Cordelirando...

Mostrando postagens com marcador Direito. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Direito. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de agosto de 2010

VISÃO DO "STF" SOBRE A LEI FICHA LIMPA




Um grupo de três mulheres
(Samira, Tonha e Francisca)
Metendo suas colheres
Nossa Justiça belisca
Num debate educativo
Em tom interpretativo
Jurisprudência rabisca

Samira é professora
De direito eleitoral
Tonha é agricultora
E Francisca vende jornal
No Teatro Cordelírio
Onde folheto é colírio
Pra lente multifocal

É um trio de brasileiras
Que vive honestamente
Pois seu suor paga a feira
Que fazem quinzenalmente
Além de imposto demais
Pagam luz, saúde e gás
Água, escola e absorvente

Por isso o seu interesse
Na política do país
Que num dia como esse
Pode estar por um triz
Se o povo não se envolver
Não lutar, não resolver
Da questão, o velho X

Assim começa a história
- da conversa feminina -
Na casa de Olga Vitória
Tetraneta de Ursulina
Onde a decisão final
Vai circular no jornal
Ficha Limpa da Esquina

Samira então é chamada
Por suas grandes amigas
Para matar a xarada
E resolver uma intriga
Elas querem entender
Pra depois dar parecer
Sobre essa questão antiga

Para melhor entender
O caminhar da conversa
Em vez do nome dizer
A inicial é imersa
E ao longo de toda fala
Uma letrinha intercala
A opinião expressa:

T:
Cumade tu que entende
Das lei de nosso país
De tudo tu compreende
E cunhece na raiz
Exprique, por caridade
Cum toda sinceridade
O que o Ficha Limpa diz

F:
Nós desejamos saber
O que no rádio tá dando
É tanto teretetê
Na tevê tão comentando:
Ficha limpa, ficha suja
E nós com medo que surja
Um deles nos enganando

T:
Já preguntei para Joana
Zefa, Socorro e João
Gulora, Tica e Ana
Dedé e Sebastião
Eles também quer saber
Purisso peço a você
Resolva esta confusão

F:
Diga a nós de modo claro
Sem muito floreamento
Nem palavreado raro
Carregado de acento
Fale como num cordel
Tire de pressa esse véu
Faça um esclarecimento

S:
Vejam bem, nobres comadres
Não há nada complicado
Pra muitas autoridades
Isto é fato consumado
Pois a Lei Complementar
Veio pra moralizar
Protegendo o eleitorado

S:
Trata-se de um projeto
Que o povo mesmo criou
Um movimento correto
Que no Brasil se espalhou
Contra a corrupção
Que em toda eleição
A melhor sempre levou

S:
Por isto os cidadãos
Que honram nosso país
Pelas suas próprias mãos
Rascunharam a matriz
Desta lei tão importante
Que de agora em diante
Faz de nós todos juiz

S:
Foram um milhão e meio
Ou mais, de assinaturas
Pois a lei nasceu do seio
De quem estava à altura
De propor transformação
Pra esta grande nação
Pra deixá-la mais segura

T:
Apois então na verdade
O sentido dessa lei
Num vem duma faculdade
Nem dos código q'eu não sei
Vem da vontade das ruas
Da minha, dela e da tua
Conforme imaginei...

F:
É isso mesmo Toinha
Não é só doutor quem sabe
Tu não come com farinha
Discurso de autoridade
Inda mais nos nossos dias
Onde a democracia
Não tolera iniquidade

T:
Eu bem que desconfiei
Pois qual era o deputado
Que criaria uma lei
Para ele ser julgado?
E o povo ficar sabendo
O que eles andam fazendo
Com o voto dos desgraçado

F:
Mas deixe ela dizer
Um pouco mais para nós
Vamos nos esclarecer
Pra poder falar após
Quero ficar inteirada
Completamente informada
Para soltar minha voz

S:
Por esta lei o político
Vai ter que andar na linha
Sem usar de artificio
Como antes lhe convinha
Só pensando em se dar bem
Sem se importar com ninguém
Fazendo sua boquinha

F:
E agora o trapaceiro
Venal e espertalhão
Que se apossou do dinheiro
Do povo desta nação
Formando sua quadrilha
Nas eleições já não brilha
E nem merece perdão?

S:
Pois se já foi condenado
Por um grupo de juízes
Que declarou comprovado
Crimes de todos matizes
Contra a Constituição
Como poderá, então
Querer esconder deslizes?

S:
Se pela administração
Pública, não tem respeito
Se em cada eleição
Costuma fazer mal feito
Se praticou o racismo
Patrocinou escravismo
Como pode ser eleito?

S:
E se cometeu tortura
Sozinho ou em quadrilha
Se abusou da estrutura
Para si ou para a filha
Se droga financiou
Ou com ela se juntou
Na res pública não trilha

S:
Se não tem a Ficha Limpa
Por que daremos poder?
Se o eleitor garimpa
Quem poderá merecer
Seu voto de confiança
E também sua esperança
Pra ver o Brasil crescer

S:
Ter Ficha Limpa é preciso
Para se candidatar
É o primeiro aviso
Para a história mudar
Pois um país que se preza
Não dá poder a quem lesa
A Lei Maior do lugar

S:
Eis, então, minha comadre
O ''espírito da lei''
Aquele que nos invade
E faz do pobre um rei
Pois sua dignidade
É a principal qualidade
Que em sua ficha (a)notei

T:
Vixe Maria e é isto
Que o tal Ficha Limpa quer?
Que a gente passe um visto
E também meta a cuié?
Pra num tê mais um ladrão
No poder desta nação
Seja ele homi ou muié?

T:
Apois eu tô intendeno
Tudim que tu ixplicô
E parece q'eu tô vendo
A cara de meu avô
Quando dizia assim:
Cambada de gente ruim
Meu voto a vocês num dô!

S:
Exatamente, querida
É disto que estou falando
Quando a ficha é conhecida
Bandido não tem comando
Evita-se mensalão
E se faz a prevenção
Que abrevia o desmando

T:
Agora tem um pobrema
Que você num comentô
No meio dessa novena
Quem carrega o andô?
Pru quê nois vimo falá
Que já tem juiz que dá
Direito aos chei de cocô

T:
Pois mesmo sendo a lei boa
E vindo para arrumá
Tirá lama da lagoa
E o chêro de gambá
Eu tô vendo uns errado
Mesmo sendo condenado
Pedino pra nóis votá

T:
Dizem que tem uns juiz
Mais maió do que o zôto
Que deixa os disinfiliz
Darem pra lei um cotôco
Mangando da lei alvinha
Que depois de manchadinha
Nem mesmo sabão de côco!

F:
Mas antes que tu responda
Eu começo a matutar
Sinto que essa lei já ronda
Pras bandas do Ceará
Aqui já tem um magote
Que antes passava trote
Querendo nos enganar

T:
Mei mundo de sujismundo
Emporcalhava o poder
Dava uns golpe tão profundo
Fazeno o povo perdê
Mas com fé no Padim Ciço
Os que não tem compromisso
Nunca mais vão se elegê

T:
Bom mesmo era se tudim
Num pente fino passasse
Os que pegaram um jatim
E foram sem nem disfarse
Passear pelas Oropa
Comprando pano de copa
Pra sogra, muié e crasse

F:
E os que encheram cuecas
Com dinheiro de montão?
Ou que pegaram molecas
Para prostituição?
Estes aí tão limpados?
Bonitos, engravatados
No vigor da eleição?

