Cordelirando...

sábado, 14 de agosto de 2010

VISÃO DO "STF" SOBRE A LEI FICHA LIMPA




Um grupo de três mulheres
(Samira, Tonha e Francisca)
Metendo suas colheres
Nossa Justiça belisca
Num debate educativo
Em tom interpretativo
Jurisprudência rabisca

Samira é professora
De direito eleitoral
Tonha é agricultora
E Francisca vende jornal
No Teatro Cordelírio
Onde folheto é colírio
Pra lente multifocal

É um trio de brasileiras
Que vive honestamente
Pois seu suor paga a feira
Que fazem quinzenalmente
Além de imposto demais
Pagam luz, saúde e gás
Água, escola e absorvente

Por isso o seu interesse
Na política do país
Que num dia como esse
Pode estar por um triz
Se o povo não se envolver
Não lutar, não resolver
Da questão, o velho X

Assim começa a história
- da conversa feminina -
Na casa de Olga Vitória
Tetraneta de Ursulina
Onde a decisão final
Vai circular no jornal
Ficha Limpa da Esquina

Samira então é chamada
Por suas grandes amigas
Para matar a xarada
E resolver uma intriga
Elas querem entender
Pra depois dar parecer
Sobre essa questão antiga

Para melhor entender
O caminhar da conversa
Em vez do nome dizer
A inicial é imersa
E ao longo de toda fala
Uma letrinha intercala
A opinião expressa:

T:
Cumade tu que entende
Das lei de nosso país
De tudo tu compreende
E cunhece na raiz
Exprique, por caridade
Cum toda sinceridade
O que o Ficha Limpa diz

F:
Nós desejamos saber
O que no rádio tá dando
É tanto teretetê
Na tevê tão comentando:
Ficha limpa, ficha suja
E nós com medo que surja
Um deles nos enganando

T:
Já preguntei para Joana
Zefa, Socorro e João
Gulora, Tica e Ana
Dedé e Sebastião
Eles também quer saber
Purisso peço a você
Resolva esta confusão

F:
Diga a nós de modo claro
Sem muito floreamento
Nem palavreado raro
Carregado de acento
Fale como num cordel
Tire de pressa esse véu
Faça um esclarecimento

S:
Vejam bem, nobres comadres
Não há nada complicado
Pra muitas autoridades
Isto é fato consumado
Pois a Lei Complementar
Veio pra moralizar
Protegendo o eleitorado

S:
Trata-se de um projeto
Que o povo mesmo criou
Um movimento correto
Que no Brasil se espalhou
Contra a corrupção
Que em toda eleição
A melhor sempre levou

S:
Por isto os cidadãos
Que honram nosso país
Pelas suas próprias mãos
Rascunharam a matriz
Desta lei tão importante
Que de agora em diante
Faz de nós todos juiz

S:
Foram um milhão e meio
Ou mais, de assinaturas
Pois a lei nasceu do seio
De quem estava à altura
De propor transformação
Pra esta grande nação
Pra deixá-la mais segura

T:
Apois então na verdade
O sentido dessa lei
Num vem duma faculdade
Nem dos código q'eu não sei
Vem da vontade das ruas
Da minha, dela e da tua
Conforme imaginei...

F:
É isso mesmo Toinha
Não é só doutor quem sabe
Tu não come com farinha
Discurso de autoridade
Inda mais nos nossos dias
Onde a democracia
Não tolera iniquidade

T:
Eu bem que desconfiei
Pois qual era o deputado
Que criaria uma lei
Para ele ser julgado?
E o povo ficar sabendo
O que eles andam fazendo
Com o voto dos desgraçado

F:
Mas deixe ela dizer
Um pouco mais para nós
Vamos nos esclarecer
Pra poder falar após
Quero ficar inteirada
Completamente informada
Para soltar minha voz

S:
Por esta lei o político
Vai ter que andar na linha
Sem usar de artificio
Como antes lhe convinha
Só pensando em se dar bem
Sem se importar com ninguém
Fazendo sua boquinha

F:
E agora o trapaceiro
Venal e espertalhão
Que se apossou do dinheiro
Do povo desta nação
Formando sua quadrilha
Nas eleições já não brilha
E nem merece perdão?

