Cordelirando...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Mulher de Sete Vidas

Eu vou narrar a história
Da mulher de sete vidas
Esta me vem à memória
Dentre tantas conhecidas
É uma saga interessante
Duma alma caminhante
Que gera e cura feridas

Não sei bem se foi um sonho
Ou algo que eu já vivi
Mas a contar me disponho
Em face do que senti
Fagulhas de misticismo
Centelhas de espiritismo
Cordel igual nunca vi

São diversas personagens
Que no fundo é uma só
A profusão de imagens
Vai da neta à bisavó
Num ciclo atemporal
Um discurso transversal
Que vai do sopro ao pó

Uma alma feminina
Que várias vidas viveu
Complexa porção divina
Assim como tu e eu
Sedenta por aprender
O sentido do viver
Um dia me apareceu

Surgiu diante de mim
Me deixando extasiada
Andando pelo jardim
Numa tarde ensolarada
Aquela mulher pequena
E de feição tão serena
Me pareceu “encantada”

Sorrindo disse: “Pessoa,
Uma luz te alumia
Tua palavra ecoa
Através da poesia
Nascestes para contar
Por meio do versejar
Que em tudo tem energia!”

E disse-me que no mundo
Tudo é espiritual
Tudo gira num segundo
Em ondas feito espiral
E logo foi-se afastando
Quando fui me aproximando
Deixou ali um sinal

Num pedaço de papel
Talvez psicografado
Pensei que eu tava pinel
Mas tava ali do meu lado
Naquela caligrafia
Minha carta de alforria
E um pouco do meu passado

E numa língua estranha
Mas em formato de rima
Eu vi aquela façanha
Algo que muito me anima
Aquela anunciação
Que tal qual uma oração
Nos dirige para cima

Depois que ela partiu
Um querubim despencou
Meu espanto ele sentiu
E sorridente me olhou
Eu perguntei: “Quem é ela?”
Ele disse: “Uma aquarela
Que você mesma pintou”.

E eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores?
Se eu me chamasse Raimundo
Seria rima e não dores!
Será que estou acordada?
Quem me armou esta cilada?
Ò Cristo dos meus amores!

Valei-me Carlos Drummond!
Vinde a mim Frida Khallo
Ouço um esquisito som
Pelejo, porém, não falo
Que coisa mais esquisita
Adentro numa mesquita
E meus olhos arregalo

E fico ali sem ação
Sem nada poder fazer
De repente uma canção
E me vejo adormecer
Ali eu compreendi:
Aquela mulher que vi
Tem algo a me dizer

Um sussurro sedutor
Zumbia no meu ouvido
Gemido ensurdecedor
Me fez perder o sentido
Então no tempo voltando
Fui pouco a pouco encontrando
Respostas ao requerido

Vi que aquela mulher
Não era desconhecida
Acredite quem quiser
Era eu mesma noutra vida
Então foi tudo encaixando
Eu a mim me revelando
Me tornando esclarecida

Passei então a saber
Por onde um dia andei
Pelo que pude entender
Muito mais eu andarei
Agora posso afirmar
Tudo que vivo a negar
Eu fui, eu sou, ou serei

Aquela mulher sombria
Para mim misteriosa
Que em princípio sorria
Depois se tornou chorosa
Tem uma história infinda
Triste, alegre, feia e linda
Terrível e maravilhosa

Vivendo aqui neste meio
Após sete encarnações
Provavelmente aqui veio
Cumprindo expiações
E já que pouco aprendeu
Muitos erros cometeu
Vítima de ilusões

Uma fêmea criatura
Que no espaço encarna
Exibindo a tessitura
Da lei conspícua do Karma
Néctar da Suprema Luz
Que o Universo conduz
Pretende chegar ao Dharma

Nascida num dia sete
O sete a acompanha
Em tudo que ela se mete
Há uma força estranha
Um anjo torto e cambota
Vive a lhe soprar lorota
Num eterno perde/ganha

Eis um ser em construção
Buscando se conhecer
Ora está na contramão
Ora ensina a viver
Faz das tripas coração
Faz do gemido oração
Faz derrotado vencer