S:
Calma, calma minha gente
A coisa já tá mudando
A vitória do presente
Há muito vem se formando
Foi dado o primeiro passo
Compremos régua e compasso
E vamos tudo traçando

S:
Como eu disse, esta norma
Nasceu no meio do povo
Pouco a pouco ela forma
Uma visão para o novo
Muda o olhar do jurista
E nos faz crer na conquista
Tal qual o pinto no ovo

S:
Cada um de nós podemos
Dar a contribuição
Somos nós quem elegemos
Temos o poder nas mãos
Expurguemos fichas sujas
Sanguessugas e corujas
Predadores da nação

F:
É isso mesmo colega
To com você e não abro
É o povo quem delega
O poder ao deputado
Senador e presidente
E o Governador da gente
Tem que ser limpo e honrado

S:
E se assim a gente quer
Então juntos nós podemos
Que a Justiça dê fé
E todos nós celebremos
O futuro desta terra
Pode ser feito sem guerra
Contanto que opinemos


S, T, F:

O nosso S. T. F.
Formado por cidadãs
Que não conhece benesses
Nem teoria alemã
Entende que pro Brasil
O Ficha Limpa surgiu
Pra esperança não ser vã!




* * *

* *

*




Créditos da Imagem: Google Imagem com adaptação

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O CASO 'ELIZA SAMUDIO' E O MACHISMO TOTAL


O caso Eliza Samudio
Que tem chocado o Brasil
Emerge como prelúdio
De um grande desafio:
Exortar nossa Justiça
Pra deixar de ser omissa
Ante o machismo tão vil!

Trata-se de um momento
De grande reflexão
Pois não basta só lamento
Ou alguma oração
É hora de provocar
Propondo um outro olhar
Sobre processo e ação

Saiu na televisão
Rádio, internet e jornal
Notícia em primeira mão
Toda manchete é igual:
Ex-amante de goleiro
(Aquele cheio de dinheiro!)
Sumiu sem deixar sinal

Muita especulação
- discurso de autoridade-
Uns dizem que é armação
Outros dizem que é verdade
Polícia e delegacia
Justiça e promotoria:
Fogueira de vaidades!

Mei-mundo de advogados
Investigação global
Cada um no seu quadrado
Falando em todo canal
Subjacente a tudo
Um peixe muito graúdo:
Androcentrismo total!

A mídia fala em Bruno
Eliza e gravidez
Flamengo, orgia e fumo
-esta é a bola da vez!-
Tem muito 'especialista'
Em busca de alguma pista
Pra ser o herói do mês

E a história se repetindo
Mudando apenas o nome
Outra mulher sucumbindo
Sob ameaça dum homem
Uma vida abreviada
Cuja morte anunciada
A estatística consome

Assim é a violência
Lançada sobre a mulher
Ela pede providência
E cara faz o que quer
Mas a Justiça, que é lerda,
Machista, 'fazendo merda'
Vem com papo de mané

E oito meses depois
Da 'denúncia' inicial
Que é o feijão com arroz
Do distinto tribunal
Nadica de nada existe
Mas autoridade insiste
Que isto, sim, é normal:

“A culpa é do Instituto
Que não mandou o exame”
- isto soa como insulto
e daqueles mais infame-
Não era caso de urgência?
-tenha santa paciência!-
Para que serve um ditame?

A moça buscou amparo
Na Justiça do país
Agiu correto, é claro
E esperou do juiz
O tal reconhecimento
Sobre o pai do seu rebento
Tendo a vida por um triz

Também fez comunicado
Ao campo policial
Dizendo que o namorado
Praticou crimes e tal
Buscou as vias legais
Enfrentou feras reais
Terá sido este o seu mal?

Mesmo com a delegacia
Dita especializada
E com toda a apologia
De uma Lei avançada
Faltou ter a ruptura
Com aquela velha cultura
De que a mulher é culpada

E o cumprimento legal
No caso, muito importante
Seria mais um arsenal
Para enfrentar o gigante
Mudar a mentalidade
De nossas autoridades
É fator preponderante

E para que isto ocorra
Entre outra alternativa
Antes que mais uma morra
E o caso fique à deriva
É preciso compreender
Que Justiça é pra fazer
Enquanto a mulher tá viva!

Sei que nada justifica
Que haja tanta demora
E enquanto o caso complica
A vítima 'já foi embora'
Sem medida protetiva!
Sequer prisão preventiva!
Quanta inoperância aflora!

Se o exame era necessário
À elucidação do crime
O Estado-perdulário
Neste campo fez regime
Ficando no empurra empurra
No velho: ''mulher é burra,
e joga no outro time”

Todo crime tem problemas
De toda diversidade
Assim como há esquemas
Também há dificuldades
Mas pra mim é evidente
Que o machismo presente
Premia a impunidade

Machismo compartilhado
Por gente de toda cor
Do goleiro ao empregado
Do primo ao executor
Autoridades também
Implicitamente têm
Um machismo inspirador

Cada 'doutor' se expressa
Centrado no garanhão
É o mote da conversa:
Fama, grana e traição
Ao se referir a ela
Falam da menina bela
Que fez filme de tesão

Falta a compreensão
Da questão relacional
Gênero, classe, profissão
Cor e status social
O processo é narrativa
Que emerge da saliva
Falocêntrica-legal

E ainda que alguns digam
“Oh, Eliza, coitadinha”
E suas doutrinas sigam
Desvendando pegadinhas
A escola dogmática
Do direito-matemática
Perpetua ladainhas

Processo judicial
Só serve para punir?
Havia tanto sinal...
Não dava pra prevenir?
E a tal ação civil?
Alimentos deferiu?
Para o bebê consumir?

É um momento de dor
Para a família dos dois
O caso é multifator
Não basta dar nome aos bois
A lógica policial
Cartesiana e formal
Festeja tudo depois

Por isso se faz urgente
Conjugar gênero e direito
Pois um trabalho decente
Que surta algum efeito
Não se limita a julgar
Mas também a estudar
O cerne do preconceito

Homens que matam mulheres
Em relações de poder
Isto tem se dado em série
Mas é preciso entender
Que subjaz ao evento
Um histórico comportamento
Que vai construindo o ser

A nossa sociedade
Apesar da evolução
Reproduz iniquidade
E também muita opressão
Homem que bate em mulher
- E “ninguém mete a colher” -
Sempre foi uma 'lição'

Aprendida por goleiros
Delegados, professores
Motoristas, marceneiros
Pedreiros e promotores
Garçons e malabaristas
Médicos e taxistas
Juízes e adestradores

Por isto em nossos dias
De conquistas sociais
De novas filosofias
Direitos especiais
Não podemos aceitar
Justiça só pra apurar
Crimes tão excepcionais

Que a Justiça também
Sirva para (se) educar
Chega deste nhém-nhém-nhém
Deste eterno blá-blá-blá
A Lei Maria da Penha
Existe pra que não tenha
Tanta morte a lamentar!!!
* * *
* *
*
Créditos da Imagem, clique AQUI

sexta-feira, 2 de julho de 2010

CARTA A GILVAN LUIZ


CARTA A GILVAN LUIZ

Gilvan Luiz, ser humano,
Receba um abraço meu
Pois longe do Juazeiro
Soube do que lhe ocorreu
E fiquei indignada
Aflita e petrificada
Ante o que se sucedeu

Quando li na internet
Que você foi sequestrado
Numa atitude covarde
Sendo também torturado
Eu exclamei: Deus do Céu!
Ainda há coronel
No meu Cariri amado!