S:
Pois se já foi condenado
Por um grupo de juízes
Que declarou comprovado
Crimes de todos matizes
Contra a Constituição
Como poderá, então
Querer esconder deslizes?

S:
Se pela administração
Pública, não tem respeito
Se em cada eleição
Costuma fazer mal feito
Se praticou o racismo
Patrocinou escravismo
Como pode ser eleito?

S:
E se cometeu tortura
Sozinho ou em quadrilha
Se abusou da estrutura
Para si ou para a filha
Se droga financiou
Ou com ela se juntou
Na res pública não trilha

S:
Se não tem a Ficha Limpa
Por que daremos poder?
Se o eleitor garimpa
Quem poderá merecer
Seu voto de confiança
E também sua esperança
Pra ver o Brasil crescer

S:
Ter Ficha Limpa é preciso
Para se candidatar
É o primeiro aviso
Para a história mudar
Pois um país que se preza
Não dá poder a quem lesa
A Lei Maior do lugar

S:
Eis, então, minha comadre
O ''espírito da lei''
Aquele que nos invade
E faz do pobre um rei
Pois sua dignidade
É a principal qualidade
Que em sua ficha (a)notei

T:
Vixe Maria e é isto
Que o tal Ficha Limpa quer?
Que a gente passe um visto
E também meta a cuié?
Pra num tê mais um ladrão
No poder desta nação
Seja ele homi ou muié?

T:
Apois eu tô intendeno
Tudim que tu ixplicô
E parece q'eu tô vendo
A cara de meu avô
Quando dizia assim:
Cambada de gente ruim
Meu voto a vocês num dô!

S:
Exatamente, querida
É disto que estou falando
Quando a ficha é conhecida
Bandido não tem comando
Evita-se mensalão
E se faz a prevenção
Que abrevia o desmando

T:
Agora tem um pobrema
Que você num comentô
No meio dessa novena
Quem carrega o andô?
Pru quê nois vimo falá
Que já tem juiz que dá
Direito aos chei de cocô

T:
Pois mesmo sendo a lei boa
E vindo para arrumá
Tirá lama da lagoa
E o chêro de gambá
Eu tô vendo uns errado
Mesmo sendo condenado
Pedino pra nóis votá

T:
Dizem que tem uns juiz
Mais maió do que o zôto
Que deixa os disinfiliz
Darem pra lei um cotôco
Mangando da lei alvinha
Que depois de manchadinha
Nem mesmo sabão de côco!

F:
Mas antes que tu responda
Eu começo a matutar
Sinto que essa lei já ronda
Pras bandas do Ceará
Aqui já tem um magote
Que antes passava trote
Querendo nos enganar

T:
Mei mundo de sujismundo
Emporcalhava o poder
Dava uns golpe tão profundo
Fazeno o povo perdê
Mas com fé no Padim Ciço
Os que não tem compromisso
Nunca mais vão se elegê

T:
Bom mesmo era se tudim
Num pente fino passasse
Os que pegaram um jatim
E foram sem nem disfarse
Passear pelas Oropa
Comprando pano de copa
Pra sogra, muié e crasse

F:
E os que encheram cuecas
Com dinheiro de montão?
Ou que pegaram molecas
Para prostituição?
Estes aí tão limpados?
Bonitos, engravatados
No vigor da eleição?

