Cordelirando...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Campanha+Promoção: Ajude Salete Maria a CORDELIRAR!

Como fora dito na postagem anterior, os cordéis de Salete Maria se destacam por abordar temas como Velhice, Assédio Moral, Direitos dos Homossexuais, Direitos das Mulheres, Cidadania, Direitos Humanos, dentre outros . O diferencial da autora, além da primazia do verso são as figuras de linguagem, a intertextualidade e o modo como brinca com as palavras, provocando reflexões tão necessárias em nossos dias atuais. Por conta disto, sua obra, que já foi premiada diversas vezes, vem sendo trabalhada em escolas e universidades, além de ser objeto e fonte de pesquisa.
Pois bem, queremos pois lançar uma COLETÂNEA deste trabalho tão lindo e tão importante para todos aqueles que se identificam com as palavras rimadas de nossa poetisa. Mas, para isto precisamos de dinheiro, dinheiro este que (ainda) não temos, infelizmente. E é justamente aí que precisamos de sua ajuda!
Lançamos a Campanha+Promoção: "Ajude Salete Maria a CORDELIRAR!", onde sortearemos, no dia 31 de agosto, esta camiseta pintada à mão (tam. M), que irá dentro desta caixinha também preparada por nós, com todo carinho. Observe as regras de participação:
  1. Compre 10 (dez) cordéis de Salete Maria, no valor de R$1,00 cada (ou seja, R$10,00 ao todo). A cada dez cordéis que você comprar, terá direito a um número para o sorteio;
  2. Acompanhe o nosso blog como seguidor(a);
  3. Escreva nos comentários deste post a seguinte frase: "Eu quero ajudar Salete Maria a CORDELIRAR!" e deixe um email para que possamos entrar em contato e enviar a forma de pagamento dos cordéis;
  4. Se você conseguir a adesão de outra pessoa à nossa campanha+promoção, você terá direito a mais um número para sorteio (basta, para isto, que a pessoa no comentário descrito no item 3, acrescente que foi indicado por você). Cada pessoa que você indicar (e que aderir à campanha) te dará direito a mais um número.
  5. Você poderá escolher quais cordéis deseja comprar. nosso portfólio é o próprio blog, rs.

Desde já, desejamos boa sorte aos participantes e um MUITO OBRIGADA por nos ajudar a difundir esta cultura ainda tão discriminada, mas tão linda e importante que é a literatura de cordel.

Vamos ajudar nossa poetisa a CORDELIRAR e CORDELIREMOS junto com ela!

PS.: Quem não possui blog também pode participar, é só comentar no post e deixar um email para contato, ok?

domingo, 19 de julho de 2009

Extra! Extra!

Extra! Extra! O cordel A História de Zé Leitor, bem como o Cordel Cidadania Nome de Mulher fizeram tanto sucesso que já estão na segunda edição! Viva!
De leitura fácil e didática, os cordéis de Salete Maria têm sido adotados em Escolas de ensino Fundamental e Médio para a discussão de temas pertinentes como aVelhice, Assédio Moral, Direitos dosHomossexuais, Direitos das Mulheres, Cidadania, Direitos Humanos em geral, etc. O diferencial da autora, além da primazia do verso são as figuras de linguagem, a intertextualidade e o modo como brinca com aspalavras.
Caso você também tenha interesse em adquirir os cordéis para uso pessoal ou trabalho em grupo, deixe um comentário neste post com o seu email que entraremos em contato. Vendemos os cordéis a preços módicos.
E sim, Zé Leitor veio de cara nova, olha aí:
Zé recebeu um convite
Que nunca foi feito antes
Pois era coisa de elite
Ou de jovens estudantes
Foi chamado a estudar
Escrever, ler e contar
Quanta coisa interessante!

Ficou meio pensativo
E disse para a mulher:
“Inté hoje eu sobrevivo
Sem sabê lê um papé
Agora nessa idade
Num tenho capacidade
Vou andar de marcha à ré?”