Vi seu rosto ensanguentado
E a cabeça golpeada
As chamadas e manchetes
Sendo muito comentadas
Meus colegas jornalistas
-dentre eles, dois petistas-
Falando em emboscada

Aí eu fiquei maluca
Querendo compreender
Já que estando em Juazeiro
Na rua encontrei você
Que já falava em ameaça
Ali pertinho da Praça
Quando eu brinquei a dizer:

“Gilvan, você merecia
Era ser vereador
Pois junto com Fábio Souza
Nos presta um grande favor
Fiscalizando o poder
Sem um tostão receber
Do bolso do eleitor”

E disse também, sorrindo:
“Você parece Santana
Que, quando vereador,
Fazia uma zuada insana
Cobrando da prefeitura
Transparência e lisura
Para gerir nossa grana”


Aí você retrucou
Dizendo: “tu tá por fora
Tu só vive viajando
Não sabe nada de agora
Por causa dum doutorado
Deixou teu torrão amado
Bateu asa e foi embora”

Então eu te cutuquei
Falando: já fiz demais
Tu é a bola da vez
Não vamos olhar pra trás
Se cuide e siga em frente
Nadamos contra a corrente
Assim a história se faz...

Depois deste breve papo
Você me deu um jornal
Que eu li atentamente
Como se fora um sinal
Do que estava por vir
Pois tu relatava ali
Bastante coisa ilegal

E quanto mais eu me lembro
Menos quero acreditar
Pois temos a mesma idade
E um jeito de falar
Do que nos parece errado
E damos nosso recado
Pra muito caro pagar

Você como jornalista
Na sua função real
E eu como cordelista
No campo ficcional
Ambos na mesma pisada
Sujeito a trapaceada
Do cânon oficial

Você no jornal Sem Nome
Eu no verso nominado
Se ficar o bicho come
Se correr é rastreado
Um coisa é semelhante:
Ameaça a todo instante
No seu caso, consumado!

Hoje lembrei de Tim Lopes
De Chico Alves também
Depois Wladimir Herzog
E lá se vão mais de cem
Que em face da função
Sofreram perseguição
De gente dita do bem

Tentei saber mais notícia
Nos blogs da região
E para minha surpresa
Só no Miséria, então
Falam deste ato vil
Que a imprensa do Rio
Divulga até de montão

Por isso eu me pergunto
Cadê nossos jornalistas?
E outros profissionais?
Que vivem de dar notícia
Mas lembrei na mesma hora
Tem mídia que ignora
O que lhe salta à vista

Ademais também pensei
Nem todos são corajosos
Os jornais que tem um nome
Têm donos mui poderosos
Uns que estão no poder
Outro tão querendo ser
E assim vão... perigosos

Restamos nós, militantes
Dos tais direitos humanos
Ante um crime tão gritante
Praticado por insanos
Temos que repudiar
Discutir e divulgar
Por muitos e muitos anos

Não deixemos que este fato
Caia no esquecimento
Que seja feito um ato
Um grandioso evento
Como foi recentemente
Quando mataram um parente
De alguém que tem bom assento

Seja quem for implicado
Como mandante ou autor
Que venha a ser processado
E punido com rigor
Para que tenhamos paz
E não ocorra jamais
Algo de mesmo teor

Não estou assinalando
Quem fez isto com você
Até porque se soubesse
Não temeria dizer
Mas penso que já é hora
De dar um basta a história
De que só vence o poder

No caso que me ocorreu
Não pude acompanhar
Pois o doutorado meu
Não é feito pra constar
Me faltou ubiquidade
Para estar na faculdade
E um processo acompanhar

Além do mais 'meus amigos'
Não me foram solidários
Alguns são 'bons inimigos'
Pois vale mais seus salários
Mas eu creio, do meu jeito
Noutro tipo de Direito
Que nasce dos relicários

Aqui meus novos colegas
Não param de me indagar
Querem entender porquê
Alguem tentou lhe matar
Mas a sua explicação
- Apesar da emoção -
Deixa uma questão no ar:

Você entende que o fato
Tem a ver com seu jornal...
Os temas veiculados...
O poder municipal...
Se, de fato, for assim
(Pra você, como pra mim)
Já sabemos o final...

É como eu disse aos Chilangos
Sobre o Brasil refletindo:
A liberdade de imprensa
Se assemelha a um bingo
Para uns é proibida
Para outros consentida
Depende muito do ''limbo''

Diz a Constituição
Da qual sou pesquisadora
Que a manifestação
Do pensar é promissora
Mas liberdade de imprensa
Não passa de uma crença
Da qual sou devoradora

Nos porões da ditadura
Muitas vozes se calaram
Era tempo de censura
Contra os que discordaram
Lula disse para o mundo
- E eu não cri um segundo-
Que os anos ''duros'' passaram!

Mas como Voltaire dizia:
Eu posso não concordar
Com uma única palavra
Do que você quer falar
Mas luto até a morte
Se pouca for minha sorte
Pra ver você se expressar!

Salete Maria

sábado, 6 de março de 2010

Sugestão p/ 8 de março: CIDADANIA - Nome de Mulher

Quando minha bisavó
Vivia pelo sertão
Era um tempo de aperreio
Era grande a precisão
Mulher não tinha direito
Pro homem tudo era feito
Só ele era cidadão


Era comum se ouvir
Que mulher vive é calada
Faz a vontade do homem
Para não ficar “falada”
A mulher era um objeto
Casava pra ter um teto
E cuidar da filharada


A mulher também não tinha
Nenhum prazer sexual
Nem mesmo sonho ou desejo
Vivia como animal
Servia sempre seu dono
Ou caía no abandono
Era o destino fatal


Se quisesse trabalhar
Seria dentro de casa
Estudar era um perigo
Pois podia criar “asa”
A família exigia
Q’ela se casasse um dia
Pra ver se desencalhava


Era grande o sofrimento
Da mulher daqueles dias
Não se falava em direito
Tudo isso era utopia
Bastante coisa mudou
Mas ela continuou
Vítima da covardia