S:
Calma, calma minha gente
A coisa já tá mudando
A vitória do presente
Há muito vem se formando
Foi dado o primeiro passo
Compremos régua e compasso
E vamos tudo traçando

S:
Como eu disse, esta norma
Nasceu no meio do povo
Pouco a pouco ela forma
Uma visão para o novo
Muda o olhar do jurista
E nos faz crer na conquista
Tal qual o pinto no ovo

S:
Cada um de nós podemos
Dar a contribuição
Somos nós quem elegemos
Temos o poder nas mãos
Expurguemos fichas sujas
Sanguessugas e corujas
Predadores da nação

F:
É isso mesmo colega
To com você e não abro
É o povo quem delega
O poder ao deputado
Senador e presidente
E o Governador da gente
Tem que ser limpo e honrado

S:
E se assim a gente quer
Então juntos nós podemos
Que a Justiça dê fé
E todos nós celebremos
O futuro desta terra
Pode ser feito sem guerra
Contanto que opinemos


S, T, F:

O nosso S. T. F.
Formado por cidadãs
Que não conhece benesses
Nem teoria alemã
Entende que pro Brasil
O Ficha Limpa surgiu
Pra esperança não ser vã!




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* *

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Créditos da Imagem: Google Imagem com adaptação

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

JUSFEMINA, sin frontera


Nosotras, las abogadas
De lenguas neo-latinas
Tenemos otra mirada
Que nos gusta y fascina
Queremos subvertir
Cuestionar, reconstruir
La calle y la oficina

Creemos que el derecho
Como todo su sexismo
De la cultura es hecho
Y desde el Feminismo
Lo podemos cambiar
Deconstruir, transformar
Más allá del garantismo

Entonces por las Américas
Desde el norte hacia el sur
com la fuerza atmosférica
De México hasta Perú
Panamá, Chile, Uruguay
Brasil, Cuba y Paraguay
Somos ellas: yo y tu

Venezuela al igual
Surinam y las Guayanas
Bolívia y Jamaica !wow!
Llamen las colombianas
Nicaragua y Honduras
Haiti también son duras
Como las dominicanas

De las Bahamas queremos
El Salvador y Granada
Argentinas invitemos
Guatemala, muy amada
Costa Rica, por supuesto
El Derecho no es puesto
Lo hacemos em la jornada

De la Antigua Barbuda
Barbados, Belice, claro
Las pedimos vuestra ayuda
San Cristoban y Tobago
Todas ellas, sin fronteras
Abogadas, guerrilleras
Es posible otro juzgado

Que vengan de Canadá
De los Estados Unidos
Vamos todas empezar
A mudar el definido
Abogamos otro mundo
De respecto muy profundo
Y cariño compartido

Por eso como propuesta
Quisiéramos incitarlas
A construir la respuesta
Y también a preguntarlas
? Es posible otro Derecho?
?El Feministo tiene hecho
Todo para cambiarlas?

Habeas bocas, compañeras
No es broma, es política
El Derecho es trinchera
Vamos a hacer la crítica
Pero hay que proponer
Para el cuerpo, el placer!
Nunca más seamos victimas!

Seamos protagonistas
De los cambios importantes
Si tu pienas estar lista
Para seguir adelante
Jus Femina, no hay frontera
Esta es nuestra bandera
Y vamos todas: avante!

sábado, 7 de agosto de 2010

DIA DOS PAIS

Meu pai por ser um pedreiro,
Dele muito me orgulho
Sempre foi muito guerreiro
Homem de muito barulho
Seja mexendo o cimento
Seja curando o tormento
Ele desata o embrulho

Sempre foi desenrolado
Atento, astuto, sabido
É homem pouco letrado
Porém muito esclarecido
Por isso nesse cordel
Reconheço seu papel
De pai teimoso e querido

Nascido em 44
No nordeste brasileiro
Um cearense de fato
Um matuto, um roceiro
Arribou de Várzea Alegre
Jovem, à sorte entregue
Foi se arranchar no Granjeiro

Chegou pela Cana-Brava
Trabalhou, foi serviçal
Arroz, feijão apanhava
Cuidou também de animal
Era um rapaz arrojado
Nunca foi acomodado
Era este um bom sinal

Viveu nas casas alheias
Longe do seu “habitat”
Ia acanhado pra ceia
Era comum se deitar
Em qualquer canto do chão
Porque não tinha um tostão
Pra uma rede comprar

Porém como desejasse
Melhorar a sua vida
E muito se interessasse
Em sair daquela lida
Resolveu então partir
Pra muito longe dali
Onde lhe dessem guarida