Vive ela nesta vida
Conectada ao mundo
Em mil coisas envolvida
Não pára um só segundo
Invoca as forças do além
Mas não as entende bem
Pois é criança, no fundo

Vive a pedir proteção
E procurando entender
Qual é a sua missão
A razão do seu viver
Vive um dilema total
Oscila entre o bem e o mal
Em tempo de enlouquecer

Sente que tem um mentor
Um guia espiritual
O tal anjo protetor
A quem suplica um sinal
Para não mais se perder
Pra melhor se conhecer
Cuida do chacra frontal

Nesta busca incessante
Em torno do próprio ser
Teve um sonho alucinante
Que para melhor dizer
Foi uma revelação
Que trouxe a informação
Que passo agora a dizer:

Entre luzes cintilantes
E cores celestiais
Eloqüentes e vibrantes
Trombetas descomunais
Uma voz se aproximou
E junto dela falou
Dentre outras cositas mais:

“um anjo desencarnado
Não te quer gauche na vida
Ele a ti tem ajudado
Em chegada e despedida
Chamando tua atenção
Olha pro teu coração
E vede a luz escondida!

Tu tens estado perdida
Tens confundido a mente
Tens procurado saída
Porque se sente doente
Em toda religião
Suplica por proteção
Mas não se sente contente

Tens procurado entender
O que Deus manda pra ti
Buscado repreender
O mal que estás a sentir
Não vês que a hora chegou
Colhe-se o que se plantou
Disto não podes fugir

A tua sétima face
É tua força interior
Onde se dá o enlace
Criatura e Criador
É o Caminho do Meio
Donde toda Força veio
Onde se gera o amor

Sete vidas já vivestes
Mil histórias pra contar
Septuagésima morreste
No teu último caminhar
A cada vida passada
Uma missão consagrada
Voltastes pra resgatar

Já fostes dama da noite
Fostes cobiçada atriz
Vivestes sob o açoite
Da pecha de meretriz
Já fostes doce donzela
Levando vida singela
Sonhando em ser feliz

Fostes rica, fostes pobre
Fostes divina e profana
Fostes de linhagem nobre
E fostes também cigana
Numa vida, enaltecida
Noutras tantas, preterida
Oh! Que estrada tirana!

Saboreastes de tudo
Neste evoluir humano
Do punhal pontiagudo
Ao beijo do soberano
Da grande pedra que esmaga
À mão macia que afaga
De homem rico e insano

Na era mais primitiva
Foi coletora de erva
Na escravidão nativa
A negra que virou serva
Chegaste a ser segregada
Num feudo trancafiada
Tal qual ervilha em conserva

No mundo industrial
Como operária viveu
Contra os horrores do mau
Em batalhas se meteu
Dali extraiu lições
Que a vida tem dimensões
Que o homem nunca entendeu

Quando veio potentada
Do poder soube abusar
Humilhava a empregada
Fazendo a mesma chorar
Vivendo na burguesia
Nada mais te comovia
Tudo podias comprar!

Depois mendiga e demente
Foi maltratada e infeliz
Exposta ao sol inclemente
A vida ali, por um triz
Um tempo de aflição
De muita perturbação
Assim tua alma quis

Como filha, nem se fala
Ignorava teus pais
Um dia fez tua mala
Para nunca voltar mais
Drogada e prostituída
Suicidou-se em seguida
Atraída por teus iguais

Lembra-te da inimiga
Que noutra vida mataste?
Para curar a ferida
É a filha que tu geraste
O teu marido, coitado
Pelo álcool escravizado
Colhendo o que semeaste

A cada vida uma chance
Para se regenerar
Qual num macabro romance
Voltava ao mesmo lugar
Tudo te satisfazia
Sexo, poder e magia
Dinheiro pra se drogar

Mas eis que chegou a hora
De dar na vida um salto
Do crepúsculo à aurora
Tomada de sobressalto
A Luz que vem do Universo
Surge em forma de verso
Vinda de longe, do Alto

Nem só o material
O Homem deve buscar
A vida espiritual
É preciso cultivar
Após uma guerra externa
Vem uma batalha interna
Difícil de se ganhar