Lutar, eu sei que lutou
Se pôs contra a monarquia
Deu à luz o cidadão
Mesmo sem cidadania
Se organizou, foi à rua
Rasgou o véu, ficou nua
Pugnou por alforria
Enfrentou os militares
Disse: “queremos votar”
Ajudou fundar partidos
Deixou de silenciar
Lançou sua voz ao vento
No Poder tomou assento
Conseguiu se emancipar


Por conta de sua luta
Um preço sempre pagou
Pois mentes reacionárias
O mundo sempre gerou
Mas foi no capitalismo
Onde o crescente machismo
Outras proporções tomou

Variadas são as faces
Dos crimes contra a mulher
A violência velada
Ninguém vê, ninguém dá fé
Mas quando é ostensiva
O mundo todo se esquiva
“e ninguém mete a colher”


Há casos onde a vítima
É tida como culpada
O mundo todo pergunta
Pelo que fez a finada
Como querendo saber
Se ela fez por merecer
Ter a vida abreviada


A opressão feminina
É algo muito cruel
E apesar dos direitos
Insculpidos no papel
A violência avança
Matando até criança
De forma torpe e cruel


Aqui no meu Cariri
Dos limites já passou
Pois diversas companheiras
O machismo já matou
Foi crime de toda forma
E que ninguém se conforma
Passe quanto tempo for
Mulher de todas as classes
De idades variadas
Algumas desconhecidas
Outras identificadas
Morreram barbaramente
Mas seus algozes contentes
Estão soltos, a dar risadas


Mas vamos somando braços,
Mãos, cabeças, coração
Sigamos os nossos passos
Nenhuma luta é em vão
A conquista do presente
Foi no passado a semente
Que se plantou nesse chão


Para se fazer justiça
Não há só o tribunal
A gente também conquista
A luta em palco real
Pois se o governo demora
E o parlamento ignora
É porque votamos mal

Vamos mostrar que pensamos
E procriamos idéias
E que não só menstruamos
Gritemos em assembléia
Cidadania se quer
E tem nome de mulher
Eis a nossa epopéia
Uma questão de justiça
Estamos a colocar
Ninguém pode ser omissa
O tempo é de lutar
“Cidadania-Mulher”
É tudo que a gente quer
Não podemos mais calar

Não é justo que hoje em dia
Nada possamos fazer
Pois se vovó não queria
Desta maneira viver
Como poderemos nós
Quase cem anos após
À opressão nos render?


Eis o nosso desafio
É preciso matutar
Vovó não tinha direito
Mas hoje direito há:
Para que cidadania?
Só pra rimar com Maria?
Ou pra se exercitar?

Repito: cidadania
Já tem nome de mulher
Se não vem delegacia
Então mostremos quem é
A autoridade vil
Que com má-fé e ardil
Faz conosco o que bem quer

E pra finalizar
Um convite a OAB
(Para a luta não parar
Para não arrefecer)
Vamos nos somar agora“
pois quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”

domingo, 8 de novembro de 2009

Do Direito de Ser Gay ou condenando a Homofobia


Diante do Tribunal
Zeca expôs a questão:
“Sou um homossexual
E peço vossa atenção
O que deve ser julgado
E d’uma vez extirpado
É o ódio; o amor, não!

Não está em discussão
A minha intimidade
Aqui a acusação
Pesa contra a insanidade
De quem ousa decretar
Que é proibido amar
Invocando a divindade

Meu direito de ser gay
Não me pode ser negado
Pois não ajo contra a lei
Quando ouso ser amado
Por alguém do mesmo sexo
Por mais que seja complexo
Esquisito ou estranhado

Sou eu, pois, um cidadão
Que trabalha e contribui
Com esta grande nação
E que dela não se exclui
Mereço todo o respeito
Sou sujeito de direito
Que avança e evolui

O que temos que julgar
É a tal da homofobia
Que está a provocar
Mortes pela cercania
Privando gente decente
De viver alegremente
Entre nós, em harmonia

Não podemos conceber
Que a injustiça impere
Temos que nos envolver
Pois toda morte nos fere
Todo gay é ser humano
Todo ser é nosso “hermano”
Se pensa assim, não tolere

Não seja condescendente
Cúmplice ou co-autor
Muito menos conivente
Com tais atos de horror
Se você tem consciência
Denuncie a violência
Seja lá contra quem for

Não me chame de demente
Anormal ou acintoso
Nem tampouco de indecente
Pecador ou monstruoso
Ouse atacar injustiças
Reveja suas premissas
Não sou eu o criminoso!

O que há de errado em mim?
E que você não suporta?
Tente escrever outro fim
Para a velha história torta
Um defensor de direito
Não dormirá satisfeito
Omisso, fechando a porta!

A diferença existe
Não adiante negar
Pra que este dedo em riste
Sempre a me apontar?!
Vá julgando a minha vida
E escondendo a ferida
Que tu não ousas curar!

Em toda a Humanidade
Houve gente como eu
Vítima da iniqüidade
Quanto inocente morreu!
Em nome de um modelo
Que sempre imprimiu um selo
Separando tu e eu

Foi assim com outros seres
Igualmente “diferentes”
Ante os “podres poderes”
Continuaram silentes?
Mulheres, negros, judeus
Anciãos, crentes, ateus
São todos eles doentes?

Suplico, reflitam mais
Sobre vossas posições
Examinem os anais
Das vossas “convicções”
Vejam que todos perdemos
Que Justiça defendemos
Admitindo exceções?

Repito: eu sou um gay
Veado, homossexual!
Sou eu um fora-da-lei?
Delinqüente, marginal?
Tenho direito a viver?
Ou minha sina é morrer
Sob a lâmina d'um punhal?

Digam, senhores jurados,
E povo da minha terra!
Quem deve ser condenado?
É este que aqui vos berra?
Ou a tal da homofobia?
Que mata à luz do dia
Vai à missa, ora e enterra?

Eu quero finalizar
Pedindo para os doutores
Comecem a se indagar
Olhem-se nos corredores
Quem não conhece um gay?
São todos foras da lei?
Ou há algum entre os senhores?

Quem nunca teve um colega
Quem sabe até um parente
Aquele a quem você nega
O direito de ser gente
De existir, ser feliz
Ser dono do seu nariz
E levar a vida contente?

Vamos, pensem um segundo!
Antes do seu veredito
Quem aqui criou o mundo?
E tudo o que “está escrito”?
Não é este o argumento?
Que lhes serve de cimento
Sobre o que tenho dito?

Deixo agora com vocês
O direito de julgar
Não é mais a minha vez
Fale quem quiser falar
Condenada a homofobia
Quem sabe por mais um dia
Muitos possam respirar

Sendo ela absolvida
Certamente ouvirão
Dizer que mais uma vida
Foi ceifada no sertão
E também no litoral
Onde gay não é igual
A qualquer um cidadão

Data vênia, meus senhores
Mas isto é covardia
Onde eu for, onde tu fores
Sempre dor e agonia
Ponham um ponto final
Sou um homossexual
Tenho direito ao meu dia!

domingo, 19 de julho de 2009

ASSÉDIO MORAL: Diga Não!