“Já não tenho condição
De aprendê o bê-a-bá
Tenho preocupação
Vivo só pra trabaiá
Agora esta invenção
Estudá, fazer lição
Para mim isto não dá”

A mulher disse: “José
Tu tá com medo de quê?
Sempre foi home de fé
Vai agora esmorecê?
Ta rejeitando a escola?
É direito e não esmola
Conforme ouvi dizê”

“Além do mais hoje em dia
Ninguém mais fica de lado
Aqui pela cercania
Tá todo mundo letrado
Home, muié e minino
Só tu não tá assitindo
O Brasil Alfabetizado”

“O povo qué estudá
Vai atrás e se concentra
Não dá pra desanimá
Na vida tudo se enfrenta
O passado já passou
O presente começou
O futuro a gente inventa”

“É mermo, tu tem razão
-disse José, de repente-
Num vou pagá um tostão
Isto me deixa contente
Vou apanhá um caderno
O mais bonito e moderno
E vou me dá de presente”

“Vou estudá, tá na hora
Vou tentá aprendê lê
Se eu nunca fui à escola
Não foi falta de querê
Desde cedo trabaiando
Meu velho pai ajudando
Levei a vida a sofrê”



“Assim como eu, milhares
Por este Brasil afora
Basta olhá nos olhares
Ninguém mais nos ignora
Eu vou sim, tô na peleja
Nada nos vem de bandeja
É chegada a minha hora”

“Vou tirá o atrasado
Nunca é tarde pra aprendê
Criança fui pro roçado
Hoje não sei escrevê
Mas sei que posso tentá
É tempo de avançá
Chega de teretetê”

A mulher disse: “Você
Já tá falando bonito
Mesmo não sabendo lê
Nada do que tá escrito
Já mostra que tem futuro
Vejo que está seguro
E em você acredito”

“Sei que é um dereito seu
Ter acesso aos estudo
Do tanto que tu viveu
O mundo mudou em tudo
Vá, José, vá estudá
Você só tem a ganhá
Já é um homem sortudo”



“Eu mermo sei lê um tico
Sei fazê um bilhetinho
As vezes até medito
E sonho mais um pouquinho
Se eu voltá a estudá
De tudo vou me alembrá
E progrido ligeirinho”

Zé ouvindo aquilo tudo
De pressa se decidiu
Deixou o olhar sisudo
O coração consentiu:
“Não custa nada tentá
E é tão bom estudá”
Pegou as coisas e saiu

Então foi ele à escola
Cheio de ansiedade
Levava numa sacola
Sonho e realidade
Chegou na sala e entrou
A professora falou:
“Nossa, que felicidade!”

“Seja bem vindo, amigo
Aproveite este momento
Esta escola é um abrigo
Tome logo seu assento
Aqui todo mundo ensina
Cada um é uma mina
Carregada de talento”



Cada um sabe um pouco
Da vida que tá lá fora
Antônio hoje está rouco
De gritar que vende amora
Maria, que é cozinheira
Hoje viu João na feira
Pertinho de onde ela mora”

“Maria Lúcia é avó
Joaquina se aposentou
Eduarda é o xodó
Porque nunca se casou
Socorro é rezadeira
Luís vai à gafieira
E Joana luta judô”

“São todos gente madura
Autoridades no lar
Ninguém aqui tem frescura
Todos querem estudar
Falamos do dia-a-dia
Um pouco da carestia
E de tudo quanto há”

José logo foi gostando
Daquele novo ambiente
Foi logo se enturmando
Achando o povo decente
Olhou em volta e sorriu
À vontade se sentiu
Pois “gente gosta é de gente”



Pegou papel e caneta
Ouviu a explicação
Lembrou da velha marreta
E do surrado macacão
As letras se embaralhavam
Parece até que mangavam
De sua concentração

Espremendo bem a vista
Ouviu tudo direitinho
No quadro tinha uma lista
De nomes bem bonitinho
A professora feliz
Usava um taco de giz
E falava bem mansinho

Tinha um “a” de avião
Um “e” de escadaria
Um “i” de informação
Um “o” de ovo, havia
Um “u” de uva, também
E ele, como ninguém
Naquilo se envolvia

Todo dia ele estudava
Depois de ter trabalhado
A professora falava
E ele compenetrado
Tinha muita explicação
Depois vinha uma lição
Do que fora ensinado



Via os colegas dizerem
Que queriam se formar
Pra uma festa fazerem
E muita gente chamar
Ele até pensava nisso:
“Imagine o rebuliço
Que neste vai dá”

Chegava em casa cansado
Ligava a televisão
Porém ficava espantado
Com tanta complicação
Via que pouco entendia
Pois como ainda não lia
Tudo era confusão

Viu a novela, o jornal
Ouviu notícias do mundo
Mas ao trocar de canal
Adormeceu num segundo
Sonhou com uma caneta
Comandando este planeta
E um papel branco de fundo