Sonhava em ir para o sul
E arranjar um emprego
Mirava o céu azul
Como quem quer um brinquedo
Mas um dia decidiu
Da Cana-Brava partiu
Foi enfrentar o seu medo

Nesse tempo já gostava
De quem hoje é minha mãe
Que ficou na Cana-Brava
Numa angústia sem “tamãe”
Foi lá pros anos 60
Que segundo ele comenta
“Havia progresso e gãe”

Fugindo do desemprego
No tal êxodo rural
Meu pai foi pedir arrêgo
Na maior das capital
E se vendo sem dinheiro
De lavrador a pedreiro
Subiu na vida, afinal

O ofício era pesado
Mas tinha de trabalhar
Ficava admirado
Com tantos prédios no ar:
“São Paulo é feito das mão
Dos nordestinos irmão
Que não param de chegar"

Depois dum tempo in Sampa
- tijolo, massa, cimento-
Viu um bem-te-vi que canta:
“na cacunda d'um jumento”
Era um quadro na parede
"No lugar de botar rede
Eles botam é monumento"

Quando juntou uns tostão
Veio para o Ceará
Somente pedir a mão
Desta que ficou por cá
Em poucos dias casou
E a esposa levou
Pra no sul dele cuidar

Cada ano que passava
Um filho via nascer
Em São Paulo um brotava
No Ceará, outro ser
Ao todo tiveram seis
Sou a segunda da vez
Cá estou para escrever

Por três décadas seguidas
Meu pai ia e voltava
Pontilhava nossas vidas
Ou cá, ou lá ele estava
Edificando a cidade
E perdendo a mocidade
Enquanto a gente estudava

Tijolo sobre tijolo
Ferro, massa, telha e cal
Aniversário sem bolo
São João, finados, Natal
Onde era mato, um produto
Igreja, escola, viaduto
Shopping, motel e canal

Seguia a vida querendo
Não fracassar, nem sofrer
Algumas noites bebendo
Outras no frio, a tremer
Muitas agruras passou
Até que o álcool deixou
E nunca mais quis beber

Fez muita casa aonde
A vida parece bela
E o arranha-céu esconde
Os barracos da favela
Deixou em cada azulejo
Tatuado um desejo
Que fosse aquilo novela

Viu o progresso de perto
E a miséria do lado
Falava de peito aberto
Com seu sotaque arrastado
“Eta sul fí d’uma égua
Um dia dou uma trégua
Vendo meus filho formado”

Enfim comprou uma terra
Nem míni nem latifúndio
Teve que entrar noutra guerra
Fazendo um corte profundo
Depois duma cirurgia,
Mudou o seu dia-a-dia
E retornou pro seu mundo

Voltou a viver no mato
Conforme sempre gostou
Mas não perdeu o contato
Com o mundo exterior
Agora rega o estrume
Contempla o vaga-lume
Colhe laranja e fulô

Deixou o prumo e a linha
Pegou enxada e pá
Tem lá a sua casinha
E terra pra cultivar
Merece a minha homenagem
Porém não tenho coragem
Desse verso recitar

Hoje é homem da lida
Do trabalho no roçado
Retornou à velha vida
Mesmo estando cansado
Pois para se aposentar
Teve ele que provar
Que nunca ficou parado

Mesmo assim ele é feliz
Porque no mato nasceu
Voltou a sua raiz
(o pedreiro não morreu)
Ressurge o agricultor
Com quem mamãe se casou
E deu origem a eu

Terminando esse poema
É preciso relembrar
Que o pedreiro foi tema
Pra um poeta exemplar
O grande Chico Buarque
Traduziu na sua arte
O seu valor singular

Com os olhos embebidos
Entre lágrima e cimento
Mas quase nunca esquecidos
Dessa vida de tormento
Subindo o patamar
Ou na roça a plantar
Reconheço seu talento

Operário em construção
Autoridade paterna
Homem de convicção
De atitude fraterna
Meu pai, um grande herói
A sua história constrói
A idéia que nos governa!

O CORDELIRANDO PARABENIZA A TODOS OS PAIS PELO SEU DIA!