Você, meu leitor amigo
Que admira o cordel
E o leva sempre consigo
Como importante papel
Sabe que o verso é capaz
De espalhar muito mais
Que tese de bacharel

Às vezes sua leitura
Causa debate e ação
Pois vem da nossa cultura
Folclore e inspiração
Mas pode estar estribado
Em estudo aprofundado
Como nesta ocasião

Eu falarei d’um assunto
Que está muito em voga
Às vezes eu me pergunto
Se não é mais uma droga
O tal assédio moral
Esta mazela, este mal
Que com nossa vida joga

Um tema mui palpitante
Que merece atenção
Vou dizer nesse instante
A sua evolução
Já vem sendo pesquisado
Bastantemente falado
Por toda esta nação

Ouve-se em seminários
Em congressos e jornadas
Em revistas, em diários
Em palestras programadas
Em rádio e televisão
Do litoral ao sertão
Merece grande chamada

Dizem: ‘assédio moral’
É o tratamento aviltante
Que terá como um sinal
Fala desqualificante
Por parte de quem domina
De quem age e determina
Relações já conflitantes

Pode se dá na família
Ou no grupo social
Porém é grande a vigília
No espectro laboral
Onde o risco é perigoso
E o dano insidioso
Falemos dele, afinal

Trata-se de humilhação
Que sofre o trabalhador
Vexatória exposição
Perseguição e terror
Ação grosseira e insana
Fere a condição humana
Dignidade e valor

Porém para discorrer
Sobre esta grave questão
Tivemos que recorrer
A uma dissertação
De Margarida Barreto
Que inspira este folheto
Propondo reflexão

Mestre em psicologia
Médica por formação
Fala em patologia
Fruto da humilhação
Do mundo globalizado
Em tempos neo-liberados
Nova forma de opressão

De leitura obrigatória
A obra dela se torna
Pela forma meritória
Com que bate na bigorna
Malhando o ferro-terror
Das relações de horror
Que a nova era contorna

Estudando o tal assédio
(Ou violência moral)
Ela o fez por intermédio
De situação real
Demonstrou como se dá
E também como enfrentar
Logo ao primeiro sinal

Convidada Margarida
Viajou pelo Brasil
Sempre mui bem recebida
Palestras já proferiu
Militante, abnegada
Comprometida, engajada
Sua pesquisa expandiu

Falou em risco invisível
Este perigo oculto
Do terror indescritível
Que anda ganhando vulto
Terrorismo no labor
Vitima trabalhador
E não merece indulto

Investigando a saúde
Do nosso trabalhador
Analisou, amiúde
A violência e a dor
Jornadas de humilhações
Novas expropriações
Seu texto nos revelou

Pioneiro neste assunto
Seu livro abre caminho
Pra quem queira chegar junto
Pois ninguém está sozinho
Na luta contra opressão
Todos têm igual razão
De depor um pedacinho

No caso particular
Da doutora Margarida
Nada mais fez do que dar
O que deu sempre na vida:
Voz e vez aos humilhados
Adoecidos, calados
De corpo e alma sofrida

Além de livro também
Auxiliou em cartilha
Aos sindicatos convém
Explorar mais esta trilha
Levando informação
Que faça mais alusão
A essa nova armadilha

Vamos, portanto, elencar
Neste modesto cordel
A fim de identificar
Neste fuleiro papel
Os danos e os agravos
Qual no tempo dos escravos
Onde o feitor era ‘incréu’

A ganância pelo lucro
E o abuso de poder
Aponta-se como fulcro
Para melhor entender
Manobras do capital
Deste mundo desigual
Que nos impõe o sofrer

Se dá por meio de chefe
Superior ou patrão
Que aje qual magarefe
Grosseiro, bruto e durão
Incompetente e tirano
Se julgando soberano
Dono de toda razão

Grave estresse gerando
Rebaixamento e vergonha
Degradação espalhando
Ultraje e muita peçonha
Deixando o trabalhador
Abalado e sem valor
Numa depressão medonha

Como se já não bastasse
O mal da exploração
Se o capital não roubasse
Sonho, desejo, ilusão
O medo do desemprego
De ficar sem um arrego
Causa grave anulação

Julgando-se impotente
Com o sono alterado
Se achando incompetente
Sem afeto e desgraçado
Perdendo peso ou ganhando
Tristonho, tenso, chorando
Silente, mudo, isolado

São alguns males causados
Pelas tais humilhações
Já há casos registrados
De drogas e depressões
Um quadro muito pesado
Que urge ser contemplado
Com vistas a soluções

A tirania no trabalho
Visa a auto-demissão
Eis o mais novo atalho
A mais nova ‘operação’
Que o capital encontrou
Descarta o trabalhador
Sem lhe pagar um tostão

Tanto à área de saúde
Como às autoridades
Compete a que se estude
Com maior celeridade
Um meio de coibir
Bem como até de punir
Tamanhas barbaridades

A mencionada doutora
Orienta: não se entregue
A luta é promissora
Busque apoio, não se negue
Conte com as amizades
Ante as adversidades
Diga tudo, não sonegue

Anote as ocorrências
Os dias, as testemunhas
O lugar, as evidências
Os termos e as alcunhas
Desabafe na família
Não queira ser uma ilha
Não fique a roer unhas

Ao médico diga o que sente
Leve o caso ao sindicato
Muitas vezes o doente
Precisa deste contato
Não se culpe, nem se irrite
Gritar com os filhos, evite
Conte ao seu amor o fato

Já existem no país
Em algumas regiões
Várias ações civis
Cobrando reparações
São formas de se lutar
Novas demandas criar
Contra abusos de patrões

O campo Legislativo
Bem como Judiciário
Também o Executivo
Devem entrar no cenário
É um fato social
Questão emergencial
Tema de trato diário

Tanto a luta sindical
(Como o campo do Direito)
Pode apontar um sinal
Propondo norma ou preceito
Tentando, então, reagir
Ensinando a resistir
Enquanto ainda tem jeito

Buscando se auxiliar
‘Do pessoal da saúde’
Tentando estimular
Para que o quadro mude
Lutando pelo direito
Do qual o ser é sujeito
Propondo nova atitude

Em nome do bem-estar
Da paz, da felicidade
Da honra de trabalhar
Mantendo a dignidade
Em nome do ser humano
Da luta que ano a ano
Chama-se fraternidade

Mas em nome, sobretudo
Da igualdade de fato
Contra o esquema sisudo
Desumano e ingrato
Em busca d’outro sistema
Onde labor e poema
Se encontrem no mesmo ato

Dizer não a este assédio
É dever imperativo
Buscar o melhor remédio
Num movimento ativo
Denunciar, reagir
Mobilizar, construir
Enquanto se está vivo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mulher Consciência - Nem violência, nem opressão

Os números de violência
Têm crescido sem parar
Pra garantir resistência
É preciso não calar
Do Cariri pro Brasil
Quero me manifestar

Nos quatro cantos do mundo
A gente escuta contar
Mataram tantas mulheres
Outras mandaram matar
Estupram até meninas
Dentro do seu próprio lar

Este é um problema grave
Não podemos consentir
A matança de mulheres
Ficou comum por aqui
Ao invés de lamentar
Acho melhor reagir

É o mundo capitalista
Próximo do novo milênio
Em que pesem as conquistas
Do nosso último decênio
Concluem os humanistas
Na barbárie é que vivemos

Há muito tempo as mulheres
Sofrem grande opressão
Conta a História que isto
Nasce com a acumulação
Do produto do trabalho
Em algumas poucas mãos

Com a divisão das tarefas
A mulher ficou no lar
Cuidando de sua casa
E para filhos gerar
E sem ser remunerada
Não pode se emancipar

Antes disto a mulher
Viveu em plena união
Pois havia a igualdade
Na base da educação
Era da comunidade
Os meios de produção

A maternidade tinha
Importância sem igual
A mulher era rainha
Não era um ser marginal
Respeitada no trabalho
E na vida social.

