Cordelirando...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

NÃO à Cultura do Estupro



O estupro da menina
Nos convida a pensar:
Será essa a nossa sina?
Temos que nos conformar?
Ou temos que ir pra cima?
Já que a luta nos ensina
Que tudo pode mudar?

A cada onze minutos
Um estupro acontece
E não é um bicho bruto
Que da floresta aparece
Com seu “instinto insano”
E viola um ser humano
Conforme lhe apetece

É “gente civilizada”
Que estuda ou labora
Que cumpre sua jornada
Que vai à missa e chora 
Mas estupra uma mulher
Onde e quando bem quer 
Pois vê que ninguém dá bola

E pratica a violência 
Achando que está certo
Pois compartilha da crença
De que o homem esperto 
Não perde a oportunidade
De mostrar virilidade
Pois sempre estará coberto

Afinal nossa cultura
Acha normal explorar
O corpo de uma mulher
Em tudo quanto é lugar
Basta ver as propagandas
E as letras d’algumas bandas
Para ver como se dá

A cultura do estupro
Está em todo ambiente
Desde a casinha mais simples
Ao palacete imponente
Passando pela imprensa
Religião e ciência 
E no discurso eloquente

A ob-je-ti-fi-ca-ção 
Da imagem da mulher
A hiperssexualização 
Que o povo aplaude de pé
É uma autorização
Para a violação 
E quase ninguém dá fé

Estuprar uma mulher
Significa poder
E nossa sociedade
Ensina como fazer
Quando educa diferente
Ou mesmo quando consente
Um homem nos ofender

De onde vem a ideia 
Que a gente não tem valor?
Quem criou essa epopeia
Do macho devorador?
Que pode nos estuprar
Bater e até matar
E divulgar com furor?

Limpemos nossa retina
Para enxergar a história
E ver como essa cretina
Ainda nos ignora 
Pois narra os grandes feitos
Dos machos e seus direitos
Deixando a mulher de fora

Miremos as nossas casas
Escolas e outros espaços
Meninas são educadas
A ter direitos escassos
Meninos tem liberdade
E andam pela cidade
Sem ninguém seguir seus passos

Escutemos as conversas
Sobre os corpos femininos 
Atentemos para aquilo 
Que dizem nossos meninos
Pra ver se não é igual
Ao discurso social 
Machista e assassino

Olhemos bem para as ruas
E o assédio cotidiano
Sob o sol ou sob a lua
É só “fiu fiu” imperando 
E piadas de mal gosto
Ditas bem perto do rosto
Daquela que vai passando

Olhemos para a política
E os modos de governar
Será que alguém acredita
Que sexismo não há
No comando do país
Que hoje está por um triz
Sem mulher para opinar

Quem tem controle de tudo?
Quem manda, quem determina?
Quem acha que pode tudo?
Quem explora e domina?
Quem é “criado pra isto”?
Quem acha que tem um visto
Pra violar as meninas?

Tudo é naturalizado
Visto como algo banal
Mas as práticas revelam
O machismo estrutural
Que ainda culpa a mulher
Dizendo: “ela é quem quer
Ser estuprada, afinal”

O velho patriarcado
Ainda está em vigor
E o machismo é ofertado 
Como o melhor professor
Nos planos de educação
Por toda essa nação
Sem ter o menor pudor

Mas isso tem que mudar
Pois é preciso ter fim
O povo tem que acordar
E o Estado enfim
Precisa assumir a culpa
E acabar com a desculpa
De que as coisas são assim

Pois se cada estuprador 
Responde pelo seu ato
Conforme manda a lei
E assim deve ser, de fato
O machismo opressor
Que tanta dor já causou
Também pagará o pato

Precisa ser extirpado
Do convívio social
Não pode ser tolerado
Ou perdoado, afinal
Tem que ser eliminado
Morto e erradicado
Via educação geral

Pois se a cultura machista
Ensina a maltratar
E estuprar as mulheres
Ou até mesmo matar
Educar para a igualdade
E para a diversidade
É o que pode transformar

Sobre isto o feminismo 
Tem muito a nos ensinar
Já que fala de respeito
De direitos, de lutar 
Fala de democracia
Liberdade, autonomia
E d’outras formas de amar

Não à cultura do estupro
Não à dor e à violência
Não à exclusão de tudo
Não à tanta conivência 
Não ao machismo perverso!
E assim termino meu verso
Pedindo mais consciência!

