Cordelirando...

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Já que a Encrenqueira sou EU...

 

Fonte: Imagem Publica retirada do Google Imagens


Na história da Humanidade
Seja qual for o lugar
Há muita perversidade
Contra quem ousa lutar
A favor de seus direitos
Ou contra os preconceitos
Que servem pra segregar
 
Há registros abundantes
Sobre as perseguições
Praticadas por gigantes
Dirigentes e patrões
Coronéis e capatazes
Opressores contumazes
Dos que romperam grilhões
 
Nos compêndios de História
Já é possível encontrar
Fatos, dados e memórias
Que nos fazem relembrar
De tempos abomináveis
Agora reeditáveis
Por quem gostar de mandar
 
É possível perceber
Como eram alcunhados
Tal como hoje se vê
Seres culpabilizados
Que além das injustiças
São chamados de carniças
Por sujeitos potentados
 
Muitos grupos sociais
Que combatem privilégios
São tidos por marginais
Pelos dignos e egrégios
Que os chamam baderneiros
Vândalos e confuseiros
Dentre outros impropérios
 
E no caso das mulheres
Que insistem em lutar
E metem suas colheres
Ousando se rebelar
Contra grupos incrustados
Dentro e fora do Estado
Todo mundo quer xingar

Já foram ditas histéricas
Loucas e desnaturadas
Denominadas coléricas
Bruxas e descompensadas
Chatas e inconvenientes
Impuras ou indecentes
Por não ficarem caladas
 
Assim o patriarcado
Com sua misoginia
Mandava o seu recado
Escrito à luz do dia
Repudiando condutas
De maneira absoluta
Para conter rebeldia
 
Seja através da ciência
Política ou religião
Sempre havia a prepotência
Do prescritor de plantão
Que se achava no direito
De etiquetar o “defeito”
Da fêmea que disse não
 
Também na literatura
Artes ou jurisprudência
Toda mulher “sem candura
Decoro ou obediência”
Passava a ser apontada
Julgada e demonizada
Conforme a ocorrência
 
E assim ao longo das eras
Era comum se encontrar
Mulheres ditas megeras
“Por não saber se portar”
Diante das injustiças
Ou das antigas premissas
Que as obrigava calar
 
Mas onde há violência
Há resistência também
E assim nasce a insurgência
De quem já não diz amém
Para discriminação
Privilégio ou opressão
Seja de um ou de cem
 
Eis então que os feminismos
Emergem por toda parte
E denunciam machismos
Racismos e disparates
De classe e/ou profissão
Família e religião
Dogmas ou estandartes
 
Seja no meio da rua
Na escola ou parlamento
A gente senta a pua
E gera empoderamento
Apesar das divergências
Compartilhamos a crença
Em um mundo sem tormento
 
E muito já conquistamos
Graças às nossas batalhas
Também derrotas contamos
Por causa de alguns canalhas
Que defendem retrocessos
Dentro e fora de um Congresso
Que tanto nos atrapalha
 
Assim como presidentes
Que são machistas também
E discursam veementes
Para o mal ou para o bem
Mantendo o androcentrismo
Assim como o populismo
Que vence quando convém
 
Mas o pior disso tudo
Para quem é feminista
É ver um peixe graúdo
De facção marxista
Alcunhar de encrenqueira
De forma rude e grosseira
Outra mulher ativista
 
Ativista e docente
Que luta em prol de direitos
Que jamais fica silente
Ante assédio ou malfeitos
De direita ou de esquerda
Que geram danos e perdas
E ainda exigem respeito
 
Isto aconteceu comigo
Em razão do meu trabalho
E não era “fogo-amigo”
E muito menos “ato falho”
Partiu de uma autoridade
Que goza da amizade
De gente pra quem não valho
 
E o fato se sucedeu
De forma institucional
E muito me ofendeu
Mas passou como normal
Afinal, quem se opõe?
Se o cargo se sobrepõe
Àquela que é marginal?
 
E partiu de uma mulher
Que ocupa o poder
Revelando um malmequer
Que nem tentou esconder
Mas ofendeu minha honra
Causando-me a desonra
Que não dá pra descrever
 
Busquei saber a razão
E nem resposta me veio
Comuniquei a questão
A autoridade do meio
Que apenas lamentou
E de assunto mudou
Seguindo outro correio
 
Nada de sororidade
Ou mesmo indignação
Pois há seletividade
Neste tipo de ação
Já que notas de repúdio
Dependem de um prelúdio
Chamado de lacração
 
Ademais não tenho ficha
No partido da galera
E tampouco sou cupicha
De quem ainda tolera
Falta de democracia
Privilégio e mordomia
Quando o contrário se espera
 
Por isso que uma feminista
Que fala com independência
E não faz parte da lista
Dos que batem continência
Pra deputado ou reitor
Guru ou governador
“Não merece a deferência”
 
Pois nem desculpa pediram
Nem houve retratação
E com silêncio agiram
Ante a solicitação
De um esclarecimento
Já que no dito momento
Chorei de indignação
 
Eis uma amostra “pequena”
De tantas perseguições
Um ato, uma breve cena
Do que se dá nos porões
De nossa Universidade
Cujo combo de maldades
Dar-lhes-ei outras versões
 
Quem sabe a gente esteja
Vivendo uma reedição
De umas antigas pelejas
Que a história faz menção
Onde mulheres ousadas
Fortes e “malcomportadas”
Sofriam  muita pressão?
 
Como tragédia ou farsa?
Como disse o pensador...
Já que a turma nem disfarça
Ao nos impingir a dor
Feminismo autoritário?
Esquerdismo salafrário?
Ou simplesmente o horror?
 
Minha luta é na fronteira
Contra o bolsonarismo
Que chama de baderneira
Ciência com vanguardismo
Mas também é intestina
Contra essa toxina
Que paga de feminismo
 
Não podemos nos calar
Onde houver opressão
Não importa o lugar
Sujeito ou tradição
Se visam nos excluir
Demonizar ou ferir
Não vai haver união
 
Teoria é pra testar
E ver se presta ou não
E não se pode aceitar
Nenhuma segregação
Sobretudo no Estado
Cujo poder não é dado
Mas conquistado em ação
 
Discurso de igualdade
Com prática de exclusão?
Isso é iniquidade
E exige reação
Mesmo que a autoridade
Crave a sua verdade
Com carimbo e impressão
 
Barraqueira ou resistente?
Ou recatada e do lar?
Quem define é a sua lente?
Fale quem quiser falar
Fica um recado então:
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar!
 
Que me xinguem de demente
Conforme sei que ocorreu
Que me pintem de indecente
Distorcendo o que se deu
Que se juntem contra mim
Vou lutar até o fim...
Já que a encrenqueira sou eu!
 
Salvador, 11/01/2022
Salete Maria