Mas isso já faz um tempo
A história já mudou
Passamos pelo escravismo
O feudalismo passou
Agora o capitalismo
Vive tempos de terror

A história da mulher
É a história da opressão
Da mulher trabalhadora
E da esposa do patrão
A igualdade jurídica
De fato não existe não

Sociedade machista
Gera incompreensão
Aniquila a mulher
Perdendo em evolução
Pensa que o cabra homem
Sozinho faz o verão

Oprimida e explorada
A mulher ainda está
Pouco ganha, se empregada
Nada ganha se casar
Exerce tripla jornada
Mas tem forças pra lutar

Lutar contra a violência
Da qual é vítima fatal
Exigindo o cumprimento
Do tal preceito legal
Não aceitando o silêncio
Como resposta final

Lutar por salário igual
Ao homem em mesma função
Lutar por manifestar
A sua opinião
Nem que baixe na polícia
E acabe na prisão

Decidir, quando preciso
Se quer ter filhos ou não
Cuidar do próprio corpo
Sem nenhuma imposição
Com livre escolha do método
De anticoncepção

Ter informação idônea
Sobre doenças do sexo
Não ter medo nem vergonha
Se libertar dos complexos
Ser uma mulher feliz
Às vésperas do novo século

E para tanto é preciso
Não cochilar, não dormir
Pois se a mulher tem juízo
Não poderá consentir
Que o machismo perdure
Enquanto ela existir

É preciso somar forças
E lutar contra as mazelas
Meninas, velhas e moças
Vamos deixar as querelas
Vamos fazer um país
De Justiça, sem seqüelas

Somos muitas companheiras
Por este país imenso
Umas laboram na feira
Conforme nos disse o censo
Algumas são enfermeiras
Outras moram no convento

Professora, vendedora
Faxineira, advogada
Motorista, promotora
Cozinheira, operária
Camponesa, jogadora
Tantas são desempregadas

Mulheres, mães e amantes
São companheiras, enfim
Sonham com um mundo justo
Trabalham pra ser assim
Geram os filhos do mundo
Pra qu’este não tenha fim

Mulheres existem muitas
Metade, veja você
Do povo de nossa terra
Conforme ouvi dizer
Tem mulher demais na Pátria
Poucas, porém, no poder

É por isso que as leis
E as decisões importantes
Que na História se fez
Deste povo inquietante
Poucas delas tem a tez
Da mulher no seu semblante

Trinta e quatro deputadas
Tem o meu Brasil, somente
Apenas seis senadoras
Pra representar a gente
O Congresso Nacional
Revela-se incoerente

Mas isto pode mudar
Basta o Brasil querer
Uma Pátria não é livre
Sem a mulher também ser
É possível governar
Pluralizando o poder

O Código Civil caduca
Veja só que coisa vil
Avilta nossas mulheres
Por todo nosso Brasil
Uma lei de dezesseis
Vigora em pleno 2000

O homem ali é o “chefe”
Tem o “pátrio” poder
Anula seu casamento
Pode a noiva devolver
Se esta já não for virgem
Conforme tinha de ser

É do ano de 40
O nosso Código Penal
Uma lei tão importante
Há meio século igual
Se a vida é dinâmica
Mude o preceito legal

E sobre esta lei estável
Não preciso comentar
Se ao flagrar o “Ricardão”
Quiser a “honra lavar”
A “violenta emoção”
Pode a pena atenuar

E que dizer do estupro
Crime dos mais desgraçados?
Para o Código ele fere
Costumes convencionados
A mulher sofre agressão
O moral é que é lesado

Alguns espertos dirão
Mas, doutora, a Carta Magna
Já botou tudo por terra
A mulher tá amparada
Amparou a que morreu
Porque se encontra calada

A lei somente é pouco
É preciso decisão
Sem atuação política
Não há emancipação
A conquista do presente
Foi no passado a ação

Nós mulheres já cansamos
Das manchetes nos jornais
Companheiras que amamos
Alvo de golpes fatais
A impunidade fica
Elas não voltam jamais

A violência doméstica
É assunto de polícia
É preciso providências
Logo que tomar notícia
Trabalho profissional
E diligência propícia

Não se deve ser omissa
Se o marido é o agressor
Pois ninguém tem compromisso
De apanhar por amor
Se na novela é bonito
O Rei do Gado acabou

Não tolere, não transija
Não permita a violência
Cultive a auto-estima
Não aceite a prepotência
Ser feliz é ter prazer
Do contrário é doença

Se informe de seus direitos
Lute e cobre do Estado
Se o ego tá insatisfeito
Deixe a vergonha de lado
Vá exigir do prefeito
Reclame do deputado

Cobre do seu município
O Conselho da Mulher
Cadê a delegacia?
Você ainda tem fé?
E a creche do seu filho?
Lute enquanto puder

Só posso lhe garantir
Que direito você tem
Mas pra que serve o direito
Se na prática ele não vem?
Então adote uma tática
Brigue por isto também

Licença maternidade
É direito “amarrado”
Não é patrão quem decide
Se deixa ou não ser gozado
Se você for impedida
Procure um advogado

Se você é separada
E não deu causa à questão
E se tem filhos menores
Não perca a ocasião
Reclame do “dito cujo”
Seu direito de pensão

A C.L.T. prevê
E é preciso cobrar
Condições especiais
Para a mulher trabalhar
Da higiene ao descanso
Até da hora e lugar

Sobre aposentadoria
Não é preciso ter medo
E como não poderia
Não existe mais segredo
Dependendo do seu caso
É cinco anos mais cedo

A Constituição diz
Que somos todos iguais
Então arregace as mangas
E vá da saúde atrás
Escola para seu filho
Não pode faltar jamais

Se acaso é doméstica
E trabalha sem pudor
Saiba que existem direitos
Relativos ao labor
A Lei Máxima assegura
Não será nenhum favor

Se por acaso for presa
Ou pena estiver cumprindo
E tiver um bebezinho
Do seu leite consumindo
A lei vai lhe garantir
Este momento tão lindo

Se porventura for negra
E por isso discriminada
Não aceite tal afronta
Não fique desanimada
Isto constitui um crime
De fiança inaceitada

Não aceitar o machismo
Também implica lutar
Contra toda violação
Que se possa observar
Em nossa sociedade
E onde quer que se vá