A mulher de sete vidas
Sete vezes se procura
Vislumbra algumas saídas
Mas busca a mais segura
Já não quer mais desengano
Na verdade o Ser Humano
Só em Deus encontra a cura

Se em ti o sete é marco
Ponto de chegada e fim
Vede a flecha e o arco
E o sangue jorrado, enfim
Aprende com o perdão
Constrói a tua oração
Dizendo à vida “sim”

Porque a tua essência
É da mais límpida luz
Trabalha a Consciência
De que O Pai te conduz
E o numeral cabalístico
Terá um sentido holístico
Qual o símbolo da cruz

De fato o sete está
Cheio de simbologia
Há muito a se analisar
A partir da energia
Tantos acontecimentos
Incontáveis elementos
Causando tanta euforia

Assim como a vida, o sete
Pode ser bom o ruim
Se fizeres uma enquete
Verás que tudo é assim
Há tempo para nascer
E tempo para morrer
Porém não existe fim

São tantas informações
Em torno deste algarismo
Muitas especulações
Certo fundamentalismo
Clara sincronicidade
Muita inventividade
Um pouco de esoterismo

Bastante superstição
Um pouco de fetichismo
Doses de adivinhação
Pitadas de ocultismo
Qual nas cartas dum baralho
Ou letra de Zé Ramalho
Mistério e malabarismo

Sete cores do arco-íris
Sete notas musicais
Seth é o irmão de Osíris
E os pecados capitais
Sete planetas sagrados
A sete palmo enterrados
Estão os pobres mortais

Sete é numero de sorte
Como também de azar
Aos sete dias da morte
É tempo de se lembrar
De quem partiu dessa vida
Pruma outra prometida
Para nunca mais voltar?

Sete pães multiplicados
Sete nações destruídas
Sete botas no telhado
Sete estrelas coloridas
Sete bezerros de ouro
Sete dias de agouro
Sete mortes, sete vidas

Sete dias da semana
Sete chagas do Senhor
Sete é o número que engana
Sete espinhos na fulô
Sete arcanjos devotados
Sete selos tatuados
Nos tratados do terror

Sete são as tais trombetas
Citadas no Apocalipse
Sete curvas dos cometas
Antes de vir o eclipse
Sete são leis de Noé
Sete números de fé
Sete sílabas em elipse

Sete anões e sete altares
Sete anos de labor
Sete bombas nucleares
Sete vezes protetor
Sete homens contra Tebas
Sete gotas contra amebas
Sete noites de horror

Setenta e sete vezes
Deve o cristão perdoar
Sete castiçais ingleses
Sete pragas a rogar
Sete conta o mentiroso
Sete histórias de Trancoso
Sete para descansar

Sete são as divindades
Que comandam a natureza
Sete são as majestades
Donas de toda beleza
Sete anos em construção
O templo de Salomão
Cheio de glória e riqueza

Enfim, são muitas passagens
Muita história e muita fama
São diversas as imagens
Que a Bíblia traz e proclama
Também a mitologia
A história influencia
E torna acesa a chama

Mas a sétima encarnação
Da mulher de sete vidas
Tem a significação
De sete plantas colhidas
É meio de evolução
Interna revolução
Reforma íntima sentida

É uma história pra ser lida
E depois ser explorada
Pois para ser entendida
Precisa ser comentada
Diz respeito a outros planos
Sobre os quais há mil enganos
E mil questões formuladas

Eis porque é bom falar
Sobre estas coisas assim
Pra que possamos pensar
Sobre o não e sobre o sim
Quem poderá nos dizer
Que não há novo viver
Quando tudo chega ao fim?