“Vixe que coisa medonha
Uma caneta falante
Com uma cara risonha
E em tamanho gigante”
E a caneta dizia:
“Olá, José!” e sorria
E lhe dava um diamante



Sobressaltado acordou
Achando aquilo estranho
De um desenho lembrou
Da forma, cor e tamanho
Olhou para seu netinho
Beijou-o devagarinho
Saiu e foi tomar banho

Achou que aquele sonho
Tinha algo a lhe dizer
Mas era muito medonho
No jeito de aparecer
Pra que caneta e papel
Comandando uma babel
Como podia entender?

Foi trabalhar matutando
E à noite foi estudar
A professora falando
E ele só a pensar
Na caneta e no papel
Sobrevoando o céu
Querendo lhe seqüestrar

Nesta noite nada viu
Que pudesse entreter
Quando da sala saiu
Sem nada ali entender
A professora sentiu
Que ele nada ouviu
E foi sondar pra saber:



“O que há com o senhor
Que nada quis comentar
Parece que não gostou
Da aula, do ensinar”
Ele disse: “não senhora
Eu tava meio por fora
Nada tenho a me queixar”

Ela insistiu: “o senhor
Tava absorto, perdido
Eu lhe peço, por favor
Não se sinta preterido
Se estiver desgostoso
Ou quem sabe ansioso
Pode se abrir comigo”

“Não, senhora, Ave Maria
A aula é muito boa
Me desculpe eu não queria
Ofender sua pessoa
É que eu às vezes penso
Este mundão é imenso
E a vida da gente voa”

“Eu tô aqui nesta idade
Tentando aprendê lê
Pois na minha mocidade
Isto não podia sê
Vivia para o roçado
Ganhando pouco, empregado
Vivendo ao léu, a mercê”



“Por isso mesmo o senhor
Deve dar valor a vida
Se viveu, se batalhou
Se sofreu sua ferida
Deve lembrar o poeta
Que constrói a sua meta
Na palavra proferida”

Diga que “valeu a pena”
Pois tudo vale na vida
“Se a alma não é pequena”
Nela tudo tem guarida
Viva o daqui pra frente
Vale viver o presente
Desta vida comovida

Ele disse: “a senhora
Tá coberta de razão
O que disse só melhora
O meu velho coração
Vou, sim, aprendê a lê
E um dia hei de escrever
Um verso cheio de emoção”

“Com muito afinco e prazer
Meteu a fazer lição
Queria logo aprender
E abrir sua visão
Dizia a sua mulher
Agora eu boto fé
Que serei um cidadão”



No trabalho ele falava
Do mundo que descobria
O servente o olhava
E muito pouco entendia
Mexendo massa e cimento
Só via o mundo cinzento
Por que tanta euforia?

No caderno escrevia
O próprio nome: J-O-S-É
Em voz alta ele lia:
“Jota, ó, ésse e é”
Falava de sua história
Do que tinha na memória
Da vida como ela é

Assim fazia progresso
Mas as vezes se zangava
Quando pegava um impresso
E pouca coisa encontrava
Do mundo em que ele vivia
Pois toda coisa que lia
De outro mundo falava

Ficava desiludido
Com tanta dificuldade
Sentava meio abatido
Contava sua idade
“Já tenho sessenta anos
Eu nem posso fazê planos
De ir para faculdade”




Mas a mulher companheira
Que um pouco sabia ler
Dizia à sua maneira:
“Zé, não se deixe abatê
Tu lendo a tua vida
Melhorando tua lida
Já é bastante o crescê”

Zé ouvia aquilo tudo
E matutava, baixinho:
“Nunca vou tê um canudo
Sempre serei Zé Povinho
Esse negócio de lê
Contá, falá, escrevê
Não é bem o meu caminho”

Mas ao mesmo tempo via
Que muita coisa mudava
Quando ia a padaria
O troco ele contava
Fazia atenta sondagem
Lia toda embalagem
Daquilo que ali comprava

Ao tomar a condução
Ia no transporte certo
Ao receber um cartão
Já entendia correto
Uma ficha preenchia
Um jornal ele já lia
O mundo tava mais perto


Mas algo ele queria
E desejava fazer
Seria naquele dia
Não podia mais conter
Iria ele, afinal
Ao cartório eleitoral
Seu nome subscrever