A começar por aqui
Pelo Cariri amado
Onde o machismo covarde
Não se mostrou acanhado
Ficou em muitas famílias
Para sempre tatuado

Lesões no corpo e na mente
Assassinatos brutais
Comoveram nossa gente
Arrancaram nossa paz
Resta um apelo premente
Não se repitam jamais

Anônimas ou conhecidas
Estas mulheres merecem
Justiça por suas vidas
E não apenas as preces
Não sendo a lei cumprida
O direito, então, fenece

Chorando nossas Yaras
Nos encontramos então
Soraias, Anas e Laras
Não faleceram em vão
As Marias que ficaram
Com certeza lutarão

Acredito que nós todas
Podemos tentar de novo
Devagar, sem desistir
Como pintinho no ovo
Bicando aqui e acolá
Somando com nosso povo

Não deixe que este verso
Seja mera distração
Sinceramente, confesso
Não foi esta a intenção
Quero que lhe seja útil
Em alguma ocasião

Devo esclarecer a tempo
Que nossa luta é igual
Companheiro e companheira
Vitimas do capital
Somente a nossa união
Destruirá este mal

A vitória não se espera
É preciso conquistar
A luta começa hoje
Basta você se engajar
Acredite, companheira
Nunca é tarde pra lutar.

domingo, 27 de julho de 2008

"Habeas bocas, Companheiras!"


Eis que elas se encontram
Em grande reunião
Discutem temas candentes
Sobre sua profissão
Falam em novo milênio:
Trabalho e emancipação

São muitas advogadas
Laboram no Cariri
De Juazeiro e do Crato
Missão Velha e Mauriti
Assaré, Jardim e Barro
Aurora, Brejo e Jati

Penaforte e Barbalha
Mangabeira e Ipaumirim
Abaiara e Milagres
Santana do Cariri
Salitre e Araripe
Antonina e Jardim

Do verde vale à serra
Todas comparecerão
Ao encontro que, marcado,
Mudará a região
Mostrando que advogado
Tem de gênero, flexão

Valdelúcia e Alex-Sandra
Suêrda e Amanda virão
Vamos chamar Valdenice
Lucrecia e Vilmar então
Cida, Léa e Eunice
Zulene e Tânia estarão

Odete, Edna e Carminha
E Eliane também
Iranir, Josefa e Lúcia
Já confirmaram que vêm
Fátima, Geralda e Veruccia
Não pode faltar ninguém

Assim como Sulamita
Valéria e Romana vão
Contactar Dagmar
E outras da região
Norma, Cícera e Gilda
Márcia também, por que não?

São corajosas mulheres
Que discutem este mês
Contrariando os reveses
Que a História lhes fez
Buscarão mudar o quadro
Brigando por voz e vez

Exigirão com firmeza
Seja a lei observada
Defenderão com destreza
A colega destratada
Falarão à luz acesa
Coisa que tava engasgada

Embora advogadas
Sofrem discriminação
Lutam por valer a lei
E não fazem concessão
São signos destas mulheres
Garra e determinação

São mães, esposas e filhas
Sabem da “situação”
O compromisso com a luta
É dever da profissão
Envolve muitas mulheres
Transcende a região

Lançou-se aqui a semente
A árvore plantada está
Não perca a ocasião
Venha conosco opinar
Somos muitas, companheiras
Estamos a lhe intimar

Há muito que discutir
No seio desta Justiça
A ORDEM é participar
Não se deve ser omissa
No futuro a gente quer:
Nem machismo nem malícia

O respeito entre colegas
A Ética já disciplina
Desde a vida acadêmica
A escola nos ensina
Se o Direito é masculino
A Justiça é feminina!

Oficial ou juiz
Promotor ou delegado
Policial, aprendiz
Todos devem ser lembrados:
Que advogada mulher
Não é “castelo encantado”

O estatuto esclarece
Que não há hierarquia
Nem juiz, nem promotor
Deve querer ser seu guia
Nosso regimento tem
Mui valor e serventia

O 1º encontro pede
Deliberações de frente
Quem nega que há machismo
É cego ou incoerente
Existem até juristas
Discriminando a gente

Data vênia, meu colega
Você precisa entender
Esta luta é minha e sua
Não basta só eu querer
Se o machismo ganhar
Todos nós vamos perder

Componham-se as querelas
Incontinenti desfaçam
Atitudes vãs e vis
Que ora nos ameaçam
Chegando o novo milênio
Por si só elas não passam

As decisões deste Fórum
Precisam ser divulgadas
Para que nossas idéias
Passem a ser respeitadas
Tendo a OAB à frente
Seremos tranqüilizadas

Remeta-se ao juiz
Dê-se vista ao promotor
Notifique o delegado
Publique-se, por favor
Registre-se o recado:
Retifique-se, Doutor!

Por fim quero lhe dizer
Que não lutamos em vão
Somos parte de um poder
Que governa a nação
Não podemos esquecer
Nada virá sem ação

Ademais é bom lembrar
Que somos advogados
De um Brasil promissor
Que ora se encontra “roubado”
Defender a Lei Maior
Não é coisa do passado

Importa anunciar
(Preste muita atenção)
A justiça não é cega
Fala e tem audição
Esta arte entre em vigor
Com sua publicação.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

EMBALANDO MENINAS EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA


Terezinha de Jesus
De uma queda foi ao chão
Alguém viu um cavalheiro
Com uma faca na mão
Depois um tiro certeiro
Dilacerou por inteiro
O seu jovem coração

Ela diz: “quero uma casa
Pra que eu possa governar
E também um bom marido
A quem eu possa amar”
Mas tendo o lar guarnecido
E o corpo todo agredido
Não dá pra silenciar

“Marido que bate, bate
Marido que já bateu”
Quem não agüenta calada
Conhece quem já morreu
Eis o que diz a moçada
À noite, pela calçada
Sobre o que aconteceu

Uma é rica, rica, rica
De mavé, mavé, mavé
Outra pobre, pobre, pobre
De mavé, mavé, mavé
Escolhei a que quiser
Pois ambas são agredidas:
À porrada e ponta-pé

“O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou”
Mas teus pés nas costas minhas
Deixou marcas, tatuou
Comentei com a vizinha
Pois era o que me convinha
E por isto, então, ficou

Mariquinha não vai com as outras
Mariquinha não quer falar
Mariquinha perdeu a fé
E já não quer testemunhar
Ela diz que viu o Zé
Matando outra mulher
Mas anda solto a cantar

“O Cravo brigou com a Rosa
Dentro de sua morada
A Rosa saiu ferida
E o Cravo a dar risada
A Rosa pediu socorro
E o guarda veio atender:
“Se o Cravo é seu marido,
Não devemos nos meter”

Senhora Dona Sancha
Coberta de porrada
Do rosto tire o véu
Mostre que está lesionada
Não leve para o céu
Em respeito a um anel
Uma vida violentada

Meu irmão, meu companheiro
Meu pai! – a quem só sei amar
Uma vez quis me bater
Outra vez quis me matar
Mutirão ou Limoeiro
Centro ou Novo Juazeiro
Assim em todo lugar

Você gosta de mim, ó gatinho?
Eu também de você
Quando estamos sozinhos
Por que quer me bater?
Se tocares em mim, ó gatinho
E me fizeres sofrer
Eu prometo, gatinho, denuncio você!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

DO DIREITO DE SER GAY (ou condenando a homofobia)

Se preferir ouvir, recitado na voz de Deth Haak, clique AQUI!
Diante do Tribunal
Zeca expôs a questão
“sou um homossexual
E peço vossa atenção
O que deve ser julgado
E d’uma vez extirpado
É o ódio; o amor, não!

