Cordelirando...

domingo, 20 de outubro de 2019

Autobiografia Poética

Sou poeta e isto me alimenta
E permite liberar a criação
Minha lira jamais será isenta
Do contexto em que pego a visão
Meus cordéis traduzem o que penso
E nem sempre emanam do consenso
Pois almejam a emancipação

De mulheres, pretos e viados
Nordestinos, presos, anciãos
Insurgentes e não acomodados
Nos esquemas de corrupção
Camponeses e desempregados
Ativistas não idolatrados
Curandeiras com ou sem religião

Minha rima expõe a minha alma
E com ela proponho alguma ação
Que fomente paz, amor e calma
Mas também há treta de montão
Pois a luta é sempre necessária
Por uma vida mais igualitária
E contra toda forma de opressão

E o cordel foi o meu livro primeiro
Que a família me apresentou
Pois quem vem duma tribo de romeiros
Sabe bem onde está o seu valor
Já que a reza, a rima e o roçado
Mais o riso, o rosário e o reisado
Fazem parte daquilo que eu sou

Viva a vida e toda a poesia
Que a ancestralidade me legou
Viva a velha que me ensinou um dia
O caminho que muito me encantou
Salve a poeta por nome de Maria
Analfabeta, cega e "sem valia"
De quem sou neta, com honra e louvor!

Salete Maria, Outubro de 2019