Mulher Consciência - Nem violência, nem opressão

Os números de violência
Têm crescido sem parar
Pra garantir resistência
É preciso não calar
Do Cariri pro Brasil
Quero me manifestar

Nos quatro cantos do mundo
A gente escuta contar
Mataram tantas mulheres
Outras mandaram matar
Estupram até meninas
Dentro do seu próprio lar

Este é um problema grave
Não podemos consentir
A matança de mulheres
Ficou comum por aqui
Ao invés de lamentar
Acho melhor reagir

É o mundo capitalista
Próximo do novo milênio
Em que pesem as conquistas
Do nosso último decênio
Concluem os humanistas
Na barbárie é que vivemos

Há muito tempo as mulheres
Sofrem grande opressão
Conta a História que isto
Nasce com a acumulação
Do produto do trabalho
Em algumas poucas mãos

Com a divisão das tarefas
A mulher ficou no lar
Cuidando de sua casa
E para filhos gerar
E sem ser remunerada
Não pode se emancipar

Antes disto a mulher
Viveu em plena união
Pois havia a igualdade
Na base da educação
Era da comunidade
Os meios de produção

A maternidade tinha
Importância sem igual
A mulher era rainha
Não era um ser marginal
Respeitada no trabalho
E na vida social.

Mas isso já faz um tempo
A história já mudou
Passamos pelo escravismo
O feudalismo passou
Agora o capitalismo
Vive tempos de terror

A história da mulher
É a história da opressão
Da mulher trabalhadora
E da esposa do patrão
A igualdade jurídica
De fato não existe não

Sociedade machista
Gera incompreensão
Aniquila a mulher
Perdendo em evolução
Pensa que o cabra homem
Sozinho faz o verão

Oprimida e explorada
A mulher ainda está
Pouco ganha, se empregada
Nada ganha se casar
Exerce tripla jornada
Mas tem forças pra lutar

Lutar contra a violência
Da qual é vítima fatal
Exigindo o cumprimento
Do tal preceito legal
Não aceitando o silêncio
Como resposta final

Lutar por salário igual
Ao homem em mesma função
Lutar por manifestar
A sua opinião
Nem que baixe na polícia
E acabe na prisão

Decidir, quando preciso
Se quer ter filhos ou não
Cuidar do próprio corpo
Sem nenhuma imposição
Com livre escolha do método
De anticoncepção

Ter informação idônea
Sobre doenças do sexo
Não ter medo nem vergonha
Se libertar dos complexos
Ser uma mulher feliz
Às vésperas do novo século

E para tanto é preciso
Não cochilar, não dormir
Pois se a mulher tem juízo
Não poderá consentir
Que o machismo perdure
Enquanto ela existir

É preciso somar forças
E lutar contra as mazelas
Meninas, velhas e moças
Vamos deixar as querelas
Vamos fazer um país
De Justiça, sem seqüelas

Somos muitas companheiras
Por este país imenso
Umas laboram na feira
Conforme nos disse o censo
Algumas são enfermeiras
Outras moram no convento

Professora, vendedora
Faxineira, advogada
Motorista, promotora
Cozinheira, operária
Camponesa, jogadora
Tantas são desempregadas

Mulheres, mães e amantes
São companheiras, enfim
Sonham com um mundo justo
Trabalham pra ser assim
Geram os filhos do mundo
Pra qu’este não tenha fim

Mulheres existem muitas
Metade, veja você
Do povo de nossa terra
Conforme ouvi dizer
Tem mulher demais na Pátria
Poucas, porém, no poder

É por isso que as leis
E as decisões importantes
Que na História se fez
Deste povo inquietante
Poucas delas tem a tez
Da mulher no seu semblante

Trinta e quatro deputadas
Tem o meu Brasil, somente
Apenas seis senadoras
Pra representar a gente
O Congresso Nacional
Revela-se incoerente

Mas isto pode mudar
Basta o Brasil querer
Uma Pátria não é livre
Sem a mulher também ser
É possível governar
Pluralizando o poder

O Código Civil caduca
Veja só que coisa vil
Avilta nossas mulheres
Por todo nosso Brasil
Uma lei de dezesseis
Vigora em pleno 2000

O homem ali é o “chefe”
Tem o “pátrio” poder
Anula seu casamento
Pode a noiva devolver
Se esta já não for virgem
Conforme tinha de ser

É do ano de 40
O nosso Código Penal
Uma lei tão importante
Há meio século igual
Se a vida é dinâmica
Mude o preceito legal

E sobre esta lei estável
Não preciso comentar
Se ao flagrar o “Ricardão”
Quiser a “honra lavar”
A “violenta emoção”
Pode a pena atenuar