Salete Maria
Salvador-BA, 26/05/2016

segunda-feira, 28 de março de 2016

MULHERES ADVOGADAS (habeas bocas, companheiras!)



MULHERES ADVOGADAS
(habeas bocas, companheiras!)

Somos muitas, somos tantas
E somos cada vez mais
Por esse país imenso
Buscando justiça e paz
Mulheres advogadas
Somos firmes na jornada
Sem esmorecer jamais

Nossa presença na Ordem
Cada vez mais se agiganta
E contra toda desordem
Nossa voz se alevanta
Em prol da democracia
E de mais cidadania
Pois essa luta adianta

Atuando em todo canto
Por essa imensa nação
Batalhando sem espanto
Mas com intensa paixão
Assim marchamos altivas
Fortes e persuasivas
Honrando a profissão

Enfrentando desafios
Nas lides do dia a dia
Nadando em mares bravios
Com destemor e energia
Valorizando o mister
Com garra, amor e fé
Competência e alegria

Enfrentando o machismo
Racismo e homofobia
Sorvendo dos feminismos
Toda a sua teoria
Assim vamos avançando
Questionando e destronando
Padrões e assimetrias

E neste mês da mulher
No ano da advogada
Aqui estamos de pé
Fortes e determinadas
Contra discriminações
Violências e opressões
Que surgem na caminhada

Em prol de mais igualdade
Nas relações laborais
Respeito à diversidade
E por um mundo de paz
Dentro e fora dos lares
Bem como entre nossos pares
Assim justiça se faz

Por mais valorização
Da mulher advogada
Por uma educação
Onde sejam contempladas
As demandas femininas
Pois equidade não rima
Com vozes silenciadas

Clamamos por igualdade
Real e substantiva
Contra a disparidade
Que nos deixou à deriva
Por muitos anos a fio
Dentro e fora do Brasil
Quase sem alternativa

Ter paridade é preciso
Dentro de nossa entidade
E salvo melhor juízo
Não temos isso, em verdade
Pois para além de falar
Nós sabemos governar
Respeitando a outra metade

Vamos colocar em prática
O Plano que valoriza
A mulher advogada
E serve como baliza
Para mudanças concretas
Pois essa é a nossa meta
E é isto que o plano visa

Segundo as diretrizes
Teremos mais atenção
E seremos as atrizes
De toda transformação
Vamos poder opinar
Discutir e agregar
Nossa contribuição

É um passo importante
Que se dá na OAB
Num momento relevante
Onde é preciso aprender
Que o sujeito mulher
Justiça de gênero quer
Para ninguém mais perder

É importante lembrar
Que muitas de nós lutamos
Noite e dia sem cessar
E durante muitos anos
Pelo fim da iniquidade
Que ainda é realidade
No solo que nós pisamos

Defendendo outras mulheres
E a nós mesmas também
Metendo nossas colheres
Onde e quando convém
Em prol de outra Justiça
Menos silente e omissa
Ou do machismo refém

São muitos anos de estrada
E a história é pouco contada
Mas deve ser resgatada
E bastante disseminada
Nos cursos de formação
E em toda ocasião
Onde a questão for tratada

Por uma questão de justiça
Advogadas docentes
Não podem ficar omissas
Ou mesmo estar ausentes
Dos debates nacionais
Pois nos dias atuais
Pesquisas são eloquentes

Pois revelam contributos E sugerem soluções Mostram o que está oculto Propõem teorizações Aprimoram o Direito E combatem preconceitos Rompendo velhos grilhões

Salve o legado histórico
De diversas feministas
Salve o momento eufórico
Que vai revelando pistas
Do que antes se pensou
Se plantou e cultivou
Pra hoje saltar à vista

Salve Myrtes Gomes Campos
A primeira advogada
Salve tantas companheiras
Que nem sempre são lembradas
Salve as novas gerações
Das que vem lá dos sertões
Negras, índias, engajadas

Viva cada advogada
Deste país-continente
Que seja iluminada
E cada vez mais presente
Nas lutas por igualdade
Justiça e fraternidade
Que animam nossa gente

Por fim, desejo lembrar Nesta nobre ocasião Que a justiça não é cega Fala e tem audição E se a Ordem aprovou Este verso entra em vigor Com sua publicação


Salete Maria da Silva
OAB-BA 48425
Março de 2016