impere
Temos que nos envolver
Pois toda morte nos fere
Todo gay é ser humano
Todo ser é nosso “hermano”
Se pensa assim, não tolere

Não seja condescendente
Cúmplice ou co-autor
Muito menos conivente
Com tais atos de horror
Se você tem consciência
Denuncie a violência
Seja lá contra quem for

Não me chame de demente
Anormal ou acintoso
Nem tampouco de indecente
Pecador ou monstruoso
Ouse atacar injustiças
Reveja suas premissas
Não sou eu o criminoso!

O que há de errado em mim?
E que você não suporta?
Tente escrever outro fim
Para a velha história torta
Um defensor de direito
Não dormirá satisfeito
Omisso, fechando a porta!

A diferença existe
Não adiante negar
Pra que este dedo em riste
Sempre a me apontar?!
Vá julgando a minha vida
E escondendo a ferida
Que tu não ousas curar!

Em toda a Humanidade
Houve gente como eu
Vítima da iniqüidade
Quanto inocente morreu!
Em nome de um modelo
Que sempre imprimiu um selo
Separando tu e eu

Foi assim com outros seres
Igualmente “diferentes”
Ante os “podres poderes”
Continuaram silentes?
Mulheres, negros, judeus
Anciãos, crentes, ateus
São todos eles doentes?

Suplico, reflitam mais
Sobre vossas posições
Examinem os anais
Das vossas “convicções”
Vejam que todos perdemos
Que Justiça defendemos
Admitindo exceções?

Repito: eu sou um gay
Veado, homossexual!
Sou eu um fora-da-lei?
Delinqüente, marginal?
Tenho direito a viver?
Ou minha sina é morrer
Sob a lâmina d'um punhal?

Digam, senhores jurados,
E povo da minha terra!
Quem deve ser condenado?
É este que aqui vos berra?
Ou a tal da homofobia?
Que mata à luz do dia
Vai à missa, ora e enterra?

Eu quero finalizar
Pedindo para os doutores
Comecem a se indagar
Olhem-se nos corredores
Quem não conhece um gay?
São todos foras da lei?
Ou há algum entre os senhores?

Quem nunca teve um colega
Quem sabe até um parente
Aquele a quem você nega
O direito de ser gente
De existir, ser feliz
Ser dono do seu nariz
E levar a vida contente?

Vamos, pensem um segundo!
Antes do seu veredito
Quem aqui criou o mundo?
E tudo o que “está escrito”?
Não é este o argumento?
Que lhes serve de cimento
Sobre o que tenho dito?

Deixo agora com vocês
O direito de julgar
Não é mais a minha vez
Fale quem quiser falar
Condenada a homofobia
Quem sabe por mais um dia
Muitos possam respirar

Sendo ela absolvida
Certamente ouvirão
Dizer que mais uma vida
Foi ceifada no sertão
E também no litoral
Onde gay não é igual
A qualquer um cidadão

Data vênia, meus senhores
Mas isto é covardia
Onde eu for, onde tu fores
Sempre dor e agonia
Ponham um ponto final
Sou um homossexual
Tenho direito ao meu dia!

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