E que dizer do estupro
Crime dos mais desgraçados?
Para o Código ele fere
Costumes convencionados
A mulher sofre agressão
O moral é que é lesado

Alguns espertos dirão
Mas, doutora, a Carta Magna
Já botou tudo por terra
A mulher tá amparada
Amparou a que morreu
Porque se encontra calada

A lei somente é pouco
É preciso decisão
Sem atuação política
Não há emancipação
A conquista do presente
Foi no passado a ação

Nós mulheres já cansamos
Das manchetes nos jornais
Companheiras que amamos
Alvo de golpes fatais
A impunidade fica
Elas não voltam jamais

A violência doméstica
É assunto de polícia
É preciso providências
Logo que tomar notícia
Trabalho profissional
E diligência propícia

Não se deve ser omissa
Se o marido é o agressor
Pois ninguém tem compromisso
De apanhar por amor
Se na novela é bonito
O Rei do Gado acabou

Não tolere, não transija
Não permita a violência
Cultive a auto-estima
Não aceite a prepotência
Ser feliz é ter prazer
Do contrário é doença

Se informe de seus direitos
Lute e cobre do Estado
Se o ego tá insatisfeito
Deixe a vergonha de lado
Vá exigir do prefeito
Reclame do deputado

Cobre do seu município
O Conselho da Mulher
Cadê a delegacia?
Você ainda tem fé?
E a creche do seu filho?
Lute enquanto puder

Só posso lhe garantir
Que direito você tem
Mas pra que serve o direito
Se na prática ele não vem?
Então adote uma tática
Brigue por isto também

Licença maternidade
É direito “amarrado”
Não é patrão quem decide
Se deixa ou não ser gozado
Se você for impedida
Procure um advogado

Se você é separada
E não deu causa à questão
E se tem filhos menores
Não perca a ocasião
Reclame do “dito cujo”
Seu direito de pensão

A C.L.T. prevê
E é preciso cobrar
Condições especiais
Para a mulher trabalhar
Da higiene ao descanso
Até da hora e lugar

Sobre aposentadoria
Não é preciso ter medo
E como não poderia
Não existe mais segredo
Dependendo do seu caso
É cinco anos mais cedo

A Constituição diz
Que somos todos iguais
Então arregace as mangas
E vá da saúde atrás
Escola para seu filho
Não pode faltar jamais

Se acaso é doméstica
E trabalha sem pudor
Saiba que existem direitos
Relativos ao labor
A Lei Máxima assegura
Não será nenhum favor

Se por acaso for presa
Ou pena estiver cumprindo
E tiver um bebezinho
Do seu leite consumindo
A lei vai lhe garantir
Este momento tão lindo

Se porventura for negra
E por isso discriminada
Não aceite tal afronta
Não fique desanimada
Isto constitui um crime
De fiança inaceitada

Não aceitar o machismo
Também implica lutar
Contra toda violação
Que se possa observar
Em nossa sociedade
E onde quer que se vá

A começar por aqui
Pelo Cariri amado
Onde o machismo covarde
Não se mostrou acanhado
Ficou em muitas famílias
Para sempre tatuado

Lesões no corpo e na mente
Assassinatos brutais
Comoveram nossa gente
Arrancaram nossa paz
Resta um apelo premente
Não se repitam jamais

Anônimas ou conhecidas
Estas mulheres merecem
Justiça por suas vidas
E não apenas as preces
Não sendo a lei cumprida
O direito, então, fenece

Chorando nossas Yaras
Nos encontramos então
Soraias, Anas e Laras
Não faleceram em vão
As Marias que ficaram
Com certeza lutarão

Acredito que nós todas
Podemos tentar de novo
Devagar, sem desistir
Como pintinho no ovo
Bicando aqui e acolá
Somando com nosso povo

Não deixe que este verso
Seja mera distração
Sinceramente, confesso
Não foi esta a intenção
Quero que lhe seja útil
Em alguma ocasião

Devo esclarecer a tempo
Que nossa luta é igual
Companheiro e companheira
Vitimas do capital
Somente a nossa união
Destruirá este mal

A vitória não se espera
É preciso conquistar
A luta começa hoje
Basta você se engajar
Acredite, companheira
Nunca é tarde pra lutar.