Queria votar, então
E decidir seu destino
Ao apertar o botão
Não se sentir tão cretino
Queria ver o seu nome
Assinar seu sobrenome
Na folha de papel fino

E assim tudo se deu
Ele se sentiu completo
Vendo ali o nome seu
E não mais “analfabeto”
Que prazer ele sentia
Ate chorou nesse dia
Olhando do piso ao teto

Mas outro desejo tinha
E queria realizar
Faria uma cartinha
Pra seu amor declarar
Diria para Helena
Sua esposa: “Pequena,
não me canso de te amá”



Queria deixar escrito
O que nunca registrou
Num texto muito bonito
Falando só de amor
Queria dizer a ela
Igual se diz na novela:
Você é a minha flor!

Mas tinha aquela vergonha
Podia parecer tolo
Tem coisa que a gente sonha
E a vida passa o rolo
Um homem da sua idade
Falar de amor e saudade
Só tendo cara de bolo

Procurou a professora
E falou do Ceará
Da seca devastadora
Que ele já viu por lá
Disse que tinha um parente
Que gostava de repente
E lhe ensinou a gostar

Disse que nas cantorias
Dos cantadô de viola
Sempre tinha uma magia
Igualzinha a da escola
As palavra vinham vindo
E os verso iam saindo
La do fundo da cachola



Falou que ouviu cordel
Ser declamado na feira
Um poeta, um menestrel
Desses sem eira nem beira
Ensinava o povo lê
Sem grande esforço fazê
Somente na gemedeira

Disse que na sua terra
Tem verso para quem qué
E que lá tem uma serra
Por nome de Assaré
Onde um poeta roceiro
O maió dos brasileiro
Mal rabiscava um papé

O poeta Patativa
Que Deus o tenha no céu
Foi uma ave nativa
Para o país um troféu
Home de pouca leitura
Mas de palavra segura
Partiu envolto num véu

A professora propôs:
Que tal você recitar
Hoje, amanhã ou depois
Do poeta popular
Um verso bem empolgado
Pra lembrar do seu passado
E também do seu lugar?




Que tal você nos trazer
Um cordel para leitura
Para a gente conhecer
Esta augusta criatura:
Patativa do Assaré
Que o mundo sabe quem é
Cheio de força e candura

Zé ficou maravilhado
E disse: Eu trago, sim
Já estou emocionado
É importante pra mim
Lê algo que me encanta
Que minha alma levanta
Obrigado, meu Padim!

E assim foi que se deu
No final daquele ano
Zé, logo que amanheceu,
Já tava fazendo plano
Mas suas pernas tremiam
Os lábios estremeciam
Era grande o desengano

No trabalho mal falou
E o companheiro sentiu
Um aperto o sufocou
Sua voz ninguém ouviu
Tava nervoso, coitado
Não se achava preparado
Pra tarefa que assumiu



Chegando em casa de volta
Da construção que fazia
A mulher viu a revolta
Pois seu olhar não mentia
E disse: Ô meu José
Onde anda a tua fé
Que é tua garantia?

Tá nervoso, acabrunhado
Porque vai se apresentá
Teu terno tá engomado
Eu já vou me arrumá
Quero vê tu recitando
Lendo um verso e comentando
Etecetera e coisa e tá

O medo se agigantava
E José não quis comer
Toda noite ele jantava
Conversava como o quê
Mas nesta noite, tadinho
Mal bebeu um bucadinho
Do chá que mandou fazê

E então todos partiram
Para a comemoração
Os colegas consentiram
Na tal apresentação
José faria a leitura
Dum cordel da criatura
Mais famosa do sertão


Na platéia a lhe sorrir
A mulher e um vizinho
Também estava ali
O servente “Seu Toninho”
Os colegas orgulhosos
Todos muito atenciosos
Para ouvir o tal versinho

Zé foi chamado e aplaudido
Mas só Deus via a aflição
Ela tava tão perdido
Quase golfa o coração
Mas mesmo assim começou
Primeiro ele explicou
Quem foi Patativa, então

Disse que foi O Poeta
Mais sagrado do nordeste
Que sempre foi sua meta
Falar do cabra da peste
E que ficou conhecido
Por ser cantado e lido
Do litoral ao agreste

Sendo assim vou recitá
Um poema conhecido
Vaca Estrela e Boi Fubá
Foi gravado e foi ouvido
Um cantô do Ceará
Em sua voz fez soá
Em tom de pranto e gemido:



I
“ Seu dotô, me dê licença
Pra minha história eu contá
Se hoje eu tou na terra estranha
E é bem triste o meu pená,
Mas já fui muito feliz
Vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bom,
Gostava de campeá
E todo dia aboiava
Na portêra do currá
È ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá

II

Eu sou fio do Nordeste,
Não nego meu naturá
Mas uma seca medonha
Me tanjeu de lá pra cá
La eu tinha meu gadinho
Não é bom nem maginá
Minha bela Vaca Estrela
E o meu lindo Boi Fubá,
Quando era de tardezinha
Eu começava a aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela,
Ô ô ô ô Boi Fubá
III
Aquela seca medonha
Fez tudo se trapaiá;
Não nasceu capim no campo
Para o gado sustentá,
O sertão esturricou
Fez os açude secá
Morreu minha Vaca Estrela
Se acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha
Nunca mais pude aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá

IV
E hoje, nas terras do Su
Longe no torrão natá
Quando vejo em minha frente
Uma boiada passá
As água corre dos óio
Começo logo a chorá
Me lembro da Vaca Estrela
Me lembro do Boi Fubá;
Com sodade do Nordeste
Da vontade de aboiá
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá”

Todos então aplaudiram
A leitura emocionada
Muitos ali nunca ouviram
O som de uma toada
Ficaram muito tocados
Alguns choraram calados
Naquela noite encantada





A professora Luzia
Disse: Que bela leitura
Pois antes eu não sabia
Da sua desenvoltura
É bom a gente entender
E ver um leitor nascer
Ensinando outra cultura

Vejo que muito de vós
Se desencantam ao ler
Mas cabe sempre a nós
Procurar lhes conhecer
Pois é preciso criar
Formas de estimular
E o neoleitor envolver

Com um poema matuto
Zé mostrou que sabe ler
Ler a vida, ler o mundo
Ler um texto e escrever
Se reconhecer sujeito
Ler e ficar satisfeito
Por tudo ali entender

Escolhendo a leitura
Pelo autor e pelo tema
Mostrou de forma segura
Que aprecia um poema
Que fala do que lhe toca
E emoção lhe provoca
E faz a vida amena



Eis uma boa lição
Que Zé nos deu neste dia
Sua apresentação
Causa gosto e alegria
Estimula a prosseguir
A sonhar e evoluir
Com muita fé e magia

Zé, então, agradeceu
A condição de aprendiz
E tirou do bolso seu
Um pedacinho de giz
E disse: Quero escrevê
Para meus colega lê
O que meu coração diz

Do quadro se aproximou
E rabiscou devagar
A professora notou
Que ele estava a chorar
Uma frase desenhou
Dizendo: “Eu nada sou
Sem Helena a me amar”

Uma colega foi lendo
O que José escrevia
Helena se comovendo
Falar já não conseguia
Toninho, o companheiro
Decidiu-se bem ligeiro
Que também aprenderia



Falou para os presentes:
Eu farei como José
Estamos todos contentes
Vejo agora que da pé
Vou também aprender ler
Contar, falar, escrever
E amar minha mulher

Foi muito contagiante
O momento da leitura
A partir daquele instante
Surgia nova postura
Ficando ali declarado
Brasil Alfabetizado?
Pra todos literatura!

E assim se deu então
A história de Zé Leitor
Não foi contada em vão
Aqui fala o narrador
O nosso objetivo
É dizer que sem ter livro
Não vale o que se plantou

E livro de toda cor
Livro que fale de tudo
Não só livro de doutor
Nem só livro de estudo
Livro para relaxar
Para rir, para chorar
Para cego e para mudo



Que venha livro a mão-cheia
Que venha livro de esquema
Livros fartos para a ceia
Livro de reza e poema
Livro de gente modesta
De guerra, luto e festa
De romance e de cinema

Livro para estimular
A quem aprendeu a ler
Livro para conquistar
Quem não sabia escrever
Livro para abrir a mente
Que deixe a gente contente
E que se faça entender

Que ninguém deixe de ler
Porque não pode comprar
Que o povo possa viver
Literalmente a amar
A nossa literatura
Que representa a cultura
De todo canto que há

Assim então nós teremos
Um Brasil maravilhado
Pois todos nos já sabemos
Como se deu no passado
Poucos nesta terra liam
E quanto menos sabiam
Mas fácil eram enganados