Não está em discussão
A minha intimidade
Aqui a acusação
Pesa contra a insanidade
De quem ousa decretar
Que é proibido amar
Invocando a divindade

Meu direito de ser gay
Não me pode ser negado
Pois não ajo contra a lei
Quando ouso ser amado
Por alguém do mesmo sexo
Por mais que seja complexo
Esquisito ou estranhado

Sou eu, pois, um cidadão
Que trabalha e contribui
Com esta grande nação
E que dela não se exclui
Mereço todo o respeito
Sou sujeito de direito
Que avança e evolui

O que temos que julgar
É a tal da homofobia
Que está a provocar
Mortes pela cercania
Privando gente decente
De viver alegremente
Entre nós, em harmonia

Não podemos conceber
Que a injustiça impere
Temos que nos envolver
Pois toda morte nos fere
Todo gay é ser humano
Todo ser é nosso “hermano”
Se pensa assim, não tolere

Não seja condescendente
Cúmplice ou co-autor
Muito menos conivente
Com tais atos de horror
Se você tem consciência
Denuncie a violência
Seja lá contra quem for

Não me chame de demente
Anormal ou acintoso
Nem tampouco de indecente
Pecador ou monstruoso
Ouse atacar injustiças
Reveja suas premissas
Não sou eu o criminoso!

O que há de errado em mim?
E que você não suporta?
Tente escrever outro fim
Para a velha história torta
Um defensor de direito
Não dormirá satisfeito
Omisso, fechando a porta!

A diferença existe
Não adiante negar
Pra que este dedo em riste
Sempre a me apontar?!
Vá julgando a minha vida
E escondendo a ferida
Que tu não ousas curar!

Em toda a Humanidade
Houve gente como eu
Vítima da iniqüidade
Quanto inocente morreu!
Em nome de um modelo
Que sempre imprimiu um selo
Separando tu e eu

Foi assim com outros seres
Igualmente “diferentes”
Ante os “podres poderes”
Continuaram silentes?
Mulheres, negros, judeus
Anciãos, crentes, ateus
São todos eles doentes?

Suplico, reflitam mais
Sobre vossas posições
Examinem os anais
Das vossas “convicções”
Vejam que todos perdemos
Que Justiça defendemos
Admitindo exceções?

Repito: eu sou um gay
Veado, homossexual!
Sou eu um fora-da-lei?
Delinqüente, marginal?
Tenho direito a viver?
Ou minha sina é morrer
Sob a lâmina de um punhal?

Digam, senhores jurados!
E povo da minha terra!
Quem deve ser condenado?

É este que aqui vos berra?
Ou a tal homofobia?
Que mata à luz do dia
Vai à missa, ora e enterra?

Eu quero finalizar
Pedindo para os doutores
Comecem a se indagar
Olhem-se nos corredores
Quem não conhece um gay?
São todos foras da lei?
Ou há algum entre os senhores?

Quem nunca teve um colega
Quem sabe até um parente
Aquele a quem você nega
O direito de ser gente
De existir, ser feliz
Ser dono do seu nariz
E levar a vida contente?

Vamos, pensem um segundo!
Antes do seu veredito
Quem aqui criou o mundo?
E tudo o que “está escrito”?
Não é este o argumento?
Que lhes serve de cimento
Sobre o que tenho dito?

Deixo agora com vocês
O direito de julgar
Não é mais a minha vez
Fale quem quiser falar
Condenada a homofobia
Quem sabe por mais um dia
Muitos possam respirar

Sendo ela absolvida
Certamente ouvirão
Dizer que mais uma vida
Foi ceifada no sertão
E também no litoral
Onde gay não é igual
A qualquer um cidadão

Data vênia, meus senhores
Mas isto é covardia
Onde eu for, onde tu fores
Sempre dor e agonia
Ponham um ponto final
Sou um homossexual
Tenho direito ao meu dia!

terça-feira, 3 de junho de 2008

DIREITOS HUMANOS: ISTO É FUNDAMENTAL




Direito fundamental
Tá na Constituição
É aquele sem o qual
Não existirá razão
Para se bater no peito
E protestar por respeito
Se dizendo cidadão

É direito de existir
E jamais ser molestado
Direito de ir e vir
E também ficar parado
É o direito de pensar
De poder se expressar
E não ser discriminado

É o direito de escolher
Ser ateu ou ser cristão
Direito de não se ver
Envolto em confusão
Ter a honra imaculada
Gozar da vida privada
Sem sofrer violação

Direito de exercer
Livremente a profissão
Direito de conviver
De fazer reunião
Direito de se informar
De não se ver processar
Por tribunal de exceção

Direito de, se for preso,
Ter seu corpo protegido
E em sendo acusado:
“inocente presumido”
Direito de petição
E também de certidão
Sem pagar o requerido

Direito de estudar
De morar, de ter lazer
Direito de trabalhar
De salário receber
E de se aposentar
Quando o tempo chegar
Sem ter de se aborrecer

Direito de pertencer
Ao povo de um Estado
Direito de escolher
Por quem será governado
Direito de opinar
De votar, de protestar
E também de ser votado

São direitos da pessoa
Estrangeira ou nacional
Direito que não se doa
Se conquista, afinal
Direito que não se vende
Direito que se defende
Ante qualquer tribunal

Nascem da inspiração
Dos direitos naturais
Do pensamento cristão
E das lutas sociais
Vão ganhando dimensões
Somando-se gerações
Direito nunca é demais

São direitos que o povo
Precisa então conhecer
Não digo nada de novo
Mas quero oferecer
Uma leitura singela
Que a moça da janela
Possa ler e entender

Não basta só que entenda
Precisa saber cobrar
Para que não seja lenda
O que acabei de falar
Para quem se dirigir?
Como lutar, como agir?
A quem reivindicar?

Eis porque é importante
Que todos se mobilizem
Do doutor ao estudante
Todos se conscientizem
Combater violações
E desenvolver ações
Requer se instrumentizem

Por isto este encontro
Esta “aula inaugural”
O debate, o contra-ponto
O diálogo fraternal
Para socializar
A forma de se buscar
O que é essencial

Policial, professor
Jornalista e militante
O tal terceiro setor
Gente de todo quadrante
“uma idéia, muitas vozes”
Mil combatentes velozes
D’uma ação humanizante

É preciso relembrar
A luta sempre começa
Onde quer que você vá
Verá que o sonho não cessa
Lutar enquanto houver dano
Pois tudo o que é humano
Ao humano interessa!