Hoje com a educação
Para jovem e adulto
Não basta terem na mão
Um livro de grande vulto
É preciso estimular
O prazer de estudar
A partir do seu reduto

Aos poucos se vai sabendo
Que somos um universo
Quando se vai conhecendo
O valor que tem um verso
Pois na terra de José
Só se bota no papé
Aquilo em que tá imerso

Literatura em geral
Deve se patrocinar
Desde a cultura oral
Á mais moderna que há
Um blog de poesia
Pra se ler com alegria
Quando já se chegou lá

Por fim, que o Zé Leitor
Possa servir de esperança
E que cada professor
Equilibre na balança
Um pouco de seu saber
E do que pode aprender
Com velho, moço e criança



Que a escola do mundo
Mostre o seu conteúdo
Pois o saber mais profundo
Não se extrai só dum canudo
Que a leitura da vida
Possa ser a preferida
Tal qual num cinema mudo

Zé Leitor é ficção
Mas há na realidade
Abrindo o coração
Se vê José de verdade
Querendo ler um cordel
Ou rabiscando um papel
No campo ou na cidade

É só abrir a janela
E ver a realidade
Nem toda historia é novela
Nem todo choro é saudade
Nem todo texto se vende
Nem toda obra se entende
Nem todo velho é de idade

Nem todo Leitor é Zé
Nem toda obra é de arte
Nem todo pé tem chulé
Nem toda pausa é enfarte
Nem sempre o tempo é perdido
Nem todo escritor é lido
Nem tudo que trinca, parte



Nem sempre a educação
Corrigiu desigualdade
Nem toda proposição
Contempla a diversidade
Nem todo alfabetizado
Lê um texto emocionado
Com amor e sinceridade

Aqui fica o meu recado
Eu que adoro cordel
Se ficou interessado
Por este simples papel
Me manda uma carta, entao
Pois ninguém escreve em vão
Quando o limite é o céu!

ASSÉDIO MORAL: Diga Não!

Você, meu leitor amigo
Que admira o cordel
E o leva sempre consigo
Como importante papel
Sabe que o verso é capaz
De espalhar muito mais
Que tese de bacharel

Às vezes sua leitura
Causa debate e ação
Pois vem da nossa cultura
Folclore e inspiração
Mas pode estar estribado
Em estudo aprofundado
Como nesta ocasião

Eu falarei d’um assunto
Que está muito em voga
Às vezes eu me pergunto
Se não é mais uma droga
O tal assédio moral
Esta mazela, este mal
Que com nossa vida joga

Um tema mui palpitante
Que merece atenção
Vou dizer nesse instante
A sua evolução
Já vem sendo pesquisado
Bastantemente falado
Por toda esta nação

Ouve-se em seminários
Em congressos e jornadas
Em revistas, em diários
Em palestras programadas
Em rádio e televisão
Do litoral ao sertão
Merece grande chamada

Dizem: ‘assédio moral’
É o tratamento aviltante
Que terá como um sinal
Fala desqualificante
Por parte de quem domina
De quem age e determina
Relações já conflitantes

Pode se dá na família
Ou no grupo social
Porém é grande a vigília
No espectro laboral
Onde o risco é perigoso
E o dano insidioso
Falemos dele, afinal

Trata-se de humilhação
Que sofre o trabalhador
Vexatória exposição
Perseguição e terror
Ação grosseira e insana
Fere a condição humana
Dignidade e valor

Porém para discorrer
Sobre esta grave questão
Tivemos que recorrer
A uma dissertação
De Margarida Barreto
Que inspira este folheto
Propondo reflexão

Mestre em psicologia
Médica por formação
Fala em patologia
Fruto da humilhação
Do mundo globalizado
Em tempos neo-liberados
Nova forma de opressão

De leitura obrigatória
A obra dela se torna
Pela forma meritória
Com que bate na bigorna
Malhando o ferro-terror
Das relações de horror
Que a nova era contorna

Estudando o tal assédio
(Ou violência moral)
Ela o fez por intermédio
De situação real
Demonstrou como se dá
E também como enfrentar
Logo ao primeiro sinal

Convidada Margarida
Viajou pelo Brasil
Sempre mui bem recebida
Palestras já proferiu
Militante, abnegada
Comprometida, engajada
Sua pesquisa expandiu

Falou em risco invisível
Este perigo oculto
Do terror indescritível
Que anda ganhando vulto
Terrorismo no labor
Vitima trabalhador
E não merece indulto

Investigando a saúde
Do nosso trabalhador
Analisou, amiúde
A violência e a dor
Jornadas de humilhações
Novas expropriações
Seu texto nos revelou

Pioneiro neste assunto
Seu livro abre caminho
Pra quem queira chegar junto
Pois ninguém está sozinho
Na luta contra opressão
Todos têm igual razão
De depor um pedacinho

No caso particular
Da doutora Margarida
Nada mais fez do que dar
O que deu sempre na vida:
Voz e vez aos humilhados
Adoecidos, calados
De corpo e alma sofrida

Além de livro também
Auxiliou em cartilha
Aos sindicatos convém
Explorar mais esta trilha
Levando informação
Que faça mais alusão
A essa nova armadilha

Vamos, portanto, elencar
Neste modesto cordel
A fim de identificar
Neste fuleiro papel
Os danos e os agravos
Qual no tempo dos escravos
Onde o feitor era ‘incréu’

A ganância pelo lucro
E o abuso de poder
Aponta-se como fulcro
Para melhor entender
Manobras do capital
Deste mundo desigual
Que nos impõe o sofrer

Se dá por meio de chefe
Superior ou patrão
Que aje qual magarefe
Grosseiro, bruto e durão
Incompetente e tirano
Se julgando soberano
Dono de toda razão

Grave estresse gerando
Rebaixamento e vergonha
Degradação espalhando
Ultraje e muita peçonha
Deixando o trabalhador
Abalado e sem valor
Numa depressão medonha

Como se já não bastasse
O mal da exploração
Se o capital não roubasse
Sonho, desejo, ilusão
O medo do desemprego
De ficar sem um arrego
Causa grave anulação

Julgando-se impotente
Com o sono alterado
Se achando incompetente
Sem afeto e desgraçado
Perdendo peso ou ganhando
Tristonho, tenso, chorando
Silente, mudo, isolado

São alguns males causados
Pelas tais humilhações
Já há casos registrados
De drogas e depressões
Um quadro muito pesado
Que urge ser contemplado
Com vistas a soluções

A tirania no trabalho
Visa a auto-demissão
Eis o mais novo atalho
A mais nova ‘operação’
Que o capital encontrou
Descarta o trabalhador
Sem lhe pagar um tostão

Tanto à área de saúde
Como às autoridades
Compete a que se estude
Com maior celeridade
Um meio de coibir
Bem como até de punir
Tamanhas barbaridades

A mencionada doutora
Orienta: não se entregue
A luta é promissora
Busque apoio, não se negue
Conte com as amizades
Ante as adversidades
Diga tudo, não sonegue

Anote as ocorrências
Os dias, as testemunhas
O lugar, as evidências
Os termos e as alcunhas
Desabafe na família
Não queira ser uma ilha
Não fique a roer unhas

Ao médico diga o que sente
Leve o caso ao sindicato
Muitas vezes o doente
Precisa deste contato
Não se culpe, nem se irrite
Gritar com os filhos, evite
Conte ao seu amor o fato

Já existem no país
Em algumas regiões
Várias ações civis
Cobrando reparações
São formas de se lutar
Novas demandas criar
Contra abusos de patrões

O campo Legislativo
Bem como Judiciário
Também o Executivo
Devem entrar no cenário
É um fato social
Questão emergencial
Tema de trato diário

Tanto a luta sindical
(Como o campo do Direito)
Pode apontar um sinal
Propondo norma ou preceito
Tentando, então, reagir
Ensinando a resistir
Enquanto ainda tem jeito

Buscando se auxiliar
‘Do pessoal da saúde’
Tentando estimular
Para que o quadro mude
Lutando pelo direito
Do qual o ser é sujeito
Propondo nova atitude

Em nome do bem-estar
Da paz, da felicidade
Da honra de trabalhar
Mantendo a dignidade
Em nome do ser humano
Da luta que ano a ano
Chama-se fraternidade

Mas em nome, sobretudo
Da igualdade de fato
Contra o esquema sisudo
Desumano e ingrato
Em busca d’outro sistema
Onde labor e poema
Se encontrem no mesmo ato

Dizer não a este assédio
É dever imperativo
Buscar o melhor remédio
Num movimento ativo
Denunciar, reagir
Mobilizar, construir
Enquanto se está vivo.